Gálatas 1.6-9
O evangelho de Jesus confronta e desafia o mundo pós-moderno
proclamando que somente o evangelho tem a solução para os problemas do homem.
Numa sociedade em que as pessoas procuram uma saída para os seus sofrimentos, o
evangelho de Jesus é a solução disponível.
O grave problema, porém, é que muitas pessoas estão a ser
enganadas pelo falso evangelho. John Robbins diz: "Dinheiro falso se
parece com dinheiro genuíno e ele tem que ser assim, para poder enganar as
pessoas. Evangelhos falsos são parecidos com o real, e eles enganam a
muitos". O falso evangelho é pregado por falsos obreiros, gerando falsos
crentes e falsas igrejas. E a essência do falso evangelho é acrescentar algo à doutrina
da justificação pela fé.
Hoje, prega-se um evangelho cada vez mais pervertido,
destituído de conteúdo bíblico, de autoridade espiritual e com motivações
comerciais. É uma vergonha!
O apóstolo Paulo enfrentou problema semelhante. Ele escreve
às igrejas da Galácia com o objetivo de combater o falso evangelho: Admira-me
que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo
para outro evangelho. Ele está atónito ou espantado com a possibilidade dos
irmãos apostatarem da sua fé, influenciados por um falso evangelho. Observem
que ele fala sobre alguns que querem perverter o evangelho de Cristo. O
evangelho que pertence a Cristo está a ser subvertido.
1. O QUE É O EVANGELHO PERVERTIDO?
Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos
chamou na graça de Cristo para outro evangelho, o qual não é outro, senão que
há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo (Gl
1.6,7).
A mensagem que resume este trecho é que só existe um
evangelho verdadeiro: o evangelho de Cristo. Quatro perguntas chaves:
O que é o
evangelho? É a boa nova da salvação exclusivamente na pessoa e obra de
Jesus Cristo. Proclamar o evangelho é anunciar o Cristo crucificado. John Stott
diz que o evangelho só é pregado quando Cristo é "publicamente exposto na
sua cruz" (1Co 1.18-25). O evangelho é um evento histórico, único e que
não se repete.
“O evangelho deve ser apresentado, não como uma teoria sem
vida, mas como uma força viva para transformar o caráter. Deus quer que Seus
servos dêem testemunho de que, mediante Sua graça, os homens podem possuir
semelhança de caráter com Cristo e regozijar-se na certeza de Seu grande amor.
Quer que demos testemunho de que Ele não pode ficar satisfeito enquanto todos
quantos hão-de aceitar a salvação não forem reivindicados e reintegrados em
seus santos privilégios como Seus filhos e filhas. “{CBVc 30.1}
Qual a origem do
evangelho? A origem do evangelho é divina. Trata-se do evangelho de Deus
(Rm 1.1), o evangelho de Cristo, isto é, o evangelho que pertence a Cristo ou
concernente a Cristo. É a boa nova que veio do céu.
O que o evangelho oferece? A bênção da justificação, pela
fé, isto é, Deus nos aceita como justos diante dele quando cremos e aceitamos
que Jesus Cristo morreu pelos nossos pecados (Rm 5.1).
O que o evangelho exige? Para receber a bênção da
justificação eu não preciso fazer absolutamente nada. Tenho apenas que crer.
Jesus já fez tudo que precisava. Este é o evangelho da graça de Deus (Gl 1.3,
6).
Não existe outro evangelho. Mas que outro evangelho é este
que Paulo está combatendo? Nos versos 6 e 7 temos duas expressões chaves:
(1) “Outro evangelho” (no grego: eteroneuagelion). Na língua
grega, há dois vocábulos que traduzem a palavra outro: Eteros, que significa
outro de espécie diferente e allos, que significa outro da mesma espécie. Assim
sendo, Paulo entendia que este outro evangelho de natureza diferente, nem era
outro evangelho, porquanto só existe um evangelho verdadeiro. Não existe outro
evangelho legítimo ou um segundo evangelho.
