PRECE: Senhor Deus! Nós
nos achegamos a Ti, nosso compassivo Redentor; e rogamos-Te, por amor de
Cristo, por amor do Teu próprio Filho. Nosso Pai, que manifestes o Teu poder
entre os que se achegam a Ti. Precisamos de sabedoria; precisamos da verdade;
precisamos que o Espírito Santo esteja connosco, esta noite e sempre. Por
Jesus. Amém.
Recentemente
uma senhora quis falar comigo. Sentia-se nas suas palavras uma grande tristeza
e até uma profunda frustração quando disse:
–
O
meu casamento a partir de uma certa altura começou a ir na direcção errada.
Como quem viaja por uma estrada em que as placas de indicação estão todas
erradas, o que prometia ser uma viagem de felicidade era uma estrada estreita
rumo a um inferno.
Estas
palavras resumiam os 14 anos de vida conjugal. A terminar acrescentou:
– Não sou a favor do divórcio, mas o que podia fazer? Se me
sentia impotente para salvar o meu casamento, talvez possa pelo menos salvar a
minha família que são os meus filhos. O meu marido entrava em casa à 1, 2 horas
da manhã embriagado, nem sempre pude suportar com calma essa situação e quando
lhe dizia alguma coisa, ele batia-me, ficava envergonhada especialmente porque
os meus filhos assistiam.
O casamento desta senhora transformou-se numa estatística.
Foi mais um número que se juntou a milhares de outros naquele ano! Os filhos
dela juntaram-se aos milhares de meninos e meninas que no nosso país vivem em
lares desfeitos. O pior de tudo é que aquela senhora e aqueles meninos, não são
uma simples estatística! São pessoas, são seres humanos. Privados dos seus
sonhos mais acalentados. Ela foi esmagada pela noção de que falhou na maior
aventura da vida. Agora, com o seu orgulho e auto-confiança despedaçados, ela
ficou desorganizada, mal-humorada, incapaz de se concentrar, preocupada com os
filhos.
Como ela e o seu marido muitos casais felizes, vão ao altar
dizer: "até que a morte nos separe". Eles dão as mãos e ouvem as
palavras ditas por Jesus: "... Portanto o que Deus juntou não o separe o
homem". Mateus
19:6 Eles inclinam a cabeça com reverência às palavras ditas
originalmente pelo Criador: "Assim não são mais dois, mas uma só
carne...". Mateus
19:6
Mas, infelizmente, o casamento – esse acordo sagrado dado
pelo próprio Deus é tão rebaixado que pouco se assemelha com o que Deus
tencionava que fosse. O laço sagrado é transformado numa cadeia de frustrações,
discussões, violência, abandono, adultério.
Alguém disse: "vamos considerar o casamento como um cinto
de avião, que se aperta e desaperta”. Noutras palavras, se não está satisfeito,
livre-se!
Um menino de 10 anos disse à sua namoradinha:
"Eu gosto tanto de ti que quando crescermos quero que
sejas a minha primeira esposa."
Qual é o problema? O que é que está errado? O que acontece
entre o altar e o processo de divórcio? Por que razão a realidade não é como o
sonho?
Todos os casais olham o futuro e aguardam com ansiedade o
dia do casamento, anseiam que o sonho se torne realidade. Parece que ele nunca
mais chega. Mas chega. E agora são marido e mulher. E muitos em poucas semanas
tornam-se ansiosos que a realidade se torne sonho! Um sonho, ao acordar nada é
realidade.
Mas é realidade. O que é que está mal no casamento? Será o
casamento ou a instituição? O problema é com as pessoas. São as pessoas que
devem mudar. Casais felizes não se desiludem com o casamento.
Uma vez perguntaram-me:
– Acha que o casamento pode ser bem sucedido?
– Sim, pode! E não há um grande segredo para isso. Não
seria difícil não fosse a fraqueza da natureza humana. Casamentos felizes são
feitos de pequenas coisas. Coisas simples. Gentilezas fundamentais. Atenção sem
egoísmo. As pequenas coisas que vêm tão naturalmente durante o namoro.
Conheço a seguinte história: Um casal estava prestes a
comemorar as bodas de ouro. Alguém perguntou ao marido:
– Qual é a sua receita para um casamento feliz?
– Eu era órfão, e tive que começar a trabalhar muito para
pagar o quarto e a comida. A Sara foi a primeira namorada que eu tive. E quando
chegou a hora de lhe propor casamento, fiquei assustado. Depois do casamento, o
pai dela chamou-me ao lado e deu-me um pequeno embrulho.
– "Aqui está tudo o que precisas saber para ser
feliz".
Isto foi o que lá encontrei: um relógio de bolso em ouro. Abriu-o, e indicou-me
o que estava no mostrador e que ele tinha que ver todas as vezes que visse as
horas: "diz uma coisa linda a Sara".
– Mas não pense que não temos tido ao longo destes 50 anos,
algumas disputas – e acrescentou – sabe qual é o segredo dum casamento feliz? É
saber resolver os problemas e continuar a caminhar juntos!
Creio que não há nenhum casal, que não tenha uma ou outra
vez vivido alguma dificuldade de relacionamento conjugal. Nem pode ser de outro
modo!
Todos os lares têm
problemas. Um conselheiro conjugal perguntou a um jovem casal:
– O que é que vocês têm em comum? – a jovem esposa respondeu:
– Uma coisa: não nos suportamos um ao outro.
John
Milton, o poeta mal casado, ouviu uma vez a esposa ser comparada
a uma rosa. Ele disse:
– Não percebo nada de flores, mas pode ser verdade, pois
sinto os espinhos diariamente.
Há quem diga que as disputas limpam o ar. E talvez o façam,
às vezes. Mas as zangas deixam cicatrizes. E ferimentos feitos com palavras são
mais sérios que os ferimentos físicos. Os ferimentos físicos podem curar
rapidamente. Mas as feridas provocadas por palavras talvez nunca curem.
Muitos casamentos poderiam ser salvos se estivéssemos
dispostos a ouvir e a aceitar que o outro talvez possa estar certo. É claro,
faz parte da natureza humana pensar que temos sempre razão. Um poeta disse uma
vez:
– Eu só vejo dois pontos de vista: aquele que está errado e
o meu.
O Dr. Paul Tournier,
um famoso psiquiatra suíço, afirmou que é uma coisa muito perigosa querer ter
sempre razão e acrescenta:
“As horas mais frutíferas da vida são as da nossa
humilhação, quando vemos os nossos pecados e erros, e quando estamos tristes
por causa deles. Mas enquanto nós mantivermos zelosamente uma rota na qual
sabemos que estamos certos, estaremos imunes a tais sentimentos interiores. E
não obteremos qualquer ajuda.” Dr. Paul
Tournier
Dr. Tournier afirma num dos seus livros sobre casos de
conflito matrimonial: “Aquele que está errado e admite a sua culpa e se
humilha, experimenta uma genuína renovação espiritual. Mas aquele que acha que
tem razão e recusa perdoar, sai mais amargo que quando entrou.”
Um lar onde não existe o reconhecimento de culpa, um lar
onde não existe o perdão, um lar que não faz provisão para um novo começo, é um
lar perto do ponto onde não há retorno. Os conflitos são permanentes,
tornam-se crónicos!
Na Palavra de Deus existe solução até para os conflitos
crónicos. A Bíblia coloca todas as nossas discussões na perspectiva exacta.
Devemos olhar o relacionamento conjugal, como Deus nos olha.
O Novo Testamento mostra o modo como Deus nos olha. Um Deus
que não desculpa o culpado, mas olha o arrependido como inocente. O ponto de
partida, como cristãos, é que todos estamos errados, inteiramente imperfeitos.
A Palavra de Deus é clara. Paulo diz em Romanos 3:23: "Porque
todos pecaram, e destituídos estão da glória de Deus."
Todos estamos diante de Deus, um ser sagrado. Perante a Sua
justiça, a nossa bondade parece trapos sujos. Deus é o único que tem cem por
cento razão! A interminável luta do homem para ter razão, ou seja para se
justificar, é uma causa perdida.
Talvez
a nossa relação com os nossos pais esteja ferida! Ou com os nossos irmãos ou
irmãs! Pode ser com o marido ou com a esposa! Pode até ser com o nosso filho ou
com a nossa filha!
Oh,
Senhor, precisamos tanto de ajuda! Precisamos tanto da palavra certa! Alguém,
esta noite sente necessidade de ajuda? A relação com os seus queridos está tão
defeituosa, e sente-se infeliz?
Se
é assim, deixem que vos diga que na Bíblia encontramos uma mulher parecida
connosco. Era uma mulher que vivia numa aldeia, nas aldeias, toda a gente sabe
tudo da nossa vida.
A mulher de que vos falo vivia na aldeia de
Sicar. Era uma mulher muito infeliz. Ao ponto que tinha decidido não andar na
rua. O seu mundo interior estava tão pejado de imagens negativas, de feridas,
de descrença no ser humano e nela própria, estava tão desiludida com a vida!
Que só saía à rua, quando sabia que toda a gente estava em casa. A hora do calor.
Saiu naquele dia para ir buscar água ao
poço de Jacó, do poço via-se o monte de Gerizim, era um lugar sagrado, Deus
segundo a crença dos samaritanos devia ser adorado naquele monte. Ela era
samaritana!
Mas esse Deus estava tão dolorosamente
distante da angústia interior daquela mulher, que ela já nem olhava para o
monte. Olhava, isso sim, para as suas recordações cheias de relacionamentos
fracturados, com ela própria e com os outros. Eram tantos os conflitos
interiores e as mágoas ocultas!
Estava só, e encontrou outra pessoa
solitária junto do poço. Alguém sentado na borda do poço. A pessoa que estava
sentada no poço, era um homem, era judeu, o que significava um inimigo. Entre
os samaritanos e judeus, existia ódio e desprezo. Os samaritanos eram
considerados traidores e desprezíveis.
Os judeus não falavam com os samaritanos,
mas mais do que isso nem o próprio marido falava com a esposa na rua. Este
homem, quebra todas as barreiras, todos os preconceitos, não só se dirige a ela
com modos meigos, mas pede-lhe ajuda. Pede água. Ela fica tão surpreendida que
reage desta forma: “Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou
mulher e samaritana?” João 4:9
Ela desconhecia ainda que pessoa alguma
estava ou está fora dos limites de Jesus! Ela não sabia que Aquele que estava
ali e lhe pedia água, é muito sensível e que todos os nossos problemas, O
afectam, e Ele quer participar e ajudar a resolver. Ela não sabia que Aquele
que estava ali falava a língua da Terra mas com sotaque do Céu!
Jesus viu na resposta daquela mulher
samaritana uma barreira muito mais profunda que a do sexo ou do nacionalismo.
Ele viu o íntimo, o profundo daquela mulher, e viu um ser em necessidade!
A mulher tentou levantar a barreira do
orgulho, da incredulidade, da religião. Mas Jesus vai ao âmago da necessidade à
origem do problema. Ele o fez com aquela mulher e o faz com cada um de nós. Ele
deseja hoje, neste mesmo instante, sentar-se na beira do nosso caminho, dos
nossos problemas.
E Ele quer partilhar um segredo, será que
há alguém que queira escutar o segredo de Jesus? Alguém que queira libertar-se
dos seus complexos e dos preconceitos só para ouvir Jesus?
Então Ele diz: “Se conheceras o dom de
Deus, e Quem é O que te pede água, tu lhe pedirias e Ele te daria água
viva...”. João 4:10
Jesus prepara aquela mulher para que ela O
interrogue, para que ela fale. Ela precisa tanto de falar para confiar. Ela não
tinha ninguém para a ouvir. A nossa grande necessidade é de ter alguém que nos
escute! É ou não verdade?
