terça-feira, 3 de setembro de 2013

O Poder do Evangelho contra o Poder do Mundo

Gálatas 1.6-9
O evangelho de Jesus confronta e desafia o mundo pós-moderno proclamando que somente o evangelho tem a solução para os problemas do homem. Numa sociedade em que as pessoas procuram uma saída para os seus sofrimentos, o evangelho de Jesus é a solução disponível.
O grave problema, porém, é que muitas pessoas estão a ser enganadas pelo falso evangelho. John Robbins diz: "Dinheiro falso se parece com dinheiro genuíno e ele tem que ser assim, para poder enganar as pessoas. Evangelhos falsos são parecidos com o real, e eles enganam a muitos". O falso evangelho é pregado por falsos obreiros, gerando falsos crentes e falsas igrejas. E a essência do falso evangelho é acrescentar algo à doutrina da justificação pela fé.
Hoje, prega-se um evangelho cada vez mais pervertido, destituído de conteúdo bíblico, de autoridade espiritual e com motivações comerciais. É uma vergonha!
O apóstolo Paulo enfrentou problema semelhante. Ele escreve às igrejas da Galácia com o objetivo de combater o falso evangelho: Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho. Ele está atónito ou espantado com a possibilidade dos irmãos apostatarem da sua fé, influenciados por um falso evangelho. Observem que ele fala sobre alguns que querem perverter o evangelho de Cristo. O evangelho que pertence a Cristo está a ser subvertido.

1. O QUE É O EVANGELHO PERVERTIDO?
Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho, o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo (Gl 1.6,7).
A mensagem que resume este trecho é que só existe um evangelho verdadeiro: o evangelho de Cristo. Quatro perguntas chaves:
O que é o evangelho? É a boa nova da salvação exclusivamente na pessoa e obra de Jesus Cristo. Proclamar o evangelho é anunciar o Cristo crucificado. John Stott diz que o evangelho só é pregado quando Cristo é "publicamente exposto na sua cruz" (1Co 1.18-25). O evangelho é um evento histórico, único e que não se repete.
“O evangelho deve ser apresentado, não como uma teoria sem vida, mas como uma força viva para transformar o caráter. Deus quer que Seus servos dêem testemunho de que, mediante Sua graça, os homens podem possuir semelhança de caráter com Cristo e regozijar-se na certeza de Seu grande amor. Quer que demos testemunho de que Ele não pode ficar satisfeito enquanto todos quantos hão-de aceitar a salvação não forem reivindicados e reintegrados em seus santos privilégios como Seus filhos e filhas. “{CBVc 30.1}
Qual a origem do evangelho? A origem do evangelho é divina. Trata-se do evangelho de Deus (Rm 1.1), o evangelho de Cristo, isto é, o evangelho que pertence a Cristo ou concernente a Cristo. É a boa nova que veio do céu.
O que o evangelho oferece? A bênção da justificação, pela fé, isto é, Deus nos aceita como justos diante dele quando cremos e aceitamos que Jesus Cristo morreu pelos nossos pecados (Rm 5.1).
O que o evangelho exige? Para receber a bênção da justificação eu não preciso fazer absolutamente nada. Tenho apenas que crer. Jesus já fez tudo que precisava. Este é o evangelho da graça de Deus (Gl 1.3, 6).
Não existe outro evangelho. Mas que outro evangelho é este que Paulo está combatendo? Nos versos 6 e 7 temos duas expressões chaves:
(1) “Outro evangelho” (no grego: eteroneuagelion). Na língua grega, há dois vocábulos que traduzem a palavra outro: Eteros, que significa outro de espécie diferente e allos, que significa outro da mesma espécie. Assim sendo, Paulo entendia que este outro evangelho de natureza diferente, nem era outro evangelho, porquanto só existe um evangelho verdadeiro. Não existe outro evangelho legítimo ou um segundo evangelho.
(2) Perverter, no original grego é metastrepho, que significa transferir, modificar e subverter. Este termo é usado apenas três vezes no Novo Testamento (At 2.20; Gl 1.7; Tg 4.9), com o sentido de provocar uma reviravolta ou inverter algo. Os judaizantes haviam invertido, virado os ensinamentos em direção contrária, tentando conduzir os irmãos da graça de volta para a lei. O processo de perversão do evangelho de Cristo, não nega a pessoa e a obra de Jesus, simplesmente, acrescenta a elas o cumprimento da lei. Os falsos mestres misturavam a lei e o evangelho, ensinavam a salvação por meio da graça e da obediência da lei.
Tudo que se tenta acrescentar à graça de Deus, a perverte ou a subverte. A salvação é única e exclusivamente pela graça (Ef 2.8).
Atualmente temos observado algumas perversões do evangelho de Jesus Cristo:
· O evangelho da prosperidade que ensina que ser abençoado é ter prosperidade material. Ser abençoado é ter bens materiais, não ficar doente e não ter problemas.
· O evangelho da graça barata que não exige o arrependimento, não combate o pecado e nem ensina a centralidade da cruz. Este evangelho recruta voluntários, mas não produz discípulos.
· O evangelho do poder espiritual que enfatiza curas, milagres e bênçãos imediatas. A igreja é uma prestadora de serviços espirituais que atende a um público consumidor carente.
· O evangelho da tradição humana que tenta preservar tradições humanas do passado (tradicionalistas) ou criar inovações humanas atuais (inovadores). Substitui ou acrescenta tradições humanas ao evangelho puro e simples.