(2) Perverter, no original grego é metastrepho, que
significa transferir, modificar e subverter. Este termo é usado apenas três
vezes no Novo Testamento (At 2.20; Gl 1.7; Tg 4.9), com o sentido de provocar
uma reviravolta ou inverter algo. Os judaizantes haviam invertido, virado os
ensinamentos em direção contrária, tentando conduzir os irmãos da graça de
volta para a lei. O processo de perversão do evangelho de Cristo, não nega a
pessoa e a obra de Jesus, simplesmente, acrescenta a elas o cumprimento da lei.
Os falsos mestres misturavam a lei e o evangelho, ensinavam a salvação por meio
da graça e da obediência da lei.
Tudo que se tenta acrescentar à graça de Deus, a perverte ou
a subverte. A salvação é única e exclusivamente pela graça (Ef 2.8).
Atualmente temos observado algumas perversões do evangelho
de Jesus Cristo:
· O evangelho da prosperidade que ensina que ser abençoado é
ter prosperidade material. Ser abençoado é ter bens materiais, não ficar doente
e não ter problemas.
· O evangelho da graça barata que não exige o
arrependimento, não combate o pecado e nem ensina a centralidade da cruz. Este
evangelho recruta voluntários, mas não produz discípulos.
· O evangelho do poder espiritual que enfatiza curas,
milagres e bênçãos imediatas. A igreja é uma prestadora de serviços espirituais
que atende a um público consumidor carente.
· O evangelho da tradição humana que tenta preservar
tradições humanas do passado (tradicionalistas) ou criar inovações humanas
atuais (inovadores). Substitui ou acrescenta tradições humanas ao evangelho
puro e simples.
2. QUEM SÃO AQUELES QUE PERVERTEM O EVANGELHO?
Quem eram os indivíduos que pervertiam o evangelho de Cristo
entre os gálatas? Paulo sabia que eram os judeus judaizantes (At 15.1). Os
judaizantes eram judeus convertidos ao cristianismo, que continuavam a praticar
e a defender os princípios do judaísmo. Primeiro, eles pensavam que o
cristianismo era único e exclusivamente para os judeus. A base para este
pensamento é que eles só admitiam a nação judaica como o povo escolhido de
Deus. Esta foi uma dificuldade enfrentada até pelos apóstolos (At 10.9-16;
11.1-18).
Segundo, eles entendiam que a única maneira de um gentio
tornar-se cristão era se tornando judeu. Isto significava que devia ser
circuncidado e cumprir as exigências da lei. A solução deste problema só foi
encontrada na reunião dos apóstolos e presbíteros em Jerusalém. Eles decidiram:
“Pelo que, julgo eu, não devemos perturbar aqueles que, dentre os gentios, se
convertem a Deus, mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos
ídolos, bem como das relações sexuais ilícitas, da carne de animais sufocados e
do sangue” (At 15.19-20).
Sabemos que a igreja e o evangelho sempre sofrerão ataques
dos falsos obreiros. Quando Paulo escreveu a Timóteo, disse: Se alguém ensina
outra doutrina e não concorda com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo
e com o ensino segundo a piedade, é enfatuado, nada entende, mas tem mania por
questões e contendas de palavras, de que nascem inveja, provocação, difamações,
suspeitas malignas, altercações sem fim, por homens cuja mente é pervertida e
privados da verdade, supondo que a piedade é fonte de lucro (1Tm 6.3-5).
Ele apresenta as marcas do falso mestre: (1) Ensinam
doutrinas contrárias ao ensino bíblico (heresias); (2) Ensinam doutrinas que
não motivam a vida piedosa e a santidade; (3) São pessoas orgulhosas que acham
que sabem tudo; (4) São pessoas maníacas por discussões teóricas ou
especulações de linguagem; (5) São pessoas que produzem inveja, provocação, difamações,
suspeições malignas e brigas constantes; (6) São pessoas que têm a mente
pervertida e incapaz de conhecer a verdade de Deus; (7) São pessoas que fazem
da religião uma fonte de lucro ou que ensinam para ganhar dinheiro.
3. QUAIS SÃO OS FRUTOS DO EVANGELHO PERVERTIDO?
Há somente um evangelho verdadeiro: Jesus. Ele é o caminho,
a verdade e a vida (Jo 14.6). Observe o emprego dos artigos definidos o e a.
Jesus não é uma opção, mas a única alternativa de chegarmos a Deus. Quando este
evangelho é pervertido traz conseqüências sérias. Paulo apresenta três:
3.1. Apostasia
“Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que
vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho” (Gl 1.6,7). A sentença
“estejais passando” (no original grego metatithemi) significa transferir,
transportar para outro lugar, remover, com o sentido de uma modificação de
mente e coração. Trata-se de apostasia da fé, uma traição a Cristo. Paulo fala
da rapidez desta traição: tão depressa ou logo no início da carreira cristã, logo
após a conversão. Paulo pede aos gaiatas que interrompam o processo.
A apostasia é vista por Paulo como uma ação demoníaca. Ora,
o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da
fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela
hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência
(1 Tm 4.1,2). A fonte da apostasia é a sedução demoníaca que se utiliza de
homens hipócritas e mentirosos. A mensagem que produz a apostasia é o ensino de
demônios. Os gaiatas não estavam apenas mudando de religião, ou de igreja, mas
abandonando a Deus e a graça salvadora.
3.2. Confusão
“O qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e
querem perverter o evangelho de Cristo” (Gl 1.7). Perturbam, no original grego,
tarasso, significa perturbar, agitar, sacudir, transtornar, revolver,
desequilibrar e lançar confusão. Veja outros textos para melhor compreender o
sentido da confusão aqui referida: Ez 32.2; Mt 2.3; 14.26; Lc 1.12; Jo 14.1. O
verbo usado por Paulo está no presente contínuo, significando que aquela
perturbação era uma ação contínua dos perturbadores.
Quando o verdadeiro evangelho é pregado de forma deturpada
ao invés de trazer luz e paz, traz trevas e confusão. O evangelho da graça conduz
a paz (Gl 1.3). A graça não apenas salva, mas sustenta a vida do cristão. Ela é
suficiente para capacitar o crente a enfrentar os sofrimentos (2Co 12.1 -10),
fortificar o crente em suas fraquezas (2Tm 2.1) e viver uma vida cristã
vitoriosa (Gl 3.3; 5.4).
3.3. Maldição
“Mas ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue
evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema” (Gl 1.8). Ser
anátema é ser maldito ou amaldiçoado da perspectiva divina, pronto para ser
destruído (1Co. 16.22). Deus é fonte de maldição e bênção (Dt 28). Ser um
anátema também significa estar perdido ou separado de Cristo (Rm 9.3).
Uma pessoa que ouve e acredita no evangelho deturpado está
enganado quanto à sua salvação, permanecendo em seu estado de perdição e condenação
(Jo 3.36), mesmo que tenha realizado falsos milagres (Mt 7.22,23).
CONCLUSÃO
Os reformadores do século XVI viam a figura do anticristo
como aquela pessoa que se opunha ao ensino bíblico da justificação somente pela
fé. O ministério do anticristo é substituir o Evangelho por "outro
evangelho".
O que diria Lutero ou Calvino se vivessem nos dias de hoje?
A situação hoje é pior do que nos dias da Reforma. A doutrina da justificação
pela fé na obra realizada por Jesus Cristo sumiu do nosso meio. O lugar da
bênção não é mais a cruz (Gl 6.14), não é mais Jesus (Ef 1.3), mas a igreja. O
discurso é: Depois que eu vim para esta igreja, minha vida mudou. Quando
deveria ser: Jesus Cristo mudou a minha vida.
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