quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

ALGUÉM SABE E COMPREENDE

PRECE: Senhor Deus! Nós nos achegamos a Ti, nosso compassivo Redentor; e rogamos-Te, por amor de Cristo, por amor do Teu próprio Filho. Nosso Pai, que manifestes o Teu poder entre os que se achegam a Ti. Precisamos de sabedoria; precisamos da verdade; precisamos que o Espírito Santo esteja connosco, esta noite e sempre. Por Jesus. Amém.
Recentemente uma senhora quis falar comigo. Sentia-se nas suas palavras uma grande tristeza e até uma profunda frustração quando disse:
         O meu casamento a partir de uma certa altura começou a ir na direcção errada. Como quem viaja por uma estrada em que as placas de indicação estão todas erradas, o que prometia ser uma viagem de felicidade era uma estrada estreita rumo a um inferno.
Estas palavras resumiam os 14 anos de vida conjugal. A terminar acrescentou:

– Não sou a favor do divórcio, mas o que podia fazer? Se me sentia impotente para salvar o meu casamento, talvez possa pelo menos salvar a minha família que são os meus filhos. O meu marido entrava em casa à 1, 2 horas da manhã embriagado, nem sempre pude suportar com calma essa situação e quando lhe dizia alguma coisa, ele batia-me, ficava envergonhada especialmente porque os meus filhos assistiam.

O casamento desta senhora transformou-se numa estatística. Foi mais um número que se juntou a milhares de outros naquele ano! Os filhos dela juntaram-se aos milhares de meninos e meninas que no nosso país vivem em lares desfeitos. O pior de tudo é que aquela senhora e aqueles meninos, não são uma simples estatística! São pessoas, são seres humanos. Privados dos seus sonhos mais acalentados. Ela foi esmagada pela noção de que falhou na maior aventura da vida. Agora, com o seu orgulho e auto-confiança despedaçados, ela ficou desorganizada, mal-humorada, incapaz de se concentrar, preocupada com os filhos.

Como ela e o seu marido muitos casais felizes, vão ao altar dizer: "até que a morte nos separe". Eles dão as mãos e ouvem as palavras ditas por Jesus: "... Portanto o que Deus juntou não o separe o homem". Mateus 19:6 Eles inclinam a cabeça com reverência às palavras ditas originalmente pelo Criador: "Assim não são mais dois, mas uma só carne...". Mateus 19:6

Mas, infelizmente, o casamento – esse acordo sagrado dado pelo próprio Deus é tão rebaixado que pouco se assemelha com o que Deus tencionava que fosse. O laço sagrado é transformado numa cadeia de frustrações, discussões, violência, abandono, adultério.

Alguém disse: "vamos considerar o casamento como um cinto de avião, que se aperta e desaperta”. Noutras palavras, se não está satisfeito, livre-se!

Um menino de 10 anos disse à sua namoradinha:

"Eu gosto tanto de ti que quando crescermos quero que sejas a minha primeira esposa."

Qual é o problema? O que é que está errado? O que acontece entre o altar e o processo de divórcio? Por que razão a realidade não é como o sonho?

Todos os casais olham o futuro e aguardam com ansiedade o dia do casamento, anseiam que o sonho se torne realidade. Parece que ele nunca mais chega. Mas chega. E agora são marido e mulher. E muitos em poucas semanas tornam-se ansiosos que a realidade se torne sonho! Um sonho, ao acordar nada é realidade.

Mas é realidade. O que é que está mal no casamento? Será o casamento ou a instituição? O problema é com as pessoas. São as pessoas que devem mudar. Casais felizes não se desiludem com o casamento.

Uma vez perguntaram-me:

– Acha que o casamento pode ser bem sucedido?

– Sim, pode! E não há um grande segredo para isso. Não seria difícil não fosse a fraqueza da natureza humana. Casamentos felizes são feitos de pequenas coisas. Coisas simples. Gentilezas fundamentais. Atenção sem egoísmo. As pequenas coisas que vêm tão naturalmente durante o namoro.

Conheço a seguinte história: Um casal estava prestes a comemorar as bodas de ouro. Alguém perguntou ao marido:

– Qual é a sua receita para um casamento feliz?

– Eu era órfão, e tive que começar a trabalhar muito para pagar o quarto e a comida. A Sara foi a primeira namorada que eu tive. E quando chegou a hora de lhe propor casamento, fiquei assustado. Depois do casamento, o pai dela chamou-me ao lado e deu-me um pequeno embrulho.

– "Aqui está tudo o que precisas saber para ser feliz".

Isto foi o que lá encontrei: um relógio de bolso em ouro. Abriu-o, e indicou-me o que estava no mostrador e que ele tinha que ver todas as vezes que visse as horas: "diz uma coisa linda a Sara".

– Mas não pense que não temos tido ao longo destes 50 anos, algumas disputas – e acrescentou – sabe qual é o segredo dum casamento feliz? É saber resolver os problemas e continuar a caminhar juntos!

Creio que não há nenhum casal, que não tenha uma ou outra vez vivido alguma dificuldade de relacionamento conjugal. Nem pode ser de outro modo!

 Todos os lares têm problemas. Um conselheiro conjugal perguntou a um jovem casal:

– O que é que vocês têm em comum? – a jovem esposa  respondeu:

– Uma coisa: não nos suportamos um ao outro.

John Milton, o poeta mal casado, ouviu uma vez a esposa ser comparada a uma rosa. Ele disse:

– Não percebo nada de flores, mas pode ser verdade, pois sinto os espinhos diariamente.

Há quem diga que as disputas limpam o ar. E talvez o façam, às vezes. Mas as zangas deixam cicatrizes. E ferimentos feitos com palavras são mais sérios que os ferimentos físicos. Os ferimentos físicos podem curar rapidamente. Mas as feridas provocadas por palavras talvez nunca curem.

Muitos casamentos poderiam ser salvos se estivéssemos dispostos a ouvir e a aceitar que o outro talvez possa estar certo. É claro, faz parte da natureza humana pensar que temos sempre razão. Um poeta disse uma vez:

– Eu só vejo dois pontos de vista: aquele que está errado e o meu.

O Dr. Paul Tournier, um famoso psiquiatra suíço, afirmou que é uma coisa muito perigosa querer ter sempre razão e acrescenta:

“As horas mais frutíferas da vida são as da nossa humilhação, quando vemos os nossos pecados e erros, e quando estamos tristes por causa deles. Mas enquanto nós mantivermos zelosamente uma rota na qual sabemos que estamos certos, estaremos imunes a tais sentimentos interiores. E não obteremos qualquer ajuda.” Dr. Paul Tournier

Dr. Tournier afirma num dos seus livros sobre casos de conflito matrimonial: “Aquele que está errado e admite a sua culpa e se humilha, experimenta uma genuína renovação espiritual. Mas aquele que acha que tem razão e recusa perdoar, sai mais amargo que quando entrou.”

Um lar onde não existe o reconhecimento de culpa, um lar onde não existe o perdão, um lar que não faz provisão para um novo começo, é um lar perto do ponto onde não há retorno. Os conflitos são perma­nentes, tornam-se crónicos!

Na Palavra de Deus existe solução até para os conflitos crónicos. A Bíblia coloca todas as nossas discussões na perspectiva exacta. Devemos olhar o relacionamento conjugal, como Deus nos olha.

O Novo Testamento mostra o modo como Deus nos olha. Um Deus que não desculpa o culpado, mas olha o arrependido como inocente. O ponto de partida, como cristãos, é que todos estamos errados, inteiramente imperfeitos. A Palavra de Deus é clara. Paulo diz em Romanos 3:23: "Porque todos pecaram, e destituídos estão da glória de Deus."

Todos estamos diante de Deus, um ser sagrado. Perante a Sua justiça, a nossa bondade parece trapos sujos. Deus é o único que tem cem por cento razão! A interminável luta do homem para ter razão, ou seja para se justificar, é uma causa perdida.

Talvez a nossa relação com os nossos pais esteja ferida! Ou com os nossos irmãos ou irmãs! Pode ser com o marido ou com a esposa! Pode até ser com o nosso filho ou com a nossa filha!
Oh, Senhor, precisamos tanto de ajuda! Precisamos tanto da palavra certa! Alguém, esta noite sente necessidade de ajuda? A relação com os seus queridos está tão defeituosa, e sente-se infeliz? 
Se é assim, deixem que vos diga que na Bíblia encontramos uma mulher parecida connosco. Era uma mulher que vivia numa aldeia, nas aldeias, toda a gente sabe tudo da nossa vida.
A mulher de que vos falo vivia na aldeia de Sicar. Era uma mulher muito infeliz. Ao ponto que tinha decidido não andar na rua. O seu mundo interior estava tão pejado de imagens negativas, de feridas, de descrença no ser humano e nela própria, estava tão desiludida com a vida! Que só saía à rua, quando sabia que toda a gente estava em casa. A hora do calor.
Saiu naquele dia para ir buscar água ao poço de Jacó, do poço via-se o monte de Gerizim, era um lugar sagrado, Deus segundo a crença dos samaritanos devia ser adorado naquele monte. Ela era samaritana!
Mas esse Deus estava tão dolorosamente distante da angústia interior daquela mulher, que ela já nem olhava para o monte. Olhava, isso sim, para as suas recordações cheias de relacionamentos fracturados, com ela própria e com os outros. Eram tantos os conflitos interiores e as mágoas ocultas!
Estava só, e encontrou outra pessoa solitária junto do poço. Alguém sentado na borda do poço. A pessoa que estava sentada no poço, era um homem, era judeu, o que significava um inimigo. Entre os samaritanos e judeus, existia ódio e desprezo. Os samaritanos eram considerados traidores e desprezíveis.
Os judeus não falavam com os samaritanos, mas mais do que isso nem o próprio marido falava com a esposa na rua. Este homem, quebra todas as barreiras, todos os preconceitos, não só se dirige a ela com modos meigos, mas pede-lhe ajuda. Pede água. Ela fica tão surpreendida que reage desta forma: “Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher e samaritana?” João 4:9
Ela desconhecia ainda que pessoa alguma estava ou está fora dos limites de Jesus! Ela não sabia que Aquele que estava ali e lhe pedia água, é muito sensível e que todos os nossos problemas, O afectam, e Ele quer participar e ajudar a resolver. Ela não sabia que Aquele que estava ali falava a língua da Terra mas com sotaque do Céu!
Jesus viu na resposta daquela mulher samaritana uma barreira muito mais profunda que a do sexo ou do nacionalismo. Ele viu o íntimo, o profundo daquela mulher, e viu um ser em necessidade!
A mulher tentou levantar a barreira do orgulho, da incredulidade, da religião. Mas Jesus vai ao âmago da necessidade à origem do problema. Ele o fez com aquela mulher e o faz com cada um de nós. Ele deseja hoje, neste mesmo instante, sentar-se na beira do nosso caminho, dos nossos problemas.
E Ele quer partilhar um segredo, será que há alguém que queira escutar o segredo de Jesus? Alguém que queira libertar-se dos seus complexos e dos preconceitos só para ouvir Jesus?
Então Ele diz: “Se conheceras o dom de Deus, e Quem é O que te pede água, tu lhe pedirias e Ele te daria água viva...”. João 4:10
Jesus prepara aquela mulher para que ela O interrogue, para que ela fale. Ela precisa tanto de falar para confiar. Ela não tinha ninguém para a ouvir. A nossa grande necessidade é de ter alguém que nos escute! É ou não verdade?
E ela fica curiosa, interessada e pergunta: “Senhor, tu não tens com que tirá-la, e o poço é fundo. Onde tens a água da vida? És tu maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço, do qual ele próprio bebeu e, bem assim, os seus filhos e o seu gado?” João 4:11-12
E ela nunca mais se cala, mas Jesus estava à espera exactamente que ela abrisse o seu coração e falasse. O poço de Jacó era um tipo de cisterna com cerca de 30 metros de profundidade. Enchia-se com água de uma nascente e com as águas que caíam da chuva.
O que Jesus oferecia, era água viva que quer dizer, água corrente. Água que vem da fonte, de nascentes subterrâneas, fluindo com abundância. Não é pois de admirar que a mulher tivesse perguntado: “Onde tens tu água viva?” Queria dizer, onde vais encontrar, ou trazer água desse género? Não está aqui nenhum ribeiro de água fresca!
A conversa atinge um nível profundo e Jesus vai revelar-Se mais e mais àquela mulher. Sabem, Jesus revela-Se sempre de forma progressiva. Vai-se revelando para que os nossos olhos o possam realmente ver, os nossos ouvidos ouvir e a nossa mente compreender. Encontro muita gente, que me diz: “Não compreendo a Bíblia!” E eu respondo, “Compreendo” porque a Palavra de Deus compreende-se progressivamente, sacia-nos, não de uma só vez, mas vai-nos saciando.
Agora Jesus diz: “Todo aquele que beber desta água tornará a ter sede; mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede. Deveras, a água que lhe der se fará nele uma fonte de água que jorre para a vida eterna.” João 4:13-14
A mulher olhou para Jesus. E pensou: Quem é Este? Como pode fazer tal afirmação? Ela sentiu que Ele era especial. Muito especial! Sim Jesus é especial. Como homem, dormiu no barco. Como Deus, acalmou a tempestade. Como homem, chorou. Como Deus, disse a Lázaro: “Vem para fora!” Como homem, foi posto no sepulcro, como Deus, levantou-Se da morte! Jesus é especial. É Alguém que sabe e compreende!
E de repente ela diz: “Senhor, dá-me dessa água para que eu não mais tenha sede e não volte aqui para buscá-la.” João 4:15
Jesus tinha tocado na sua sede profunda pela vida. Mas ela responde ainda de forma superficial, ela esconde ainda o seu interior, a sua necessidade real, ela não deixa ainda que a água da vida flua e sacia a necessidade real do seu coração. Quantos de nós somos assim!
O coração cheio de mágoas e ressentimentos está ainda oculto. Mas Jesus não desiste, há muito que Ele conhecia a samaritana. Oh, divina Omnisciência! Ele conhece! Jesus é o Senhor do Universo e da História, num mistério de amor apossa-Se dos homens, e especial­mente dos pobres, dos abandonados, dos tristes, dos que têm o coração vazio e os enche com a Sua santa e linda presença!
“Vai, chama o teu marido, e vem cá.” João 4:16
Crueldade ou compaixão nestas palavras? Digo que se trata de com­paixão! Jesus sabia que a vida dela era uma sucessão interminável de relacionamentos infelizes, magoados e quebrados.
Jesus compreendeu o problema da mulher mas não a podia ajudar, não podia violar a consciência dela. Ele só podia entrar na séde da sua vida, lá no jardim da alma e reparar todos aqueles sofrimentos, se ela o quisesse. Ele não pode ajudar a resolver os problemas de ninguém se não Lhe for dado espaço para entrar. Então Ele entrará no nosso mundo interior e curará os sentimentos feridos. Como só Ele pode curar!
Jesus não pode tratar as necessidades superficiais sem primeiro tratar as profundas! A mulher ficou, por momentos, sem saber o que fazer. Mas vai ousar confiar, ao menos um pouco e diz: “Não tenho marido.” João 4:17
É a confidência que lhe sai dos lábios, escondendo ainda a sua angústia com uma desonestidade dissimulada. Como quem vai à confissão e fala de tudo, mas não daquilo que a aflige. Como confiar num homem?! Seja ele padre ou pastor?! Há coisas que não queremos e Deus não nos obriga a partilhá-las com ninguém a não ser com Ele que é o nosso Pai e que nos conhece e ama!
Também a samaritana, não confia ainda plenamente. Mas Jesus, sem a abandonar fica ali e não acusa, não a recrimina, não a culpa e diz: “Tens razão em dizer que não tens marido, pois já tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu marido. Isto disseste com verdade.” João 4:17-18
Queridos amigos que podia fazer a mulher, agora? Que teríamos feito nós? Ou melhor, que fazemos quando Jesus coloca o dedo na nossa ferida, lá onde dói, lá onde há sofrimento, onde nós sabemos que há pecado? Ela ainda tenta argumentar com as antigas tradições. Ela ainda tenta uma discussão religiosa. Tenta desviar o assunto daquilo que tem escondido no seu coração ao dizer: “Nossos pais adoraram neste monte, mas vós, os judeus, dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar.” João 4:20
Quantas vezes ouvimos nós isto, hoje! Nós guardamos o Domingo, já os nossos avós o guardavam, mas vós dizeis que é o Sábado! Mas o que é que tem uma coisa a ver com outra! Ela, como muitas pessoas, tentou colocar de lado a oferta de Jesus, tentou fugir com os seus problemas. Ela ainda não percebeu que não se trata de doutrinas, de dogmas, de tradições, trata-se do problema dela. E no lugar de abrir o coração, está a tentar argumentar, a fugir da água refrescante, a única que pode saciar a sua alma ressequida!
Esta noite, quero fazer um apelo: Por favor, não estejam a ouvir com reservas no coração! Não pensem que a vossa religião é diferente, melhor ou pior, não é disso que se trata. Do que se trata é da Pessoa de Jesus. Jesus Cristo perdoou voluntariamente, morreu em nosso lugar, ressuscitou visivelmente e vive vitoriosamente à dextra do Pai. É disto que se trata!
Jesus podia-se ter cansado com a samaritana. Mas Ele amava profundamente. Amar profundamente é ser como Jesus, e Jesus não podia deixar aquela mulher com os problemas dela, à beira do poço, sem esperança! Ele podia ter passado horas a discutir sobre a Bíblia para a convencer que os Judeus estão certos, eram o povo de Deus. Mas não vale a pena discutir religião. A religião tem que ser vista e vivida, o que interessa é falar do amor de Deus e é o que Jesus faz. Deus não está limitado pelas religiões: “Deus é Espírito, e importa que os que O adoram o adorem em espírito e em verdade.” João 4:21
O Novo Testamento usa duas palavras para “espírito” nesta passa­gem a palavra que se refere ao Espírito de Deus é pneuma. E a pa­lavra para o espírito que habita no homem é pneumati, que quer dizer a parte mais profunda do ser, com a qual o Espírito de Deus pode e quer ter relacionamento. É aí que Deus quer falar, por isso Jesus disse à samaritana: “Mas vem a hora, e já chegou (para ti) em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, pois o Pai procura a tais que assim O adoram.” João 4:23
Deus não está interessado numa adoração de lábios, ou de lugares, lá no Monte de Gerizim ou em Jerusalém. Não numa adoração de tradição, não numa adoração de catedrais. A verdadeira religião foi assim apresentada por Jesus: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizámos nós em Teu nome? E em Teu nome não expulsámos demónios? E em Teu nome não fizemos milagres? Então lhes direi abertamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade!” Mateus 7:21-23
Ou em: “E nisto sabemos que O conhecemos: se guardamos os Seus mandamentos. Aquele que diz: Eu conheço-O, e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade.” I João 2:3,4
‘São estes que o Pai procura’, diz Jesus à Samaritana. São estes que o Pai quer como Seus adoradores. É uma das afirmações mais sublimes de Jesus, é uma mensagem de autenticidade e de verdade. E ela compreende! A voz de Jesus ressoou no mais profundo da sua alma com toda a autoridade, por isso Jesus revela-Se: “´Ego Eimi´Eu o sou, eu que falo contigo.” João 4:26. Jesus afirma aqui que é o EU SOU. O Filho de Deus, o próprio Deus!
Eu fico maravilhado com Jesus porque faz esta revelação a uma mulher, a uma mulher que até nem é uma grande conhecedora do poder de Deus, nem uma grande cristã, diríamos em linguagem moderna. E fico não menos maravilhado com a atitude da mulher. Assim que ela descobre Quem é Aquele que está diante dela, ela deixa de se preocupar com questões pessoais, esquece-se até que as pessoas da aldeia a criticam pelo seu estilo de vida. Esquece-se dos preconceitos religiosos.
Corre para a aldeia a fim de contar a todas as pessoas que encontrou o Homem que lhe contava tudo o que ela tinha feito. É possível que ela tenha gritado em todas as esquinas, batido em cada porta, porque era hora de calor e toda a gente estava em casa. ‘Encontrei Aquele que pode curar todas as feridas. Sou feliz, encontrei o Cristo, o Filho de Deus, e isso me basta, venham!’
Aquela mulher, habitualmente taciturna, tem agora um brilho no rosto. E os seus vizinhos podiam ver que ela tinha encontrado o Salvador. Ela era uma luz, ela que tinha sido uma vela apagada, brilhava agora, e o povo correu a encontrar-se com Jesus e convidaram Jesus a ficar com eles. Dois dias depois do Senhor ter ficado com eles, davam testemunho: “Já não é pelo que disseste que nós cremos, mas porque nós mesmos temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do Mundo.” João 4:40,42
Jesus foi um ponto de viragem na vida da samaritana. Ela sentiu que era uma mulher pegada e largada, uma mulher não amada, cinco maridos que a tinham abandonado, e o que estava com ela agora, não queria casar, não queria publicamente dizer: “Até que a morte nos separe”. Isto deve fazer mal a um coração? Depois que encontrou a Jesus, era uma nova pessoa!
Deixem que vos pergunte: Já encontrastes Jesus? Tendes a alegria de viver a paz, ou sinceramente reconheceis que viveis como pessoas taciturnas, tristes, sem paz?!
A primeira coisa que Jesus fez pela mulher foi revelar-Se como o “Eu Sou”, Aquele que antes de ser já era, Aquele que encarnou para revelar Deus. E ela intuitivamente compreendeu que não havia nada que ela Lhe pudesse dizer que Ele já não soubesse.
É verdade que podemos resistir-Lhe e Ele conservar-se-á longe porque Ele não impõe a Sua presença, Ele respeita a liberdade com que nos criou. Mas não podemos impedir que Ele saiba, mesmo mantendo-O à distância, que Ele saiba quais são os nossos sentimentos e as nossas necessidades. O salmista teve estas palavras: “Ó Senhor, tu me sondaste e me conheces. Tu conheces o meu sentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento. Esquadrinhas o meu andar e o meu deitar, conheces todos os meus caminhos. Sem que haja uma palavra na minha língua, ó Senhor, tudo conheces.” Salmo 139:1-4
A verdadeira sabedoria não vem pela observação exterior, mas pela revelação interior. Por isso aquilo que o salmista tinha dificuldade em compreender, Jesus encarnou para vir pessoalmente a fim de nos ajudar a abrir os nossos corações.
A segunda ilação que a samaritana tirou foi: Jesus pode perdoar e reconciliar-nos connosco próprios e com Deus.
Gosto muito da afirmação de um autor cristão que diz: “Encontrar o perdão real, conhecer o estranho poder de um amor que não nos abandonará, e conhecer um novo sentido de limpeza interior, é isto o que significa ser salvo. Ser salvo de tudo o que significa separação de Deus.” Josiah Royce
A mulher samaritana pensava que os seus problemas eram todos os seus casamentos fracassados, mas ela veio a descobrir que o que a debilitava era a orientação que tinha dado à sua vida. E que era isso mesmo que a debilitava e certamente fazia com que aqueles que com ela viviam se afastassem. A partir do momento em que o “Ego Eimi” tomou o controlo da sua vida, Jesus perdoou o passado, consertou o presente e guiou-a no futuro!
Às vezes precisamos de começar de novo, como uma caixa registadora, do zero, sem nada na fita. Isso é o que significa o perdão.

Porque será que temos palavras amáveis para os outros durante todo o dia, mas quando entramos pela porta de nossa própria casa há uma tendência para sermos diferentes? Amamos a nossa família de todo o coração. Mas ela sabe disso? Ou agimos como se já soubesse?
Vou terminar com a história mais linda que eu conheço. Trata-se de um jovem agricultor que chegou a casa numa noite, cansado, depois de um longo dia de trabalho. Por razões que a sua esposa ignorava, as vacas fugiram da cerca. E ele culpou-a por isso:
– Tu não tinhas mais nada para fazer – ele disse – podias pelo menos ter vigiado as vacas.
Imediatamente ele arrependeu-se. Mas o efeito das palavras já sangrava no coração da jovem esposa. Ele sentiu que devia pedir perdão aquela noite, mas o orgulho foi mais forte.
Na manhã seguinte ele estava com pressa e deixou a reconciliação para outra hora. Naquele dia, à tarde uma terrível tempestade aproximava-se e ele foi para casa. A casa estava vazia. Em cima da mesa havia um bilhete que dizia o seguinte: "As vacas fugiram outra vez, lamento. Fui procurá-las. Quando eu voltar, por favor, não me trates mal!” A esposa... naquela tempestade? Ele apressou-se em procurá-la, sem se importar com os animais. Ela não tinha percebido a gravidade da tempestade, que agora estava com toda a fúria. Relâmpagos rasgavam o céu. Os estrondos dos trovões eram ensurdecedores e o vento cegava. Ele procurou desesperadamente a sua amada. Toda a noite procurou nos vales e nas colinas. Quando o sol começou a brilhar ele voltou para casa e encontrou o corpo da esposa estirado não muito longe onde ele a tinha ferido com palavras. Agora era tarde para as palavras amáveis, ele teria dado tudo para as poder dizer.
Oh, se pela manhã, ele tivesse apagado as palavras duras da noite! Oh,... uma palavra, um gesto, teria evitado tanta angústia e tanta lágrima!
Oh,... lábios que mostram impaciência com palavras acusadoras e que provocam uma vida tão cruel... Oh, se a noite não fosse tão tarde, a manhã brilharia com sol!

Todos nós falhamos. Mas graças a Deus, podemos encontrar Jesus junto à beira do nosso caminho, hoje! Ele sabe, Ele tem remédio, para que se opere em nós uma mudança, uma cura se permitirmos que a divina presença entre na nossa alma. Que daria por um coração novo? Um lar feliz? Você prometeu junto ao altar o melhor. O Céu está pronto a ajudar!

José Carlos Costa, pastor 

Sem comentários: