quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Sai da tua Terra

Génesis 12:1-3
O livro de Génesis ocupa-se, na sua maior parte, com a história de sete homens:
Abel
Enoc
Noé
Abraão
Isaac
Jacob
José.

Estou convencido que o autor deste magnífico livro da Bíblia: Moisés. Teve em mente o traço que ligava a vida destes 7 homens.

Dou alguns exemplos:
1.      Abel apresenta a grande verdade da aproximação de Deus por meio da expiação – expiação de fé -.
2.      A vida de Enoque é representada como o homem de Deus, numa atitude sincera e amorosa de se ligar à grande família celestial.
3.      Enquanto o Noé, é apresentado como o homem que tem a visão e a fé de quem caminha para uma terra restaurada.
4.      Abraão o homem que responde ao chamado de Deus.
5.      Isaque o homem contemplativo, o filho que exprime o amor filial submisso. O homem sensível e obediente.
6.      Jacob o encontro com Deus transforma-o progressivamente.
7.      José, o fiel.

Voltando à nossa passagem inicial: Génesis 12:1-3.
I-                   Sai da tua Terra!
“Sai da tua terra, e da tua parentela e da casa do teu pai, para a terra que eu te mostrarei.”
Esta foi a comunicação, a ordem de Deus a Abraão.
É uma ordem que vai cair sobre Abrão e que o atinge em todos os aspectos da vida: social, familiar, económico e espiritual. Corte com todo o passado.
Em Atos 7:2-4. Encontramos alguns pormenores que nos ajudarão a compreender a reacção deste homem.
Em Génesis 11:31 (ler)
Lendo todas estas passagens concluímos que os laços de natureza familiar impediram a Abrão uma resposta plena, total a Deus.
Foi chamado por Deus para Canaã, mas sai de Hur e demora-se em Harã. Hur e Harã situavam-se perto dos dois rios Tigres e Eufrates na Mesopotâmia.
Abrão vivia em Hur, mas o seu pai vivia em Harã. E aqui fica até que o seu pai morra. Os laços de natureza familiar estavam muito fortes. Custava-lhe deixar o seu pai. Podemos compreender os sentimentos de Abrão. O pai era demasiado idoso para o acompanhar na viagem. Custa-lhe por isso partir sem ver o pai descer ao pó da terra. Só depois com passo decidido toma o caminho para o lugar que “o Deus da glória” o tinha chamado.
Tudo isto tem um significado muito importante. As influências familiares, o ambiente em que vivemos, os bens materiais podem ser hostis à plena realização do chamado de Deus.
Somos propensos a tomar caminho mais baixo do que aquele que o chamado divino põe diante de nós. Por isso Deus insta (Isaías 55:8).
É necessária muito simplicidade e integridade de fé para permitir que os nossos pensamentos se elevem à altura que Deus se quer revelar e receber-mos as bênçãos que Deus quer que desfrutemos com Ele.
A família é importante – tudo devemos fazer para que ela entre connosco nos portais da cidade celeste. Penso na oração do apóstolo Paulo: Efésios 1:15-19.
E isto porque se não compreendemos o alto e sublime significado do chamado que nos foi feito dificilmente, poderemos “andar como é digno”.
Precisamos constantemente ter os nosso olhos “iluminados do entendimento para que saibais qual seja a esperança da sua vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos.” (v.18)
Abrão foi chamado para ir a um lugar determinado. Devemos saber para onde somos chamados, antes de poder ir para lá.
Talvez Abraão não tenha compreendido bem o destino do chamado (Canaã), talvez tenha pensado em Harã.

É assim conosco. Necessitamos dia após dia procurar ouvir a voz de Deus para que ele nos indique o caminho, Ele tem a direcção certe e o roteiro. Se deixamos de olhar para Ele (Heb. 11:1,2), corremos o risco do desvio, perder a direcção e o destino.
Filipenses 3:14, faz-nos pensar no jovem violinista que se apresento o seu primeiro recital. O auditório estava à cunha. Cada número era aplaudido freneticamente. A multidão delirava. O jovem músico agradeceu os aplausos, mas não deu demonstração de sentir-se lisonjeado. Quase todo o tempo tinha os olhos fitos na galeria.
Quando o som dos derradeiros acordes morreram, um ancião na galeria fez com a cabeça um sinal de aprovação. Imediatamente, o jovem mostrou-se satisfeito, e a sua fisionomia iluminada de felicidade. Os aplausos da multidão pouco lhe importavam, enquanto não tivesse recebido a aprovação do seu mestre.
Os olhos do cristão devem estar fitos em Cristo. A Sua pureza, a Sua santidade, a Sua perfeição, unicamente, podem ser nosso alvo. Logo que algum outro ser se torne nosso exemplo, nosso herói na fé, ficamos sujeitos à decepção. Conheci um homem a quem  eu tinha em alta estima. Era homem, cuja simples aparência impunha respeito e admiração. Quem suporia que o maligno tivesse semeado joio em seu coração? Quando ele caiu – pois foi o que aconteceu – muitos ficaram enfraquecidos na fé.

