quarta-feira, 30 de maio de 2012

UMA ANÁLISE DA MISSÃO DA IGREJA Á LUZ DA “GRANDE COMISSÃO”

Seguiram os onze discípulos para a Galiléia, para o monte que Jesus lhes designara. E quando O viram, O adoraram; mas alguns duvidaram. Jesus, aproximando-Se, lhes falou, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no Céu e na Terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.” S. Mateus 28:16-20

Assim terminou a jornada terrestre de nosso Senhor, de acordo com o relato de Mateus sobre Sua vida. Inerente a essa última declaração de Cristo está a comissão entregue a Seus discípulos. Aqui Jesus prepara o terreno para tudo o que ainda está para acontecer com a igreja infante que Ele estabeleceu.
A Grande Comissão permanece como a "Carta Magna" da igreja cristã - a razão de sua existência. É chamada de a "Grande Comissão" por causa da magnitude do mandato. É totalmente abrangente. Frederick Bruner nota cinco "todos" que formam a Grande Comissão: "Toda autoridade", "todas as nações", "em nome [de todo o Deus]", "todas as coisas que vos tenho ordenado", "estou convosco todos os dias". Frederick Dale Bruner – Mateus Vol. 2 – O livro da Igreja, pág. 1094. É o impressionante alcance desses "todos" que deu o merecido nome de "grande" a essa comissão."
A cena na encosta da montanha lembra uma cena similar ocorrida cerca de quinze séculos antes, quando Jeová reuniu como nação, no monte Sinai, os recém libertados escravos. Lá, Deus falou e comissionou Israel para ser Seu povo e ouvir Sua lei. Agora, Jesus está prestes a comissionar o novo Israel.
Na montanha da comissão, o Jesus ressuscitado aparece aos discípulos, assim como Mateus registrou que Ele aparecera às mulheres. Não necessariamente para provar que ressuscitou, mas com o propósito de revelar que Sua condição de "ressuscitado" Lhe dá autoridade para emitir a comissão (Mat.28:18). O fato de que Jesus ressuscitou dos mortos dá uma força tremenda à comissão que Ele está prestes a comunicar a Seus discípulos.

