sexta-feira, 26 de outubro de 2012

PIONEIROS PRECISAM-SE

(Filipenses 1:12-26)

Mais que qualquer outra coisa, o desejo de Paulo como missionário era pregar o evangelho em Roma. Centro do grande império, Roma era a cidade chave do seu tempo. Se Paulo conseguisse ganhá-la para Cristo, isso significaria alcançar milhões com a mensagem da salvação. O facto era realmente importante na agenda de Paulo, pois ele afirmava: “Depois que houver estado ali (Jerusalém), importa-me ver também Roma” (Rom. 1:15).
Paulo queria ir a Roma como pregador, mas em vez disso foi como prisioneiro! Podia ter escrito uma longa carta só a respeito desta experiência, mas afinal resume tudo nestas palavras: “As coisas que me aconteceram” (Fil. 1:12). O relato dessas coisas aparece em Atos 21:17-28:31 e começa com a prisão ilegal de Paulo no templo de Jerusalém. Os judeus pensavam que ele havia profanado o seu templo ao entrar lá com gentios, e os romanos consideravam que se tratava dum egípcio renegado que fazia parte da sua lista de “mais procurados”. Paulo tornou-se assim o ponto fulcral das conspirações políticas e religiosa e permaneceu como prisioneiro em Cesareia durante dois anos. Quando finalmente apelou para César (que era um privilégio de todo o cidadão romano), foi enviado para Roma. Durante a viagem, o barco sofreu um naufrágio! O relato dessa tempestade e da coragem e fé de Paulo é um dos mais dramáticos da Bíblia (Atos 27). Após três meses de espera na ilha de Malta, o apóstolo embarcou finalmente para Roma e para o julgamento que havia requerido na presença de César.
Para muitos, tudo isto teria parecido um fracasso, mas não para este homem que possuía uma “mente integral”, preocupado com a comunicação de Cristo e do evangelho. Paulo não baseava a sua alegria em circunstâncias ideais; encontrava-a, sim, em ganhar outros para Cristo. E, se as suas circunstâncias promoviam o avanço do evangelho, era quanto bastava! A palavra proveito (usada em 1:12) significa “avanço pioneiro”. Tratava-se dum termo militar no grego aos engenheiros do exército que vão à frente das tropas abrir caminho para novos territórios. Em vez de se considerar limitado na sua condição de prisioneiro, Paulo descobriu que as circunstâncias que estava a atravessar lhe abriam, na realidade, novas áreas no ministério.
Toda a gente tem ouvido falar de Carlos Haddon Spurgeon, o famoso pregador britânico, mas poucos conhecem a história de sua esposa Susana. Logo no princípio da sua vida de casada, a senhora Spurgeon ficou inválida. Parecia que dali em diante o seu único ministério seria o de animar o marido e orar pelo seu trabalho. Mas Deus deu-lhe a responsabilidade de partilhar os livros do seu marido com pastores que não tinham possibilidade de os comprar. Esse senso de missão levou em breve à organização do “Fundo do Livro”. Sendo uma obra de fé, o “Fundo do Livro” equipou milhares de pastores com os instrumentos necessários para o seu trabalho. Tudo isso era feito sob a orientação da senhora Spurgeon, na sua casa. Tratava-se dum ministério pioneiro.
Deus continua a desejar que os Seus filhos levem o evangelho para novas áreas. Ele quer que nos tornemos pioneiros e por vezes arranja circunstâncias tais que nós não podemos ser outra coisa senão pioneiros. De facto, foi assim que o evangelho chegou pela primeira vez a Filipos! Paulo havia tentado entrar noutro território, mas Deus fechou-lhe repetidamente a porta (Actos 16:6-10). O apóstolo queria levar a mensagem na direcção do leste, para a Ásia, mas Deus dirigiu-o no sentido do ocidente, para a Europa. Quão diferente seria a história da humanidade se Paulo tivesse podido prosseguir o seu plano!
Deus usa por vezes instrumentos estranhos para nos ajudar como pioneiros do evangelho. No caso de Paulo, houve três instrumentos que o ajudaram a levar o evangelho mesmo para a guarda pretoriana, as tropas particulares de César: as suas prisões (vs. 12-14), os seus críticos (vs. 15-19) e a sua crise (vs. 20-26).
 
1.      As Prisões de Paulo (1:12-14)
O mesmo Deus que usou a vara de Moisés, os cântaros de Gideão e a funda de David, usou também as prisões de Paulo. Mal supunham os romanos que as algemas que colocaram nos seus pulsos iriam libertar Paulo em vez de o prender! Assim escreveu ele posteriormente durante outro período de prisão: “Pelo que sofro trabalhos e até prisões, como um malfeitor; mas a palavra de Deus não está presa.” (2ª Tim. 2:9). Ele não se lamentava das suas prisões; pelo contrário, consagrava-as a Deus e pedia-Lhe que as usasse para o avanço pioneiro do evangelho. E Deus respondeu às suas orações.
Para começar, essas prisões deram a Paulo um contacto com os perdidos. Ele encontrava-se agrilhoado a um soldado romano durante 24 horas por dia. Os turnos mudavam de seis em seis horas, o que significava que Paulo podia dar testemunho, pelo menos, a quatro homens por dia. Imaginemo-nos um daqueles soldados, ligados por correntes a um homem que orava “sem cessar”, que falava constantemente com pessoas a respeito da sua condição espiritual e que escrevia frequentes cartas aos cristãos e igrejas espalhados por todo o Império! Não demorou muito que alguns destes soldados colocassem a sua fé em Cristo. Paulo pôde assim levar o evangelho até à classe da guarda pretoriana, algo que não teria podido fazer se continuasse sendo um homem livre.
Mas as cadeias possibilitaram a Paulo o contacto com um outro grupo de pessoas: os oficiais da corte de César. O apóstolo estava em Roma como um preso oficial e o seu caso era importante. O governo romano ia determinar a citação oficial desta nova seita “cristã”. Seria ela simplesmente mais uma seita dos judeus? Ou era de facto algo de novo e possivelmente perigoso? Imaginem como Paulo teria ficado contente ao ver que os oficiais da corte eram obrigados a estudar as doutrinas da fé cristã!
Por vezes, Deus tem de pôr “algemas” no Seu povo para o levar a realizar um “avanço pioneiro” que doutro modo jamais poderia ocorrer. As jovens mães poderão sentir-se presas ao lar enquanto cuidam dos filhos, mas Deus pode usar essas “algemas” para alcançar pessoas com a mensagem da salvação. Susan Wesley foi a mão de 19 filhos, numa época em que não havia electrodomésticos nem fraldas à venda! Dessa numerosa família saíram João e Carlos Wesley, cujos ministérios combinados abalaram as Ilhas Britânicas. Com seis semanas de idade, Fanny Crosby ficou cega, mas mesmo quando era ainda adolescente ela decidiu não ficar confinada às algemas da escuridão. A seu tempo, ela tornou-se uma força poderosa nas mãos de Deus através dos seus hinos e cânticos evangelísticos.
O segredo é este: quando possuímos uma mente integral, olhamos para as circunstâncias como se elas fossem oportunidades concedidas por Deus para o avanço do evangelho e regozijamo-nos no que Ele vai fazer, em vez de nos queixarmos acerca do que Deus não fez.
As prisões de Paulo não só lhe deram contacto com os perdidos, mas deram também coragem aos cristãos. Muitos dos crentes de Roma sentiram ânimo renovado quando viram a fé e determinação de Paulo (v.14). Tornaram-se ousados em “falar a palavra mais confiadamente, sem temor”. Esta palavra falar não quer dizer “pregar”. Significa sim, “conversa diária”. Sem dúvida que muitos dos romanos discutiam o caso de Paulo, pois assuntos legais desse género eram de primordial interesse para aquela não de legistas. E os cristãos de Roma que apoiavam Paulo aproveitavam-se dessas conversas para dizer algo de bom a respeito de Jesus Cristo. O desânimo pode-se espalhar, mas sucede o mesmo com o ânimo! Por causa da atitude jubilosa de Paulo, os crentes de Roma experimentaram novo entusiamo e testemunharam ousadamente de Cristo.
Enquanto me encontrava em convalescença no hospital, depois de uma operação, recebi uma carta duma pessoa que me era totalmente desconhecida e que parecia saber exactamente o que dizer para tornar o meu dia mais brilhante. De facto, recebi várias cartas desse irmão e cada uma era melhor que a anterior. Quando eu já conseguia movimentar-me um pouco, tive oportunidade de o conhecer pessoalmente. Fiquei pasmado ao descobrir que ele era cego, diabético e se encontra inválido devido à amputação duma perna (e desde então já lhe amputaram a outra perna) e que vivia com a sua velha mãe que tinha aos seus cuidados! Se algum homem usou alguma vez algemas, aquele era um deles! Mas se algum homem esteve alguma vez livre para ser pioneiro do evangelho, aquele foi um deles! Ele pôde falar de Cristo em reuniões levadas a cabo em liceus, prisões e em outros lugares. Ele tinha uma mente comprometida com Cristo; vivia para Cristo e para o evangelho. Consequentemente, partilhava a alegria de expandir o evangelho.
As nossas algemas poderão não ser tão dramáticas ou difíceis, mas não há qualquer  razão para Deus não nos usar do mesmo modo.
 
2.      Os Crísticos de Paulo (1:15-19)
Custa a crer que alguém se opusesse a Paulo, mas havia crentes em Roma que procediam exactamente assi, as igrejas ali encontravam-se divididas. Alguns pregavam a Cristo com sinceridade, desejando ver pessoas salvas. Outros pregavam a Cristo com fingimento, pretendendo tornar ainda mais difícil para o apóstolo a situação em que se encontrava. Este último grupo estava a servir-se do evangelho para atingir os seus próprios objectivos egoístas. Talvez pertencessem à ala “legalista” da igreja que se opunha ao ministério de Paulo aos gentios e à sua ênfase sobre a graça de Deus como oposta à obediência à lei judaica. A inveja e a contenda andam juntas, como juntas andam o amor e a unidade.
Paulo usa uma palavra interessante no versículo 17 – contenção, que significa “fazer um pedido para apoio”. O alvo de Paulo era glorificar a cristo e convencer as pessoas a segui-l´O; o alvo dos que criticavam era a autopromoção e o aumento de adeptos. Em vez de perguntarem: “Tens a tua confiança em Cristo?”, perguntavam: “De que lado estás? Do nosso ou do de Paulo?” Infelizmente, este tipo de “política religiosa” ainda se vê nos nosso dias. As pessoas que a praticam precisam de reconhecer que só se prejudicam a si próprias.
Quando se possui uma mente integral/convertida, consideram-se os críticos como constituindo uma outra oportunidade para o progresso do evangelho. Como um soldado fiel, o apóstolo foi “posto (designado) para defesa do evangelho” (v. 16). Ele conseguia regozijar-se, não no egoísmo dos seus oponentes, mas no facto de que Cristo estava sendo pregado! Não existia qualquer inveja no coração de Paulo. Não interessava que alguns fossem por ele e outros contra ele. O que realmente importava era a pregação do evangelho de Jesus Cristo!
É um facto da história que os dois evangelistas ingleses João Wesley e Jorge Whitefield discordavam em assuntos doutrinários. Ambos foram muito bem-sucedidos, pregando a milhares de pessoas e vendo multidões a aceitar a Cristo. Conta-se que alguém perguntou a Wesley se ele esperava ver Whitefield no céu e que o evangelista respondeu: “Não, não espero.”
“Então, não acredita que Whitefield seja um crente?”
“É claro que ele é um crente!” – disse Wesley – “Mas eu não espero vê-lo no céu – porque ele estará tão perto do trono de Deus e eu tão longe que não conseguirei avistá-lo!” Embora diferisse do seu irmão em alguns pontos, Wesley não sentia inveja dele, nem tentava opor-se ao mistério de Whitefield.
Em geral, a crítica é muito difícil de suportar, particularmente quando nos encontramos em circunstâncias difíceis, como no caso de Paulo. Como é que o apóstolo conseguia ter alegria mesmo sendo alvo de tantas críticas? Ele possuía uma mente convertida! O versículo 19 indica que Paulo esperava que o seu caso se encerrasse vitoriosamente (“disto me resultará salvação”) por causa das orações dos amigos e do socorro do Espírito Santo de Deus. Da palavra socorro (no grego) vem a nossa palavra coro. Sempre que uma cidade grega se resolvia a efectuar um festival importante, alguém tinha de pagar as despesas com os cantores e bailarinos. O donativo requerido tinha de ser avultado e, assim esta palavra veio a significar “prover generosa e abundantemente”. Paulo não dependia dos seus próprios e diminutos recursos; dependia, sim, dos recursos generosos de Deus, ministrados pelo Espírito Santo.
Paulo partilhava do avanço pioneiro do evangelho em Roma, através das suas prisões e dos seus oponentes; mas ele tinha um terceiro instrumento de que fazia uso:
3.      A Crise de Pualo (1:20-26)
Por causa das suas prisões, Cristo tornava-se conhecido (v. 13), e por causa dos seus críticos, Cristo era pregado (v. 18). Mas por causa da crise de Paulo, Cristo era engrandecido (v. 20)! Era possível que Paulo fosse considerado como traidor a Roma e depois executado. O seu julgamento preliminar havia-lhe sido, aparentemente, favorável, todavia o veredicto final ainda estava para vir. Mas o corpo de Paulo não lhe pertencia e o seu único desejo (porque ele possuía uma mente convertida) era engrandecer Cristo no seu corpo.
Será que Cristo precisa de ser engrandecido? Afinal de contas, como é que um mero ser humano poderá engrandecer o Filho de Deus? Bem, as estrelas são muito maiores do que o telescópio e, contudo, este torna-as grandes e trá-las para mais perto. O corpo do crente deve ser um telescópio que traz Jesus Cristo para junto das pessoas. Para o indivíduo em geral, Cristo é uma figura confusa na história e que viveu há séculos. Mas quando um descrente observa a maneira como um crente atravessa um período de crise, ele pode ver Jesus engrandecido e trazido para mais perto dele. Para o cristão que possui uma mente simples, Cristo está connosco aqui e agora.
O telescópio traz para perto de nós as coisas distantes, e o microscópio faz com que as coisas pequenas pareçam grandes. Para o descrente, Jesus não é muito grande. Outras pessoas e outras coisas são muito mais importantes. Mas quando o incrédulo observa a maneira como o cristão atravessa uma experiência de crise, ele deve poder ver como Jesus é, de facto, enorme. O corpo do crente é uma “lente” que faz com que um “Cristo pequeno” pareça muito grande, e um “Cristo distante” se veja muito mais perto.
Paulo não temia a vida nem a morte! De qualquer modo, o seu desejo era engrandecer Cristo com o seu corpo. Não admira que ele sentisse alegria!
Paulo confessa que está perante uma decisão difícil. Precisava de permanecer vivo para benefício dos crentes de Filipos, mas “dormir” em Cristo seria para ele muito melhor. A certeza que o “despertar” veria o seu amado Salvador era o seu anelo mais profundo. No entanto, o apóstolo chegou à conclusão de que Cristo queria que ele ficasse ainda por um tempo, não só para “maior proveito do evangelho” (v. 12), mas também para proveito “vosso e gozo da fé” (v. 25). Ele queria vê-los a contribuir para o “avanço pioneiro” para novas áreas de crescimento espiritual. Convém pensar onde quer Jesus o “avano pioneiro” hoje?
Que homem formidável é Paulo! Está pronto a adiar o seu “sono” (1 Tes. 4:13-16)  a fim de ajudar os cristãos a crescer, e está pronto a tudo para poder ganhar os perdidos para Cristo! (Rom. 9:1-3) .
E claro que a morte não o amedrontava de modo nenhum. Ela significava simplesmente “partir”. Esta palavra era usada pelos soldados; queria dizer “desmontar a tenda e seguir.”
Mas partida era também um termo político; descrevia a libertação dum prisioneiro. O povo de Deus está em cadeias por cauda das limitações das tentações da carne, mas a morte irá libertá-lo. Ou então, a libertação verificar-se-á na ocasião da segunda vinda de Cristo (Rom. 8:18-23), se esta tiver lugar antes. Finalmente, partida era um termo usado pelos agricultores; queria dizer “pôr o jugo aos bois”. Paulo tinha tomado sobre si o jugo de Cristo, que é fácil de carregar (Mat. 11:28-30), mas quantos fardos ele não carregou no ministério! Partir e estar com Cristo significaria pôr de lado os fardos, ver completada a sua obra terrena.
Seja como for, nada poderá roubar a alegria duma pessoa que possui uma mente convertida! “Porque para mim o viver é Cristo e o morrer é ganho” (v. 21).
O versículo 21 torna-se um texto valioso para a nossa vida. “Porque para mim o viver é ………e o morrer é ………”Preencha o leitor mesmo os espaços em branco.
“Para mim o viver é o dinheiro e o morrer é deixá-lo todo para trás”.
“Para mim o viver é a fama e o morrer é ser esquecido”.
Não, temos de fazer eco das convicções de Paulo se realmente queremos ter alegria apesar das circunstâncias, e se queremos participar no avanço do evangelho. “Porque para mim o viver é Cristo e o morrer é ganho!”
jcjc

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