Ser guiado pelo Espírito Santo à compreensão da verdade que somos chamados a caminhar para o nosso lar, para a nossa porção, que a nossa esperança e herança são de cima, “onde Cristo está à dextra de Deus.”
Se alguma coisa se interpõe a visão é turbada. Se perdemos o contato com a voz de Deus, a religião torna-se um conjunto de dogmas, uma teoria ineficaz, uma esperança que não passa de uma especulação tosca.
Então é bem normal que nos fixemos em Harã, que representa a estabilidade, um nome, uma posição, um futuro bem seguro e estável.
Abrão não fora chamado para Harã, mas para Canaã. E esta era uma verdade divina, prática e poderosa.
Foi chamado para Canaã e Deus não podia aprovar a sua demora em qualquer outro lugar.
Foi assim com Abraão e assim é connosco! Muitos dizem “não preciso ir à igreja para adorar a Jesus. Posso no conforto do meu lar ver uma pregação pela TV Novo Tempo ou outra. Abrão, pensou estou com Deus, é uma boa acção, estou com o meu velho pai. Mas não era lá o encontro.
Atos 2:41,42,44; Apoc. 14:12.
Se quisermos ter a aprovação divina, e a Sua presença, devemos procurar, pela fé, agir segundo o chamado divino.
Quer dizer devemos procurar atingir em experiência, na prática, no carácter moral, o ponto para o qual Deus nos chamou, e esse ponto é a plena comunhão com o Seu Filho.

A comunhão com Jesus pode passar por sermos rejeitados por amigos, família. Certos no Espírito da aprovação do céu.
No caso de Abraão foi a morte – do pai – que quebrou os laços que o prendiam a Harã. É também, frequentemente, através do sofrimento, e às vezes de pessoas queridas, da perda de coisas que considerávamos muito importantes que se quebram laços que nos prendem ao mundo e impedem caminhar determinados para Canaã.

II-                O Chamado que separa.
Ao olhar para a Cruz e ouvir a voz de Deus que nos perdoa, nos ama, nos atrai e nos dá paz. É ela – a cruz - que rompe os laços que nos mantém cativos. Nos separa do mundo. Nos leva a sair do arraial onde Satanás reina e escraviza os homens com vícios, a imoralidades, à violência e à intolerância.
E une, faz-nos cidadãos do céu, faz-nos testemunhas pacientes e humildes da graça eterna, preciosa e insondável de Cristo.
Estes dois aspectos: separar e unir, devem ser bem compreendidos por nós. Não se deve pretender gozar de um, enquanto não se recusar o outro.
Por isso o apóstolo Paulo declarou: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo.” Gálatas 6:14
Voltemos a Abraão. Não sabemos quanto tempo se demorou em Harã; todavia Deus esperou graciosamente pelo seu servo, até que livre do obstáculo dos laços carnais, ou familiares, pôde enfim, obedecer absolutamente à ordem divina.
Deus ama Abraão, mas enquanto ele permanece no lugar, na situação da qual Deus o tinha chamado para sair:
. Abraão não recebe nova luz. Não recebe chamado.
. Deus chama mas respeita a decisão individual
. devemos agir segundo a luz comunicada, e então Deus dará mais lua: “Àquele que tem, se dará.” (Mat. 13:12). Este é o princípio de Deus.
Deus não arrasta ninguém ao longo do caminho discipulado, do serviço.
Isto não estaria de acordo com o Seu carácter moral.
Deus não nos arrasta, mas atrai-nos.
Deus atrai-nos e espera que corramos com verdadeira alegria de coração contando as Suas misericórdias e não como se fossemos contando ao longo do caminho os sacrifícios, dificuldades que temos que fazer para O seguir.

Deus ama a vivacidade da alma daqueles que ouviram no íntimo do coração o chamado de Deus e consideram grande privilégio responder: “Eis-me aqui Senhor envia-me a mim”.
Então existe verdadeira bênção para o crente em cada ato de obediência, pois a obediência é fruto da fé; e a fé liga-nos a Deus e leva-nos a uma comunhão viva com Ele.
Como diz o livro de Cantares de Salomão “Ele é meu e eu sou dele.”
O que obedece ao chamado de Deus arrastando-se ao longo do caminho a Lei de Deus torna-se um fardo, uma tortura, um ato legalista.
Mas se a pessoa ouve a voz de Deus “Sai da tua terra…”
. Sai dos teus desejos pessoais.
. Sai das tuas opções.
. Sai dos teus preconceitos.
. Sai da tua orientação de vida.
. Sai da tua rotina.
. Sai da tua bagagem cultural e intelectual.
. Sai das tuas explicações e justificações.
“Sai para terra que eu te mostrarei… e abençoar-te-ei tu serás uma grande bênçãos.”

Isto não se tratava de coacção mas atração.
Se calhar a terra de Canaã, não era a terra da promessa, era a terra da fé.
Mas era a terra de Deus, era a terra da promessa, era a terra da fé.

III. A terra da nova natureza.
Em Hebreus 11:8, diz: “Pela fé Abraão, sendo chamado, obedeceu, indo para um lugar que havia de receber por herança; e saiu sem saber para onde ia.”
Embora não tivesse visto com os seus olhos, creu com o coração, e a fé tornou-se a grande mola real da sua alma.
A fé descansa num terreno muito mais sólido do que a evidência dos nossos sentidos, repousa na Palavra de Deus.
Os nossos sentidos podem enganar-nos, mas a Palavra de Deus nunca nos engana.
Eu admiro Abraão, eu amo este homem. Porque ele tinha 75 anos, e aos 75 anos não é fácil tomar decisões.
Um jovem pode sair do seu país natal, mas para um homem idoso é difícil. Há muitas coisas a liga-lo à terra onde nasceu, a família, a fortuna, os amigos e tantas outras coisas.
Abraão tem consciência e o texto de Hebreus diz claramente, que Abraão caminhava para um lugar desconhecido, tinha que habitar entre tribos hostis, desconhecidas.
Mas ele deixou-se guiar pela voz de Deus. ele sabia que com Deus sempre haveria uma solução, a melhor solução.
Ele contemplou uma glória muito mais refulgente que a terra possa proporcionar.
Ele contemplou a mesma glória que anos mais tarde Saulo de Tarso contemplou.
Ao contemplar esta glória Abraão – passou a chamar-se Abraão – o amigo de Deus. o abençoado do Pai.
Saulo de Tarso – passou a chamar-se Paulo o “vaso escolhido”.
Eles fecharam os olhos e viram glória tão brilhante que vinha directamente do trono de Deus.
Eles consideraram nessa contemplação as coisas da terra “como esterco”, para poderem ganhar aquele maravilho Senhor que lhe tinha aparecido e cuja voz lhes tinha falado no mais íntimo da alma.
Eles viram Cristo celestial e durante o resto das suas carreiras Cristo foi a Terra Prometida.
Queridos, incluo-me no apelo: vigiemos as nossa tendências em nos afastarmos do chamado de Deus.
Do caminho estreito, todavia seguro. Quando tentados a sair dele e a seguir o curso deste mundo que nos desvia do percurso que conduz à Canaã Celestial.
Lembremo-nos d´Aquele “que se deu a si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau, segundo a vontade de Deus, nosso Pai.” Gal. 1:4

“Enquanto eu estava oração junto ao altar da família, o Espírito Santo me sobreveio, e pareceu-me estar subindo mais e mais alto da escura Terra. Voltei-me para ver o povo do advento no mundo, mas não o pude achar, quando uma voz me disse: Olha novamente, e olha um pouco mais para cima. Com isto olhei mais para o alto e vi um caminho reto e estreito, levantado em lugar elevado do mundo o povo do advento estava nesse caminho, a viajar para a cidade que se achava na sua extremidade mais afastada. …Se conservam o olhar fixo em Jesus, que Se achava precisamente diante deles, guando-os para a cidade, estavam seguros. Mas alguns ficavam cansados, … outros ficavam temerariamente negavam que fora Deus que os guiara … e resvalavam do caminho.” Primeiros Escritos, ps. 14,15.

 Pr. José Carlos Costa

Sem comentários: