sábado, 5 de julho de 2014

O Mito e Milagre do Casamento

Nosso título é “E Viverem Felizes Para Sempre”. Não é assim que os contos de fada terminam? O conhecido escritor cristão Chuck Swindoll diz em seu livro Strike the Original Match (1980) a respeito da pequena Suzie, 4 anos, que ouvira pela primeira vez a história da Branca de Neve.

            “Ela mal podia esperar para chegar em casa na volta da escola e contá-la a sua mãe. Com os olhos arregalados e cheios de entusiasmo ela recontou para sua mãe, naquela tarde, o conto de fadas. Depois de narrar como o príncipe encantador chegou montado em seu lindo cavalo branco e beijou a Branca de Neve trazendo-a novamente à vida, a Suzie perguntou sonoramente:

            -- E você sabe o que aconteceu então?

            -- Bem, eu sei – a mãe respondeu. – Eles viveram felizes para sempre.

            -- Não! -- foi a resposta com o franzir da testa. -- Eles se casaram” (p. 39).

            Um comentário que revela muito discernimento e proferido pelos inocentes lábios de uma criança de quatro anos, não é mesmo? O casar-se e o viver felizes para sempre, necessariamente não são sinónimos! Alguns já chegaram à conclusão de que essas palavras não possuem o mesmo significado.

            Considere o casamento dos contos de fadas do Príncipe Charles e da Princesa Diana. A jovem e nobre Diana Frances Spencer, filha de pais divorciados, e vinda de uma infância infeliz, apaixonou-se pelo solteiro mais cobiçado do mundo, um príncipe encantador e bonitão. No dia 29 de julho de 1981, três quartos de um bilhão de pessoas, em 74 países (minha esposa e eu incluídos), sintonizaram a televisão para assistirem a um magnífico espetáculo coreográfico titulado: “O Casamento do Século”. Quando o casal real parou diante do Arcebispo de Canterbury, Robert Runcie, o mundo inteiro ouviu-o proferir a bênção sobre o Príncipe e a futura Princesa. Este é um trecho do sermão:

                        “Eis o epítome do conto de fadas: O Príncipe e a Princesa no dia do casamento! No entanto, os contos de fadas normalmente acabam aqui com a frase: ‘E Viveram Felizes para Sempre’. Talvez isto se deva ao fato de as histórias dos contos de fadas considerarem o casamento como um anticlímax, depois do romance do namoro” (Brondos, 2004).

            Pouco então o mundo sabia que o casamento celebrado naquele dia, em Londres, iria de fato se tornar exatamente no que o ministro disse que não se tornaria: “um anticlímax depois do romance do namoro”. Dezasseis anos, um mês, e uma semana depois – a princesa por quem o mundo se apaixonou morreu em Paris, vítima de um absurdo acidente automobilístico. Desta vez, um bilhão de pessoas se reuniram ao redor de seus aparelhos de televisão para assistirem ao funeral e prantear a morte da princesa que nunca viveu feliz para sempre.

Casamentos e Famílias Assediados

            Diante dessa nota sombria, pergunto-lhe: Qual é a verdade a respeito de “casamentos felizes”? Trata-se de um mito? É um mistério? É um milagre? Ainda é possível viver feliz para sempre?

            Esta na moda apresentar estatísticas deploráveis a respeito do divórcio para provar que o casamento é uma instituição combalida. Não irei citar essas estatísticas. O fato é que a geração atual, chamada de “Geração X” não necessita de estatísticas a respeito do casamento. Esses jovens são o produto da geração mais prejudicada na história do mundo. Se você deseja alguns números, tente estes: A cada 24 horas, 3.533 crianças nascem de mães solteiras, e mais de 2.500 crianças vivem o divórcio ou separação dos pais. Somados, mais de 6.033 crianças, a cada dia, passam a fazer parte da classe de lares desfeitos, de relacionamentos rompidos e de famílias fragmentadas. E isto apenas nos Estados Unidos. Não surpreende que a Geração X tenha um retrato muito batido da estabilidade conjugal. Não surpreende que se distanciem do casamento aos montes!

            Este é o retrato da desesperança? Há esperança para o casamento, uma instituição combatida e assediada? Pode um lar destruído ser restaurado? Pode uma família fragmentada ser restaurada? Um casamento ruim pode tornar-se bom? O casamento bom pode melhorar mais ainda? Pode um amor medíocre se tornar em um amor maravilhoso? E se eu não me casar, posso também experimentar a maravilhosa dádiva de Deus da amizade e do amor em minha vida?

            Bem, não desejo prometer-lhe o céu mas, na verdade, tenho boas notícias para todos; ela está envolta na história de Jesus.

Pregar com Sensibilidade a Respeito do Casamento

            Antes de iniciarmos com as Escrituras e as boas novas em Jesus, posso ser sincero com você? Hesito um pouco para pregar a respeito do tema do casamento. Em primeiro lugar, temo que possa dar a impressão de que sou especialista no tema. Não sou. Na verdade, fiz aconselhamento pré-nupcial para centenas de casais e realizei muitos casamentos. Ainda, já vivo por vinte e quatro anos e meio a vida de casado com a Karen (desde o dia em que a pedi em casamento ela respondeu que sim.) E estes têm sido, em grande parte, anos felizes. No entanto, não estaria sendo honesto comigo se não admitisse que temos enfrentado nossa parte de lutas e ajustes conjugais nesse período. Nossos dias não são um mar de rosas. O fato é que a Karen e eu, juntamente com todos os casados, estamos “no processo” de permanecermos unidos. A jornada do casamento prossegue. Meu medo é que, quando eu falar a respeito do casamento, a Karen faça anotações e depois venha a lê-las para mim nos meus momentos de negligência e esquecimento (“Bem, quanto àquele sermão de casamento que você proferiu ...!”)

            Meu segundo motivo para hesitar decorre de minha percepção de que nem todos os que ouvirão são casados. Alguns são solteiros por opção ou por circunstâncias sobre as quais não têm controle. Estou preocupado de que alguns possam concluir que o casamento seja a única fórmula prescrita para a felicidade humana. O apresentador de televisão, Art Linkletter, perguntou a uma menina pequena: “Qual é sua história bíblica favorita?” A resposta foi, a história de Noé. “Verdade? E o que essa história lhe diz?” ele prosseguiu. “Bem, os animais entraram de dois em dois; portanto você deve se casar se não quiser ficar para trás”. Realmente não creio que esta foi a lição que Deus pretendia! Gostaria que os solteiros encontrassem na história que estou por contar alguns princípios vitais para tornarem seus relacionamentos o mais satisfatórios e gratificantes que possam ser.

            Por fim, hesitei em falar a respeito do casamento porque sei que há corações muito magoados que também estarão ouvindo, algumas pessoas queridas cuja peregrinação conjugal as levou ao divórcio. Sei que não importa há quanto tempo este tenha ocorrido, a dor permanece. As pessoas que passaram pelo divórcio dizem que as feridas, que a dor e as cicatrizes são profundas. Assim sendo, eu hesitei ... Por temer que, de alguma forma, possa fazer parecer que as pessoas casadas estão criticando ou condenando aqueles que sofreram a dor do divórcio e que se sentem fracassados. Deus não castiga ou condena. Não é essa minha intenção também. Tampouco a Igreja procede dessa forma!

            Jesus está envolvido na tarefa de oferecer cura e esperança. Ele Se dispõe a fazer isso por aqueles cujo casamento acabou como também por aqueles que estão sobrevivendo no casamento, ou seja, todos os que estamos casados! Sim você está certo. O projeto de Deus para a felicidade no Jardim do Éden, no princípio, era que o casamento fosse uma feliz realidade para a raça humana. Mas não vivemos em um jardim perfeito; vivemos em um mundo caído. Portanto, em meio a nossos fracassos e faltas, Deus Se adianta com uma palavra de esperança e cura para cada um de nós: solteiros, casados, divorciados, viúvos, casados novamente – a todos nós.

O Segredo Divino para a Realização e Amizade no Casamento

            Deixando a indecisão de lado, voltemos à esperança e à cura oferecidas por Cristo. Consideremos atentamente um único evento na vida de Jesus, um incidente que tem muito que ver com os casamentos e que ultrapassa os limites deste e toca a todos nós. Leiamos João 2:1-10:

                        “No terceiro dia houve um casamento em Caná da Galileia. A mãe de Jesus estava ali; Jesus e seus discípulos também haviam sido convidados para o casamento. Tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: ‘Eles não têm mais vinho’. Respondeu Jesus: ‘Que temos nós em comum, senhora? A minha hora ainda não chegou’. Sua mãe disse aos serviçais: ‘Façam tudo o que ele lhes mandar’. Ali perto havia seis jarros de pedra, do tipo usado pelos judeus para as purificações cerimoniais, cada jarro com capacidade para setenta e cinco a cento e quinze litros. Disse Jesus aos serviçais: ‘Encham os jarros com água’. E os encheram até à borda. Então lhes disse: ‘Agora, tirem um pouco e levem-no ao encarregado da festa’. Eles assim o fizeram, e o encarregado da festa provou a água que fora transformada em vinho, sem saber de onde este viera, embora o soubessem os serviçais que haviam tirado a água. Então chamou o noivo e disse: ‘Todos servem primeiro o melhor vinho e, depois que os convidados já beberam bastante, o vinho inferior é servido; mas você guardou o melhor até agora’.”

            Eis aqui o segredo do casamento, o segredo para cada relacionamento. Ele se encontra na exclamação surpreendente do mestre de cerimónias do noivo: “você guardou o melhor até agora”. Outra tradução diz: “Você guardou o melhor até o fim!” Jesus provê o melhor, quer na cerimónia, no casamento ou na vida! Quando você tem Jesus, tem a Fonte do milagre. Jesus, o Salvador do Casamento. Jesus, Aquele que opera milagres. Jesus, O Parceiro no casamento.

            Um Casamento a Três. No plano estratégico de Deus para a felicidade no casamento sempre são necessárias três pessoas. Ainda, os três são necessários para que a amizade seja eterna! Este princípio vital é poderosamente expressado no livro de Eclesiastes. “Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho” (4:9). “Melhor é serem dois do que um” – todos os que desejam uma amizade sabem que certamente isto é verdade, não é mesmo?

            Quando eu era estudante universitário, uma banda australiana chamada Three Dog Night cantava uma música chamada “Um”, transmitindo uma mensagem que todos reconheciam: “Um é o número mais solitário que você fará”. Necessitamos de outras pessoas em nossa vida. Na verdade, há uma nova compreensão na velha música da Bárbara Streisand: “As pessoas que necessitam das pessoas são as pessoas mais felizes no mundo”. Agora sabemos que as pessoas que necessitam de outras pessoas são as mais saudáveis também!

            Na década de 1970, Leonard Syme, professor de epidemiologia na Universidade da Califórnia, em Berkeley, estava tentando descobrir porque os homens japoneses que viviam na Califórnia tinham de duas a cinco vezes mais ataques cardíacos do que os homens com os mesmos níveis de colesterol que viviam no Japão. A diferença era os laços sociais próximos e o companheirismo. A maioria de nós, quando somos um, desejamos ser dois. Esse anelo que se manifesta no desejo de companheirismo é o elemento que forma a amizade!

            Leia novamente Eclesiastes 4:9-11:

                        Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque se caírem, um levanta o companheiro; ai, porém, do que estiver só; pois, caindo, não haverá quem o levante. Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só como se aquentará?

            Mas se você deseja fazer a conta aritmética da força, durabilidade e do poder, poderá somar mais um para obter três! Continuemos a ler o verso 12:

                        Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; o cordão de três dobras não se rebenta com facilidade.
 
            Esta é uma ilustração que tenho usado nos sermões de casamento: Utilize um cordão ou corda decorativa, do tipo usado para reservar bancos em ocasiões especiais. Note-lhe a composição; ele é feito de três fios. Quando trançados, o resultado é uma corda com incrível resistência. Isto é precisamente o que a Escritura deseja transmitir! A presença de Cristo dá força ao casamento.

Criados para o Relacionamento

            Volte comigo para o dia em que Deus estabeleceu o casamento no Jardim do Éden!
                        Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. (Gén. 1:27).

            Deus é um Ser relacional que vive e ama a amizade. Por que então deveria alguém se surpreender de que os seres humanos, que Ele criou à Sua própria imagem, reflitam essa mesma fome por
relacionamentos? Os seres humanos foram criados desde o início para buscarem o companheirismo! Deus criou primeiro uma metade da raça humana, precisamente Ele pode, de uma forma eterna, ilustrar como todos fomos criados para o companheirismo. A Bíblia apresenta o seguinte registro:

                        Havendo, pois, o SENHOR Deus formado da terra todos os animais do campo e todas as aves dos céus, trouxe-os ao homem, para ver como este lhes chamaria; e o nome que o homem desse a todos os seres viventes, esse seria o nome deles. Deu nome o homem a todos os animais domésticos, às aves dos céus e a todos os animais selváticos; para o homem, todavia, não se achava uma auxiliadora que lhe fosse idônea. (Gén. 2:19, 20)

                        Disse mais o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idónea.

            Com essa surpreendente auto-revelação, Adão tornou-se o primeiro paciente cirúrgico! Leia os versos 21 e 22:

                        Então, o SENHOR Deus fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu; tomou uma das suas costelas e fechou o lugar com carne. E a costela que o SENHOR Deus tomara ao homem, transformou-a numa mulher e lha trouxe.
 
            Quando Adão despertou viu uma beleza que lhe fez parar o coração, suspender a respiração, acelerar o pulso, cair o queixo e arregalar os olhos – Eva! “Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, ...” (Gén. 2:23).

            Tenho ouvido muitas piadinhas a respeito de Deus haver feito primeiro o homem e então a mulher. Alguns dizem que depois que Deus passou um tempo com Adão, Ele disse para Si mesmo: “Posso fazer algo melhor do que isso”, e portanto criou Eva. O fato é, Deus criou o homem e a mulher como metades iguais da raça humana, separadamente para intensificar a conscientização de que homem e mulher foram criados para serem iguais, e para o companheirismo cooperativo. Por favor, homens, notem que Deus tomou uma costela do lado de Adão, não um osso de seus pés ou do seu crânio. Não, ela não deveria ser superior ou inferior a ele. Ela veio de seu lado, para permanecer a seu lado. Deus tirou um osso logo acima do coração de Adão a fim de que para sempre fosse mostrado que o homem e a mulher, esposo e esposa, deveriam ser amigos e parceiros para sempre, com mãos e corações unidos, cuidando da perfeita criação de Deus.

            Quem pregou o primeiro sermão da cerimónia nupcial? Deve ter sido Aquele que os uniu. “Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne” (Gên. 2:24). Temos aqui o início do casamento. O casamento foi designado pelo Criador a fim de gerar felicidade e realização máximas conforme a matemática de Deus: Deus + marido + mulher = Um.

            Certa vez alguém teve a audácia de brincar: “No casamento homem e mulher se tornam um; o problema começa quando tentam decidir quem será esse um!” Não, não e não! Quando o casamento é uma corda trançada com três fios – Deus, o homem e a mulher – o milagre da unidade é a fusão misteriosa de duas vidas imponentes e independentes unidas por Deus em uma única vida, uma criação de amor. Na aritmética de Deus, 1 + 1 + 1 = 1. Foi assim no princípio. Deve ser assim também no fim. Mesmo nesta geração a promessa da aritmética de Deus ainda é verdadeira: Se vocês forem um no Senhor, Ele irá torná-los um por toda a vida!


Princípios Práticos para o Casamento

            Como eles funcionam? Permita-me partilhar com você alguns princípios práticos e factíveis que Deus oferece em Sua Palavra àqueles que estão pensando em se casar, àqueles que anelam transformar seu casamento e àqueles que desejam tornar aquilo que é bom em melhor!

            Princípio 1 – “Amar”. O primeiro princípio vem envolto pela palavra “amor”. Efésios 5:25-29 diz:

                        Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito. Assim também os maridos devem amar a sua mulher como ao próprio corpo. Quem ama a esposa a si mesmo se ama. Porque ninguém jamais odiou a própria carne; antes, a alimenta e dela cuida, como também Cristo o faz com a igreja”.

            Não há pessoas mais amimadas no mundo do que os homens! Observe-os olhando-se no espelho, cedo de manhã. Note com que delicadeza massageiam o rosto, fazem a barba como se fosse uma obra de arte, cada cortezinho ou arranhão é delicadamente lavado e tratado como se fosse uma grande cirurgia. Veja-os enquanto penteiam os cabelos (alguns apenas pulem sua cúpula!). Cada fio é cuidadosamente arrumado e tratado e algumas vezes fixado. As mulheres podem ser vaidosas, mas creio que os homens ainda o são muito mais! E é isso o que Paulo escreve: como vocês maridos devem cuidar de suas esposas – da mesma forma como tratam seu corpo – com ternura e carinho.

            Paulo acrescenta como incentivo o supremo exemplo do amor em toda a história da humanidade. Leva-nos, os maridos, à cruz de Cristo e, apontando para o rosto moribundo de Jesus exclama: “Ouçam, rapazes, amem sua esposa assim como Cristo amou a Igreja”. A palavra grega para amor – agapè (substantivo) ou agapao (verbo) – significa “abnegação, crucificar o eu”. É o mesmo amor que se encontra em João 3:16: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigénito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. É o tipo de amor que está disposto a sacrificar-se pelo bem do outro. Coloca o bem do outro acima de si próprio! Interpretando, maridos, significa que devemos colocar os interesses de nossa esposa acima de nossos interesses. Minha esposa é mais importante do que a minha vida. Devo amá-la assim como Jesus me ama.

            Pastoreei igrejas em Coquille e Myrtle Point, em Oregon, onde havia muitas serrarias. Algumas vezes, ao as madeiras flutuarem pelo rio, todas as toras se aglomeravam de tal forma que acabavam emperradas no fluxo do rio. A única forma de fazer com que seguissem seu curso era remover a tora que estava impedindo a passagem das demais. Portanto, quando temos uma discussão conjugal e ela realmente fica feia e começa a esquentar e a romper o silêncio, é minha a responsabilidade de iniciar o processo de remoção da tora. É dever do marido se humilhar e remover essa tora. “Querida (você não é obrigado a usar essa palavra, porém, de forma geral, uma expressão de apreço faz bem em uma ocasião como essa!), sinto muito por permitir que a discussão chegasse a esse ponto. Eu estava errado (ainda você possa estar com a razão) em deixar que a discussão se acalorasse tanto. Peço desculpas. Desejo remover a tora a fim de que nosso casamento possa fluir suavemente outra vez”. É da responsabilidade do marido crucificar o eu, iniciar o pedido de desculpas e buscar a reconciliação.

            De acordo com o princípio do amor sacrifical, o homem não deve ficar amuado e esperar que a mulher busque a reconciliação, “Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou...”

            O princípio número um é o amor, amor altruísta. A propósito, simplesmente porque Paulo concita os maridos a iniciarem o amor altruísta não significa que a esposa não deve amar da mesma forma! Efésios 5:21 é claro: “sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo”. Há uma submissão mútua no amor de um pelo outro! Mas alguém tem de tomar a iniciativa e, marido, você é essa pessoa! Isto não nos torna superiores, antes nos deve tornar humildes. Amor.

            Princípio 2 – “Gostar”. Gostar um do outro. Este á um princípio bíblico, como claramente documenta o livro de Cantares. O Cântico de Salomão, uma das maiores canções de amor na literatura diz: “Tal é o meu amado, e tal o meu amigo” (5:16). Os casamentos que duram para sempre não são apenas para amantes, mas para amigos – pessoas que não apenas amam uma a outra, mas que também gostam de estar uma com a outra.

            Os casamentos não são automáticos; devemos investir em toda uma vida de amizade. Empenhamo-nos por manter nossas amizades; por que não o casamento?

