Desobediência - O jovem rico cobiçava a sua riqueza.
Obediência - Jônatas não tinha inveja de David.
Sl 119.36 "Inclina-me o coração aos teus testemunhos, e
não à cobiça".
Parece que vivemos na terra da fantasia! Enquanto se
discute, no Congresso, a legalização do jogo, [1] o jogo legalizado no Brasil
[2] já movimenta 3,8 bilhões de dólares por mês. Estima-se, em adição, que os
cassinos clandestinos que existem nas grandes cidades, chegam a movimentar mais
1 bilhão de dólares. [3] Essas estatísticas são provavelmente conservadoras. A
soma de dinheiro que corre nos jogos de azar deve ser bem maior e não existem
números confiáveis sobre o "jogo do bicho" nem sobre as inúmeras casas
de "bingo" que proliferam nas grandes cidades brasileiras. Todos os
dias inúmeras pessoas se submetem às filas que se formam nas
"loterias", de olho nos prêmios milionários que se acumulam,
cobiçando os valores fantásticos anunciados. Na expectativa, esperança e ilusão
de resolverem todos os seus problemas pela "sorte", contribuem, na
realidade, para o desvio de riquezas para os poucos que administram a jogatina
e para um envolvimento clandestino e lucrativo com a corrução e criminalidade.
Nos Estados Unidos, até algumas décadas atrás, o jogo estava
praticamente segregado ao estado de Nevada, na cidade de Las Vegas. Atualmente
além da expansão dos cassinos para várias outras cidades, 37 dos 51 estados
possuem suas próprias loterias "oficiais". Os norte-americanos gastam
anualmente 638,6 bilhões de dólares com a jogatina. [4] Isso é mais do que o
Produto Interno Bruto da maioria dos países, inclusive o do Brasil. O jogo é
tão generalizado, naquele país, que é comum e não choca a existência de
inúmeros bingos beneficentes sistemáticos (normalmente aos sábados) em igrejas
católicas, anunciados em grandes faixas colocadas. Estima-se que os
freqüentadores desses "bingos" de igrejas, perdem cerca de 1,6
bilhões de dólares por ano. É o paradoxo de igrejas, utilizando a cobiça, para
atrair pessoas e fundos às suas atividades. O grande alvo dos cassinos,
atualmente, são as pessoas idosas. Excursões e caravanas de ônibus funcionam
sistematicamente, partindo para os centros de jogo cheios de pessoas ávidas por
ganho fácil e diversão barata, mas muitas acumulam desilusões e vão na
esperança de reaver perdas anteriores. Só de Nova York, para a cidade de
Atlantic City, que legalizou cassinos em 1976, saem 9 milhões de pessoas por
ano, em caravanas de ônibus. O domingo é o dia mais agitado da semana. [5]
O vício do
jogo faz com que pessoas que não possuem um passado de criminalidade, passem a
emitir cheques sem fundos ou roubar dinheiro de parentes. Descontrolados, esses
apostadores perdem seus empregos, seus veículos, suas propriedades, seus
cônjuges, e às vezes terminam na prisão ou se suicidando. [6]
Mas não é
somente o jogo e o vício que cega as pessoas. A cobiça é força motivadora de
muitas ações, quando se perde o objetivo maior de se servir a Deus e de
usufruir a felicidade como uma conseqüência da nossa lealdade a Ele. A força da
cobiça pode mover o homem mais rico do mundo para querer tornar-se mais rico e
mais poderoso ainda, atropelando pessoas e empresas pequenas, comprando muitas,
só para fechá-las, de tal forma que os seus objetivos não sejam contrariados.
[7] A força da cobiça pode estar presente também no mais pobre dos homens,
quando não enxerga que a solução dos seus problemas está primariamente nas mãos
de Deus e não na obtenção dos bens materiais que não tem. A força da cobiça se
apresenta nos anúncios que apelam ao desejo do lucro ilegítimo, como um e-mail
que circula por aí, oferecendo ganhos irreais e volumosos, quando o objetivo
real é a venda de um banco de dados de nomes sem qualquer perspectiva de ganhos
reais para o comprador. A força da cobiça é reconhecida e utilizada nas formas
mais distintas, até nas igrejas - não são somente naquelas, que mencionamos,
que utilizam os "bingos" como atração semanal, mas também naquelas,
que estão entre nós, que apelam às bênçãos materiais e à promessa de ampla
prosperidade materiais aos seus fiéis, como chamariz para seus trabalhos.
O que leva pais de família e pessoas que têm necessidades
básicas não atendidas a se envolver com o jogo? O que faz com que o pão seja
tirado dos filhos para que o vício do jogo seja atendido? O que joga em uma
vala comum milionários, pobres carentes e comerciantes inescrupulosos?
Certamente o descaso pelas coisas realmente importantes e que contam - a vida
espiritual e o relacionamento com Deus; o ávido desejo de se ter o que não se
tem; a idéia de amealhar riquezas; o pensamento de que o dinheiro e os bens
materiais resolverão os problemas e carências experimentadas. Tudo isso
representa a quebra direta do décimo mandamento: "Não cobiçarás".
O décimo mandamento trata de uma atitude interna de cada
pessoa. Esse mandamento, na realidade, interpreta todos os demais ensinando-nos
a guardar a lei de Deus em nossos corações. Um outro importante aspecto do
décimo mandamento é que a cobiça está por trás da maioria dos pecados
cometidos. Ela cega os nossos olhos para as prioridades de vida, como fez com o
jovem rico. Por outro lado, é perfeitamente possível termos contentamento com o
que Deus nos agracia e nas situações em que ele nos coloca. Devemos, como
Jônatas, viver sem inveja, com sentimentos sinceros em nossos corações. Deus
nos chama a um comprometimento interno em uma vida de obediência aos seus
preceitos.
O décimo mandamento é aquele que manifesta o espírito da lei
concedida por Deus. Vamos explicar essa afirmação: todos os nove mandamentos
que o precedem podem, aparentemente, ser avaliados pelas pessoas por atos
externos. Isto é - alguém pode dar a aparência de adorar a Deus, por se
envolver nos cultos da igreja; ou de não
defraudar ao próximo, mas fazendo isso às escondidas; e assim por diante, com
cada um dos mandamentos, até o décimo. Se isso ocorre com alguém, enquanto
aparenta uma coisa, tem outra completamente diferente no coração.
A quebra do décimo mandamento, no entanto, se inicia e
termina no coração de cada um. Ninguém pode olhar para você e dizer se você
está ou não cobiçando. Mas Deus sabe e conhece o seu interior.
Quando alguém externa a cobiça, invariavelmente está
quebrando algum dos outros nove mandamentos, especialmente aqueles relacionados
com nossos deveres para com o nosso próximo. Pense no estudo dos últimos
capítulos, sobre os mandamentos cinco a nove, e constatará que realmente a
cobiça e a inveja foi o fator motivador e o passo principal na quebra dos
outros mandamentos. Quando lemos Mc 15.10 vemos como a inveja está por trás do
falso testemunho prestado pelos sacerdotes contra Jesus: "Pois ele bem
percebia que por inveja os principais sacerdotes lho haviam entregado..."
O décimo mandamento, portanto, nos ensina que Deus olha no
nosso íntimo. Isso tem um significado importantíssimo. Mostra que com cada um
dos demais mandamentos, é exatamente dessa maneira que eles são adequadamente
cumpridos - em nossos corações. É assim que Deus quer que venhamos