2. QUEM SÃO AQUELES QUE PERVERTEM O EVANGELHO?
Quem eram os indivíduos que pervertiam o evangelho de Cristo entre os gálatas? Paulo sabia que eram os judeus judaizantes (At 15.1). Os judaizantes eram judeus convertidos ao cristianismo, que continuavam a praticar e a defender os princípios do judaísmo. Primeiro, eles pensavam que o cristianismo era único e exclusivamente para os judeus. A base para este pensamento é que eles só admitiam a nação judaica como o povo escolhido de Deus. Esta foi uma dificuldade enfrentada até pelos apóstolos (At 10.9-16; 11.1-18).
Segundo, eles entendiam que a única maneira de um gentio tornar-se cristão era se tornando judeu. Isto significava que devia ser circuncidado e cumprir as exigências da lei. A solução deste problema só foi encontrada na reunião dos apóstolos e presbíteros em Jerusalém. Eles decidiram: “Pelo que, julgo eu, não devemos perturbar aqueles que, dentre os gentios, se convertem a Deus, mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, bem como das relações sexuais ilícitas, da carne de animais sufocados e do sangue” (At 15.19-20).
Sabemos que a igreja e o evangelho sempre sofrerão ataques dos falsos obreiros. Quando Paulo escreveu a Timóteo, disse: Se alguém ensina outra doutrina e não concorda com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e com o ensino segundo a piedade, é enfatuado, nada entende, mas tem mania por questões e contendas de palavras, de que nascem inveja, provocação, difamações, suspeitas malignas, altercações sem fim, por homens cuja mente é pervertida e privados da verdade, supondo que a piedade é fonte de lucro (1Tm 6.3-5).
Ele apresenta as marcas do falso mestre: (1) Ensinam doutrinas contrárias ao ensino bíblico (heresias); (2) Ensinam doutrinas que não motivam a vida piedosa e a santidade; (3) São pessoas orgulhosas que acham que sabem tudo; (4) São pessoas maníacas por discussões teóricas ou especulações de linguagem; (5) São pessoas que produzem inveja, provocação, difamações, suspeições malignas e brigas constantes; (6) São pessoas que têm a mente pervertida e incapaz de conhecer a verdade de Deus; (7) São pessoas que fazem da religião uma fonte de lucro ou que ensinam para ganhar dinheiro.

3. QUAIS SÃO OS FRUTOS DO EVANGELHO PERVERTIDO?
Há somente um evangelho verdadeiro: Jesus. Ele é o caminho, a verdade e a vida (Jo 14.6). Observe o emprego dos artigos definidos o e a. Jesus não é uma opção, mas a única alternativa de chegarmos a Deus. Quando este evangelho é pervertido traz conseqüências sérias. Paulo apresenta três:
3.1. Apostasia
“Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho” (Gl 1.6,7). A sentença “estejais passando” (no original grego metatithemi) significa transferir, transportar para outro lugar, remover, com o sentido de uma modificação de mente e coração. Trata-se de apostasia da fé, uma traição a Cristo. Paulo fala da rapidez desta traição: tão depressa ou logo no início da carreira cristã, logo após a conversão. Paulo pede aos gaiatas que interrompam o processo.
A apostasia é vista por Paulo como uma ação demoníaca. Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência (1 Tm 4.1,2). A fonte da apostasia é a sedução demoníaca que se utiliza de homens hipócritas e mentirosos. A mensagem que produz a apostasia é o ensino de demônios. Os gaiatas não estavam apenas mudando de religião, ou de igreja, mas abandonando a Deus e a graça salvadora.
3.2. Confusão
“O qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo” (Gl 1.7). Perturbam, no original grego, tarasso, significa perturbar, agitar, sacudir, transtornar, revolver, desequilibrar e lançar confusão. Veja outros textos para melhor compreender o sentido da confusão aqui referida: Ez 32.2; Mt 2.3; 14.26; Lc 1.12; Jo 14.1. O verbo usado por Paulo está no presente contínuo, significando que aquela perturbação era uma ação contínua dos perturbadores.
Quando o verdadeiro evangelho é pregado de forma deturpada ao invés de trazer luz e paz, traz trevas e confusão. O evangelho da graça conduz a paz (Gl 1.3). A graça não apenas salva, mas sustenta a vida do cristão. Ela é suficiente para capacitar o crente a enfrentar os sofrimentos (2Co 12.1 -10), fortificar o crente em suas fraquezas (2Tm 2.1) e viver uma vida cristã vitoriosa (Gl 3.3; 5.4).
3.3. Maldição
“Mas ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema” (Gl 1.8). Ser anátema é ser maldito ou amaldiçoado da perspectiva divina, pronto para ser destruído (1Co. 16.22). Deus é fonte de maldição e bênção (Dt 28). Ser um anátema também significa estar perdido ou separado de Cristo (Rm 9.3).
Uma pessoa que ouve e acredita no evangelho deturpado está enganado quanto à sua salvação, permanecendo em seu estado de perdição e condenação (Jo 3.36), mesmo que tenha realizado falsos milagres (Mt 7.22,23).

CONCLUSÃO
Os reformadores do século XVI viam a figura do anticristo como aquela pessoa que se opunha ao ensino bíblico da justificação somente pela fé. O ministério do anticristo é substituir o Evangelho por "outro evangelho".

O que diria Lutero ou Calvino se vivessem nos dias de hoje? A situação hoje é pior do que nos dias da Reforma. A doutrina da justificação pela fé na obra realizada por Jesus Cristo sumiu do nosso meio. O lugar da bênção não é mais a cruz (Gl 6.14), não é mais Jesus (Ef 1.3), mas a igreja. O discurso é: Depois que eu vim para esta igreja, minha vida mudou. Quando deveria ser: Jesus Cristo mudou a minha vida.

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