            Minha mãe enviou para a Karen e para mim um livro maravilhoso vários anos atrás de autoria de Wayne Rickerson (1982) que trata do tema de como manter viva a chama e aventurar-se a crescer no casamento. O ponto principal do autor é simples – devemos estabelecer alvos para nosso casamento. O que isto significa? Ouça algumas sugestões práticas que ele sugere para manter-nos contemplando nosso futuro juntos.

         Planear uma tradição – algo que possam fazer a cada ano.
         Escolher outro casal com quem desenvolver amizade íntima.
         Jantarem juntos, apenas os dois, uma vez por mês.
         Planearem um retiro anual, apenas os dois.
         Empreenderem uma viagem especial.
         Fazerem um curso juntos (culinária, fotografia, paisagismo, etc.)
         Praticarem um Desporto juntos (caminhadas, natação, etc.)
         Caminharem e conversarem – um período regular para caminharem e conversarem temas de interesse de ambos.
         Um hobby – fotografia, artesanato, atividade ao ar livre, etc.
         Almoçarem juntos uma vez por semana.
         Lerem um livro juntos (talvez um ou dois por ano a respeito do casamento, e trocarem idéias a respeito). (p. 52.)

            Participarem de algo divertido, algo agradável onde a intimidade entre vocês possa crescer. Falando de forma clara: continuar preferindo um ao outro! Gosto muito da forma como Salomão expressa seu amor na passagem que lemos anteriormente: “Tal é o meu amado, e tal o meu amigo”. Com planeamento proposital, podemos manter nosso casamento crescendo como amigos – não apenas como amantes mas também tendo amizade um pelo outro.

            Princípio 3 – “Esquecer ...” No meu pensamento poderiam ser 30 princípios em vez de 3, mas este um é fundamental para a cura no casamento como também para fazê-lo crescer. Consideramos os verbos “amar” e “gostar”. Este é Esquecer. ... “Ame”, “Goste”, e “Esqueça ...”;  de forma mais específica, soltar. É exatamente isso o que a Bíblia está aconselhando e Efésios 4:32: “Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou”.
            Alguns de vocês foram profundamente feridos pelo cônjuge. Eu sei; como pastor, tenho ouvido relatos muito tristes e visto muitas lágrimas. Ouvi o pranto de homens e de mulheres, corações partidos com o fim do casamento. Mas Deus oferece livremente um bálsamo gratuito para a cura de cada casal que o desejar, para cada cônjuge que recebê-lo. Esse bálsamo conjugal, esse remédio especial é chamado de perdão.

            A palavra grega comum para “perdão”, literalmente, significa “absolver”, “desobrigar”, “tirar da mente”. Não está sendo aqui sugerido que o abuso contra o cônjuge, contra os filhos, ou a infidelidade devem ser toleradas ou aceitas como algum tipo de humildade virtuosa. Esse comportamento destrutivo deve ser abandonado. Se o agressor não mudar o comportamento, a vítima deverá se afastar desse relacionamento impróprio, pelo menos por um tempo até que haja certeza de mudança. Porém, mesmo em tais circunstâncias, o perdão pode curar?

            Nunca irei esquecer do artigo que li a respeito de um rapaz que descreveu sua vida como filho de um alcoólatra. No artigo, podia-se sentir a amargura nas entrelinhas, pela dor que seu pai lhe infligira ao longo dos anos. As últimas palavras do filho foram: “Odiei meu pai pelos primeiros vinte anos de minha vida. Não o odeio mais. Eu entendo, mas não perdoo. Portanto, pai, não estenda a mão esperando que alguém lhe retribua o gesto. Não espere”.

            Um paradoxo. Talvez realmente ele não mais odeie o pai, mas o trágico é que sem o perdão esse rapaz nunca poderá experimentar a cura. Veja como Lewis Smedes descreve o paradoxo do perdão: “Perdoar é pôr em liberdade um prisioneiro, e descobrir que este é você” (Smedes, 1983, p. 26).

            Leiamos novamente Efésios 4:32: “Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou”. Veja, o Calvário é o ponto culminante, iluminado para todo amor, toda associação e todo perdão. Na cruz fomos confrontados com o preço infinito que o próprio Deus pagou para nos perdoar quando nos rebelamos e nos afastamos dEle. Jesus, naquela sexta-feira fatídica, não orou: “Pai, amaldiçoa-os porque Tu sabes o que fizeram”. Mas Ele orou: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23:34).

            Por saber das bilhões de vezes que cuspi no rosto de Deus ao escolher ignorá-Lo, por saber que Ele continuou amando-me e indo ao meu encontro, rogando para que eu aceitasse o Seu amor e Sua amizade, e por saber que fui perdoado para sempre por meu Pai e Amigo – então e somente então posso ter certeza de que Ele possui toda a força e coragem e amor de que eu necessito para perdoar aquele me feriu profundamente.

            Não esquecer, mas perdoar. “Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou”. Perdoar não significa esquecer. Há algumas feridas e cicatrizes que são impossíveis de serem esquecidas. Como escreveu J. Allan Petersen em seu livro, The Myth of the Greener Grass (1983): “O perdão não é uma borracha que elimina eternamente de nossa memória os atos. Isto é impossível. Isto é história. A cicatriz pode ser permanente” (p. 145).

            Não significa esquecer, mas perdoar significa libertar, deixar aquele que o feriu aos cuidados e guarda de Deus, mediante silenciosa oração: “Eu o perdôo por aquilo que você me fez, assim como Deus me perdoou por aquilo que Lhe fiz. Escolho livrar-me de minha ira e amargura contra você. Eu o perdoo”.

Conclusão

            Uma mulher escreveu esta carta à “Querida Abby” – colunista Abigail Van Buren:

                        Querida Abby: Eu tinha vinte e eles vinte e seis. Fomos casados por dois anos e eu sequer sonhava que ele pudesse ser infiel. A horrível verdade chegou a meu lar quando uma jovem viúva de uma fazenda vizinha veio dizer-me que estava carregando um filho de meu marido. Meu mundo desabou. Desejei morrer. Lutei contra um sentimento de querer matá-la e a meu marido.

                        Sabia que essa não era a resposta. Orei pedindo forças e direção. E recebi. Sabia que devia perdoar a meu marido, e perdoei. Perdoei-a também. Calmamente disse a meu marido o que aprendera e os três nos empenhamos por uma solução. (Que criatura assustada e pequena ela era!) O bebé nasceu na minha casa. Todos pensaram que eu dera à luz e que minha vizinha estava ‘me ajudando’. Na verdade foi o contrário. A viúva foi poupada da humilhação (ela tinha três outros filhos), e o menino foi criado como meu filho. Ele nunca soube a verdade.

                        Fora essa uma compensação divina diante de minha impossibilidade de ter um filho? Não sei. Nunca mencionei esse incidente a meu marido. Foi um capítulo encerrado em nossa vida por cinquenta anos. Mas pude ler o amor e a gratidão em seus olhos milhares de vezes. (Citado em Peterson, 1983, pp. 146, 147).

            Como você pode ver, o mestre de cerimónias na pequena vila estava certo: “você guardou o melhor até agora”, porque com Jesus o melhor vem no final. Com Jesus você pode amar novamente... e gostar novamente ... e perdoar novamente ... e muitas outras vezes. Com Jesus, a frase “e viveram felizes para sempre” se transforma de mito em milagre. Exatamente o milagre para o qual cada casamento foi predestinado!


Referências

Brondos, J. (15 de setembro de 2004). Fairy tale beginning. Extraído da Internet em 26 de outubro de 2004: http://joelbrondos.worldmagblog.com/archives/008607.html
Petersen, J. A. (1983). The myth of the greener grass. Wheaton, IL: Tyndale House Publishers.
Rickerson, W. (1982). We never have time for just us. Ventura, CA: Regal Books.
Smedes, L. (7 de janeiro de 1983). Forgiveness: The power to change the past. Christianity Today, 22-26.

Swindoll, C. R. (1980). Strike the original match. Portland, OR: Multnomah Press.

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