E ela fica curiosa, interessada e pergunta:
“Senhor, tu não tens com que tirá-la, e o poço é fundo. Onde tens a água da
vida? És tu maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço, do qual ele
próprio bebeu e, bem assim, os seus filhos e o seu gado?” João 4:11-12
E ela nunca mais se cala, mas Jesus estava
à espera exactamente que ela abrisse o seu coração e falasse. O poço de Jacó
era um tipo de cisterna com cerca de 30 metros de profundidade. Enchia-se com água
de uma nascente e com as águas que caíam da chuva.
O que Jesus oferecia, era água viva que
quer dizer, água corrente. Água que vem da fonte, de nascentes subterrâneas,
fluindo com abundância. Não é pois de admirar que a mulher tivesse perguntado:
“Onde tens tu água viva?” Queria dizer, onde vais encontrar, ou trazer água
desse género? Não está aqui nenhum ribeiro de água fresca!
A conversa atinge um nível profundo e Jesus
vai revelar-Se mais e mais àquela mulher. Sabem, Jesus revela-Se sempre de
forma progressiva. Vai-se revelando para que os nossos olhos o possam realmente
ver, os nossos ouvidos ouvir e a nossa mente compreender. Encontro muita gente,
que me diz: “Não compreendo a Bíblia!” E eu respondo, “Compreendo” porque a
Palavra de Deus compreende-se progressivamente, sacia-nos, não de uma só vez,
mas vai-nos saciando.
Agora Jesus diz: “Todo aquele que beber
desta água tornará a ter sede; mas aquele que beber da água que eu lhe der
nunca mais terá sede. Deveras, a água que lhe der se fará nele uma fonte de
água que jorre para a vida eterna.” João
4:13-14
A mulher olhou para Jesus. E pensou: Quem é
Este? Como pode fazer tal afirmação? Ela sentiu que Ele era especial. Muito
especial! Sim Jesus é especial. Como homem, dormiu no barco. Como Deus, acalmou
a tempestade. Como homem, chorou. Como Deus, disse a Lázaro: “Vem para fora!”
Como homem, foi posto no sepulcro, como Deus, levantou-Se da morte! Jesus é
especial. É Alguém que sabe e compreende!
E de repente ela diz: “Senhor, dá-me dessa
água para que eu não mais tenha sede e não volte aqui para buscá-la.” João 4:15
Jesus tinha tocado na sua sede profunda
pela vida. Mas ela responde ainda de forma superficial, ela esconde ainda o seu
interior, a sua necessidade real, ela não deixa ainda que a água da vida flua e
sacia a necessidade real do seu coração. Quantos de nós somos assim!
O coração cheio de mágoas e ressentimentos
está ainda oculto. Mas Jesus não desiste, há muito que Ele conhecia a
samaritana. Oh, divina Omnisciência! Ele conhece! Jesus é o Senhor do Universo
e da História, num mistério de amor apossa-Se dos homens, e especialmente dos
pobres, dos abandonados, dos tristes, dos que têm o coração vazio e os enche
com a Sua santa e linda presença!
“Vai, chama o teu marido, e vem cá.” João 4:16
Crueldade
ou compaixão nestas palavras? Digo que se trata de compaixão! Jesus sabia que
a vida dela era uma sucessão interminável de relacionamentos infelizes,
magoados e quebrados.
Jesus compreendeu o problema da mulher mas
não a podia ajudar, não podia violar a consciência dela. Ele só podia entrar na
séde da sua vida, lá no jardim da alma e reparar todos aqueles sofrimentos, se ela
o quisesse. Ele não pode ajudar a resolver os problemas de ninguém se não Lhe
for dado espaço para entrar. Então Ele entrará no nosso mundo interior e curará
os sentimentos feridos. Como só Ele pode curar!
Jesus não pode tratar as necessidades
superficiais sem primeiro tratar as profundas! A mulher ficou, por momentos,
sem saber o que fazer. Mas vai ousar confiar, ao menos um pouco e diz: “Não
tenho marido.” João 4:17
É a confidência que lhe sai dos lábios,
escondendo ainda a sua angústia com uma desonestidade dissimulada. Como quem
vai à confissão e fala de tudo, mas não daquilo que a aflige. Como confiar num
homem?! Seja ele padre ou pastor?! Há coisas que não queremos e Deus não nos
obriga a partilhá-las com ninguém a não ser com Ele que é o nosso Pai e que nos
conhece e ama!
Também a samaritana, não confia ainda
plenamente. Mas Jesus, sem a abandonar fica ali e não acusa, não a recrimina,
não a culpa e diz: “Tens razão em dizer que não tens marido, pois já tiveste
cinco maridos, e o que agora tens não é teu marido. Isto disseste com verdade.”
João 4:17-18
Queridos amigos que podia fazer a mulher,
agora? Que teríamos feito nós? Ou melhor, que fazemos quando Jesus coloca o
dedo na nossa ferida, lá onde dói, lá onde há sofrimento, onde nós sabemos que
há pecado? Ela ainda tenta argumentar com as antigas tradições. Ela ainda tenta
uma discussão religiosa. Tenta desviar o assunto daquilo que tem escondido no
seu coração ao dizer: “Nossos pais adoraram neste monte, mas vós, os judeus,
dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar.” João 4:20
Quantas vezes ouvimos nós isto, hoje! Nós
guardamos o Domingo, já os nossos avós o guardavam, mas vós dizeis que é o
Sábado! Mas o que é que tem uma coisa a ver com outra! Ela, como muitas
pessoas, tentou colocar de lado a oferta de Jesus, tentou fugir com os seus
problemas. Ela ainda não percebeu que não se trata de doutrinas, de dogmas, de
tradições, trata-se do problema dela. E no lugar de abrir o coração, está a
tentar argumentar, a fugir da água refrescante, a única que pode saciar a sua
alma ressequida!
Esta noite, quero fazer um apelo: Por
favor, não estejam a ouvir com reservas no coração! Não pensem que a vossa
religião é diferente, melhor ou pior, não é disso que se trata. Do que se trata
é da Pessoa de Jesus. Jesus Cristo perdoou voluntariamente, morreu em nosso
lugar, ressuscitou visivelmente e vive vitoriosamente à dextra do Pai. É disto
que se trata!
Jesus podia-se ter cansado com a
samaritana. Mas Ele amava profundamente. Amar profundamente é ser como Jesus, e
Jesus não podia deixar aquela mulher com os problemas dela, à beira do poço,
sem esperança! Ele podia ter passado horas a discutir sobre a Bíblia para a
convencer que os Judeus estão certos, eram o povo de Deus. Mas não vale a pena
discutir religião. A religião tem que ser vista e vivida, o que interessa é
falar do amor de Deus e é o que Jesus faz. Deus não está limitado pelas
religiões: “Deus é Espírito, e importa que os que O adoram o adorem em espírito
e em verdade.” João 4:21
O Novo Testamento usa duas palavras para
“espírito” nesta passagem a palavra que se refere ao Espírito de Deus é pneuma. E a palavra para o espírito que
habita no homem é pneumati, que quer
dizer a parte mais profunda do ser, com a qual o Espírito de Deus pode e quer
ter relacionamento. É aí que Deus quer falar, por isso Jesus disse à
samaritana: “Mas vem a hora, e já chegou (para ti) em que os verdadeiros
adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, pois o Pai
procura a tais que assim O adoram.” João
4:23
Deus
não está interessado numa adoração de lábios, ou de lugares, lá no Monte de
Gerizim ou em
Jerusalém. Não numa adoração de tradição, não numa adoração
de catedrais. A verdadeira religião foi assim apresentada por Jesus: “Nem todo
o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a
vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor,
Senhor, não profetizámos nós em Teu nome? E em Teu nome não expulsámos
demónios? E em Teu nome não fizemos milagres? Então lhes direi abertamente:
nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade!” Mateus 7:21-23
Ou em: “E nisto sabemos que O conhecemos:
se guardamos os Seus mandamentos. Aquele que diz: Eu conheço-O, e não guarda os
seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade.” I João 2:3,4
‘São estes que o Pai procura’, diz Jesus à
Samaritana. São estes que o Pai quer como Seus adoradores. É uma das afirmações
mais sublimes de Jesus, é uma mensagem de autenticidade e de verdade. E ela
compreende! A voz de Jesus ressoou no mais profundo da sua alma com toda a
autoridade, por isso Jesus revela-Se: “´Ego
Eimi´Eu o sou, eu que falo contigo.” João
4:26. Jesus afirma aqui que é o EU SOU. O Filho de Deus, o próprio Deus!
Eu fico maravilhado com Jesus porque faz
esta revelação a uma mulher, a uma mulher que até nem é uma grande conhecedora
do poder de Deus, nem uma grande cristã, diríamos em linguagem moderna. E fico
não menos maravilhado com a atitude da mulher. Assim que ela descobre Quem é
Aquele que está diante dela, ela deixa de se preocupar com questões pessoais,
esquece-se até que as pessoas da aldeia a criticam pelo seu estilo de vida.
Esquece-se dos preconceitos religiosos.
Corre para a aldeia a fim de contar a todas
as pessoas que encontrou o Homem que lhe contava tudo o que ela tinha feito. É
possível que ela tenha gritado em todas as esquinas, batido em cada porta,
porque era hora de calor e toda a gente estava em casa. ‘Encontrei Aquele que
pode curar todas as feridas. Sou feliz, encontrei o Cristo, o Filho de Deus, e
isso me basta, venham!’
Aquela mulher, habitualmente taciturna, tem
agora um brilho no rosto. E os seus vizinhos podiam ver que ela tinha
encontrado o Salvador. Ela era uma luz, ela que tinha sido uma vela apagada,
brilhava agora, e o povo correu a encontrar-se com Jesus e convidaram Jesus a
ficar com eles. Dois dias depois do Senhor ter ficado com eles, davam
testemunho: “Já não é pelo que disseste que nós cremos, mas porque nós mesmos
temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do Mundo.” João 4:40,42
Jesus foi um ponto de viragem na vida da
samaritana. Ela sentiu que era uma mulher pegada e largada, uma mulher não
amada, cinco maridos que a tinham abandonado, e o que estava com ela agora, não
queria casar, não queria publicamente dizer: “Até que a morte nos separe”. Isto
deve fazer mal a um coração? Depois que encontrou a Jesus, era uma nova pessoa!
Deixem que vos pergunte: Já encontrastes
Jesus? Tendes a alegria de viver a paz, ou sinceramente reconheceis que viveis
como pessoas taciturnas, tristes, sem paz?!
A primeira coisa que Jesus fez pela mulher
foi revelar-Se como o “Eu Sou”, Aquele que antes de ser já era, Aquele que
encarnou para revelar Deus. E ela intuitivamente compreendeu que não havia nada
que ela Lhe pudesse dizer que Ele já não soubesse.
É verdade que podemos resistir-Lhe e Ele
conservar-se-á longe porque Ele não impõe a Sua presença, Ele respeita a
liberdade com que nos criou. Mas não podemos impedir que Ele saiba, mesmo
mantendo-O à distância, que Ele saiba quais são os nossos sentimentos e as
nossas necessidades. O salmista teve estas palavras: “Ó Senhor, tu me sondaste
e me conheces. Tu conheces o meu sentar e o meu levantar; de longe entendes o
meu pensamento. Esquadrinhas o meu andar e o meu deitar, conheces todos os meus
caminhos. Sem que haja uma palavra na minha língua, ó Senhor, tudo conheces.” Salmo 139:1-4
A verdadeira sabedoria não vem pela
observação exterior, mas pela revelação interior. Por isso aquilo que o
salmista tinha dificuldade em compreender, Jesus encarnou para vir pessoalmente
a fim de nos ajudar a abrir os nossos corações.
A segunda ilação que a samaritana tirou
foi: Jesus pode perdoar e reconciliar-nos connosco próprios e com Deus.
Gosto muito da afirmação de um autor
cristão que diz: “Encontrar o perdão real, conhecer o estranho poder de um amor
que não nos abandonará, e conhecer um novo sentido de limpeza interior, é isto
o que significa ser salvo. Ser salvo de tudo o que significa separação de
Deus.” Josiah Royce
A mulher samaritana pensava que os seus
problemas eram todos os seus casamentos fracassados, mas ela veio a descobrir
que o que a debilitava era a orientação que tinha dado à sua vida. E que era
isso mesmo que a debilitava e certamente fazia com que aqueles que com ela viviam
se afastassem. A partir do momento em que o “Ego Eimi” tomou o controlo da sua vida, Jesus perdoou o passado,
consertou o presente e guiou-a no futuro!
Às vezes precisamos de começar de novo,
como uma caixa registadora, do zero, sem nada na fita. Isso é o que significa o
perdão.
Porque será que temos palavras amáveis para
os outros durante todo o dia, mas quando entramos pela porta de nossa própria
casa há uma tendência para sermos diferentes? Amamos a nossa família de todo o
coração. Mas ela sabe disso? Ou agimos como se já soubesse?
Vou terminar com a história mais linda que
eu conheço. Trata-se de um jovem agricultor que chegou a casa numa noite,
cansado, depois de um longo dia de trabalho. Por razões que a sua esposa
ignorava, as vacas fugiram da cerca. E ele culpou-a por isso:
– Tu não tinhas mais nada para fazer – ele
disse – podias pelo menos ter vigiado as vacas.
Imediatamente ele arrependeu-se. Mas o
efeito das palavras já sangrava no coração da jovem esposa. Ele sentiu que
devia pedir perdão aquela noite, mas o orgulho foi mais forte.
Na manhã seguinte ele estava com pressa e
deixou a reconciliação para outra hora. Naquele dia, à tarde uma terrível
tempestade aproximava-se e ele foi para casa. A casa estava vazia. Em cima da
mesa havia um bilhete que dizia o seguinte: "As vacas fugiram outra vez,
lamento. Fui procurá-las. Quando eu voltar, por favor, não me trates mal!” A
esposa... naquela tempestade? Ele apressou-se em procurá-la, sem se importar
com os animais. Ela não tinha percebido a gravidade da tempestade, que agora
estava com toda a fúria. Relâmpagos rasgavam o céu. Os estrondos dos trovões
eram ensurdecedores e o vento cegava. Ele procurou desesperadamente a sua
amada. Toda a noite procurou nos vales e nas colinas. Quando o sol começou a
brilhar ele voltou para casa e encontrou o corpo da esposa estirado não muito
longe onde ele a tinha ferido com palavras. Agora era tarde para as palavras
amáveis, ele teria dado tudo para as poder dizer.
Oh, se pela manhã, ele tivesse apagado as
palavras duras da noite! Oh,... uma palavra, um gesto, teria evitado tanta
angústia e tanta lágrima!
Oh,... lábios que mostram impaciência com
palavras acusadoras e que provocam uma vida tão cruel... Oh, se a noite não
fosse tão tarde, a manhã brilharia com sol!
Todos nós falhamos. Mas graças a Deus,
podemos encontrar Jesus junto à beira do nosso caminho, hoje! Ele sabe, Ele tem
remédio, para que se opere em nós uma mudança, uma cura se permitirmos que a
divina presença entre na nossa alma. Que daria por um coração novo? Um lar
feliz? Você prometeu junto ao altar o melhor. O Céu está pronto a ajudar!
José Carlos Costa, pastor