A Autoridade Universal de Jesus
Tendo visto o Senhor ressuscitado, os discípulos escutaram abismados Suas palavras quase inacreditáveis: "Toda autoridade me foi dada no Céu e na Terra". Mat. 28:18. Jesus agora não pergunta, como fez anteriormente: "Quem diz o povo ser o Filho do Homem?" Mat. 16:13. Agora Ele declara que quem tem absoluta e total autoridade sobre o Céu e a Terra. “Aqui, Jesus está declarando ser o diretor executivo de todo o Universo”. Essa é a declaração de maior autoridade que Ele já fez. É impressionante, grandiosa, e todo-poderosa. Ele não é mais o frágil e indefeso; é o que possui toda autoridade. Que reivindicação extraordinária!
No monte Sinai, Deus primeiramente Se revelou ao povo de Israel em tons de trovão para enfatizar Sua autoridade e poder. Jesus agora restabelece essa cena para comissionar Sua igreja do Novo Testamento. Quem ordena a Grande Comissão não é apenas Jesus, mas Jesus com autoridade. Em nenhum outro lugar da Bíblia Ele aparece de forma tão imperiosa como ao proferir a Grande Comissão. Só isso bastaria para enfatizá-la. Ela não pode ser considerada levianamente. Não é só mais uma ordem, entre outras, que Jesus dá, mas de certo modo é "a" ordem de Jesus, pois abrange todas outras ordens. Fidelidade à Grande Comissão significa ser fiel a todas as outras ordens de Jesus. Infidelidade nesse ponto é ser infiel a Jesus que tem autoridade - o diretor executivo do Universo. Não ousamos desobedecer à missão de quem possui toda, completa e máxima autoridade.
Os adventistas professamos ser a igreja remanescente, que guarda os mandamentos de Deus e a fé de Jesus (Apoc. 12:17). Essa é uma alegação audaciosa que envolve mais do que guardarmos o sábado. Também deve significar que somos obedientes à Grande Comissão. Seria impossível ser a igreja remanescente, se não guardássemos a mais autorizada ordem de Jesus: a Grande Comissão.
Tendo Se declarado possuidor da máxima autoridade, Jesus agora, emite a divina comissão: "Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações". Mat. 28:19. A ordem é incrível. Como poderia um pequeno grupo de onze pessoas pobres, meio incrédulas e duvidosas, cumprir um projeto tão grandioso - fazer discípulos de todas as nações? O único meio é através do poder dAquele que tem toda autoridade.
Essa ordem deve ter assombrado aqueles primeiros discípulos. Como seria possível fazer discípulos de todas as nações? Ainda hoje, depois de dois mil anos, a tarefa nos parece gigantesca. Contudo, a ordem no texto está inseparavelmente ligada à autoridade de Jesus. É somente através de Sua autoridade que essa ordem pode ser cumprida. Já que Jesus possui autoridade universal, os discípulos podem se sentir encorajados a ir ao mundo, proclamar a mensagem do Cristo ressuscitado e fazer discípulos para Ele em todas as nações.
Portanto, os fundamentos de missão estão profundamente enraizados na divindade de Jesus Cristo como Senhor absoluto do Céu e da Terra. O motivo da missão cristã às nações só pode ser entendido no contexto da ressurreição e da vitória de Cristo sobre a morte. Essencial a essa comissão está o inegável pensamento de que o próprio Jesus proverá o poder e os meios para sua realização. Portanto, Ele declara que Ele estará com Seus discípulos até o fim dos séculos (verso 20), para o bem das nações (pessoas) que precisam ser alcançadas. Não é uma garantia incondicional de Sua presença, mas uma arrojada declaração que estaria com eles “em missão”.
"Em seu contexto imediato, a declaração de Jesus afirmando que estaria 'com' foi dada a discípulos que fazem discípulos. Não seria justo, para com a Grande Comissão relatada em Mateus, dizer que a promessa especial de Jesus de estar com os discípulos foi dada para qualquer um e todos que se dizem cristãos - não foi dada, como as vezes dizemos, 'incondicionalmente'. Foi dada condicionalmente - para cristãos missionários”. Frederick Dale Bruner – Mateus Vol. 2 – O livro da Igreja, pág. 106.

Não era para os discípulos simplesmente irem às nações. Deveriam ir, porque Cristo tem autoridade total sobre as nações. Portanto, eles não devem sair para essa missão sem a presença dAquele que tem toda a autoridade. Inerente ao chamado da Grande Comissão está a promessa do Espírito, que Se manifestaria completamente no Pentecostes.
O relato de Lucas contém a promessa: "Eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder". Lucas 24:49. Cada um dos evangelhos sinópticos relata o mesmo pensamento como sendo inerente à Grande Comissão - o poder do Espírito Santo para capacitar a realização da missão do Senhor ressurreto. Na verdade, o poder do Espírito era tão essencial à realização dessa missão que Jesus pediu que os discípulos esperassem até que recebessem esse poder, antes que pudessem ir às nações em Sua autoridade (Lucas 24:49).


O princípio organizador da igreja do Novo Testamento
A ordem aqui é bem diferente daquela dada a Israel. Israel recebeu a comissão de criar uma comunidade atenciosa que refletisse o Deus verdadeiro. A nação foi posta na encruzilhada das civilizações, de onde atrairia outros povos para que esses, aprendessem do Deus verdadeiro. Em contraste a isso, Cristo dá a comissão ao novo Israel para ir a todas as nações. Isso revela uma principal diferença de missão entre Israel e a igreja. A igreja de Jesus não deveria ser organizada com base no modelo do Antigo Testamento, mas numa ordem nova. Deveria ser organizada para o bem do cumprimento da missão de Cristo, que é fazer discípulos de todas as nações. Precisamos estar seguros de que temos uma organização aperfeiçoada para cumprir essa missão. Isso exige de nós avaliação contínua, porque muitas vezes o que inicialmente beneficiou a missão, tempos depois, pode não ser útil.
Atualmente, nossas igrejas, muitas vezes oferecem programas centralizados nelas, e esperam que o povo seja atraído para receber instruções. Isso é um modelo do Antigo Testamento. A igreja não deveria meramente ser a comunidade reunida, posicionada como testemunha de Cristo. Jesus, com autoridade, disse à igreja: "Ide". Somente quando nos dispersarmos, como sal, impregnando o mundo, é que realmente mostraremos ser a igreja da Grande Comissão. A maioria das nossas igrejas entende muito bem como operar a igreja reunida, mas tem feito muito pouco para ensinar os membros a serem a igreja dispersada. Entendemos a imagem de "fortaleza" aplicada à igreja, mas falhamos em entender a imagem “de sal”. Não podemos descartar a primeira imagem, mas isso só não basta. Temos que ser a igreja espalhada pelo mundo.
Geralmente, convidamos amigos para reuniões evangelísticas e outras atividades da igreja local. Isso é bom, mas não é o quadro completo que Jesus nos deu. A igreja não é o prédio - a igreja é o povo. Portanto, onde as pessoas da igreja estiverem, aí é a igreja. Na segunda-feira, a igreja pode funcionar no escritório, na fabrica. ou no clube de saúde. Quando os membros interagem com o mundo em seus negócios e lazer, eles estão sendo a igreja espalhada. Se somos, de fato, a Igreja da Grande Comissão temos que ensinar nossos membros a serem “Igrejas" no trabalho, no lazer e no lar.
Não mais estamos sob o modelo do Antigo Testamento. Não podemos esperar apenas que as pessoas venham até nós. A ordem de Jesus é radicalmente diferente; somos enviados ao mundo para fazermos discípulos. Atualmente, nossas igrejas estão mais baseadas no paradigma do Antigo Testamento do que no modelo da Grande Comissão. É hora de nos reorganizarmos segundo o modelo do Novo Testamento.
Embora o objetivo da Missão seja “fazer discípulos” a ênfase dada por Jesus está mais no “enviar”, uma vez que o fazer discipulos deve acontecer no processo de “ir” em vez da igreja esperar que as pessoas venham a ela, como no antigo modelo. A igreja não pode se contentar em simplesmente sentar e tentar incentivar as pessoas ao discipulado. O mandato é inconfundível: a igreja deve "ir"; e, nesse processo, é que ela deve fazer discípulos.
A ordem da Grande Comissão é a criação de uma igreja “espalhada” como forma dominante, e não a igreja "reunida" como forma dominante. Necessitamos dela, mas essa não deve ser a forma principal da igreja. A verdadeira igreja da Grande Comissão é a que age como sal, infiltrando-se na comunidade para fazer discípulos.
A igreja tende a estar sempre satisfeita com o que já realizou - e falhar em continuar avançando. Jesus não poderia ter usado um imperativo mais poderoso do que o da Grande Comissão. Ele ordena a Seus discípulos: "Ide". Essa poderosa ordem é usada mais três vezes no Evangelho de Mateus (Mat. 2:8; 11:4; 28:7). Em cada caso, é uma ordem para as pessoas irem fisicamente a algum lugar. Portanto, poderia muito bem ser traduzida por: "mexa-se". Frederick Dale Bruner – Mateus Vol. 2 – O livro da Igreja, pág. 1096. Devemos sair à comunidade e encontrar maneiras de fazer contato com pessoas que estão longe de Jesus.
Essa ordem não deve ser ignorada. Deve haver urgência em sua resposta. Não há mais necessidade de esperar. O poder que desceu no Pentecostes está plenamente disponível, agora, aos discípulos modernos. Portanto, a urgência da Grande Comissão compele a igreja a se envolver com a missão de Cristo, agora.

A tríplice missão da grande comissão
Qual é essa missão? De acordo com a comissão, é fazer discípulos, batizando-os, e ensinando-lhes tudo o que Jesus ordenou. A missão está centralizada nestas três tarefas: fazer discípulos, batizar, e ensinar. A missão não está completa até que todas elas tenham sido realizadas. Somente quando seguimos essa fórmula tríplice como igreja é que pode afirmar que estamos cumprindo a missão. E tudo deve ser feito no processo de "ir".
Enquanto a igreja marca presença no mundo, espalhando-se, ela faz discípulos, batiza, e ensina. Portanto, se uma igreja batiza as pessoas sem fazer discípulos ou
sem ensiná-los, ela é desobediente a Cristo. Se faz discípulos e deixa de batizá-los, ela é desobediente a Cristo. Se ensina as pessoas os mandamentos de Cristo, mas não faz discípulos e não batiza, ela é desobediente a Cristo, Até mesmo quando uma igreja fizer discípulos e batizar as pessoas, mas falhar em continuar ensinando-lhes os mandamentos de Jesus, ela é desobediente a Cristo. A ordem de nosso Senhor é clara demais para ser mal-entendida.
Em diferentes épocas da história do cristianismo, a igreja realçou uma das três dimensões da missão, mas raramente colocou a mesma ênfase em todas as três dimensões. Em muitos casos, a ênfase degenerou para um jogo de números, no qual todo o destaque passa a ser o batismo, com pouca atenção dada ao discipulado e ensino. Somente uma ênfase equilibrada no discipulado, batismo e ensino pode cumprir a Grande Comissão evangélica.
A verdadeira igreja de Jesus hoje deve ser a igreja da Grande Comissão.
uma que seja sincera em relação ao cumprimento da missão. Se a igreja origina-se na Grande Comissão, sua vida e prática devem girar em torno do cumprimento dessa comissão, como razão para sua existência. É nessa base que a igreja de Jesus hoje deve se tornar o verdadeiro povo missionário de Deus para o bem das nações.


O Que É Um Discípulo
na Compreensão de Jesus?
Já que a Grande Comissão constitui a razão para a existência da igreja, e já que essa comissão ordena que ela faça discípulos, é essencial que tenhamos uma compreensão clara e bíblica do termo discípulo. Considerando que fazer discípulos é algo tão crucial ao cumprimento da Grande Comissão, precisamos entender claramente o assunto como Jesus o compreendia.

A compreensão de Jesus sobre discípulo
A palavra discípulo é traduzida do termo grego mathetes. A idéia teve origem na Grécia, quando um aluno se unia a um professor a fim de adquirir conhecimento teórico e prático. É usada no Novo Testamento para indicar ligação total a alguém em discipulado. Ser discípulo, segundo o Novo Testamento, é viver em relacionamento com Aquele que está discipulando. Nesse relacionamento, o discípulo deve aprender continuamente sobre a outra pessoa, enquanto ao mesmo tempo vive em sujeição a ela. A palavra não sugere uma conversão rápida ao mestre, mas um lento processo pelo qual se é feito discípulo.
Essa compreensão da palavra discípulo, conforme usada na época do Novo Testamento, nos ajuda a entender melhor as palavras da Grande Comissão: discipular, batizar, ensinar. Discipulado envolve principalmente comprometimento de alguém com certa pessoa, e submissão à sua autoridade, a fim de ser ensinado. O discípulo nunca é totalmente discipulado, mas está sempre nesse processo. Desse modo, o que é requerido de uma pessoa, antes que seja batizada, é que ela entre em completa submissão à autoridade de Cristo, esteja disposta a viver em sujeição a Ele e a aprender sobre Ele enquanto viver.
A palavra discipulos ilustra alunos sentados ao redor de um professor mais do que penitentes ajoelhados num altar – um processo educacional mais do que um, evento evangelístico; uma escola, mais do que um reavivamento.
A explicação que o comentarista bíblico Frederick Bruner dá à palavra discípulo tem grande peso evangelístico. Ele sugere que, ir a Cristo é um ato de Deus, então os seres humanos não podem levar as pessoas a terem fé em Cristo. Tudo o que podem fazer é criar um ambiente de educação que faz as pessoas ficarem cientes de Cristo e de Sua Palavra. Nesse ambiente, elas então podem ser levadas à fé em Cristo. Porém, elas o fazem através de sólida educação sobre a vida e os ensinamentos de Cristo; e não de uma compreensão superficial do que significa ser cristão.
Ele estabelece a diferença entre o fazer discípulos, que leva ao batismo, e a continuação do fazer discípulos, após o batismo.
"Discípulo" (matheteusate) no imperativo aorístico é o verbo explicativo que resume todas responsabilidades missionárias. Então, os outros dois verbos no gerúndio "batizando" e "ensinando" (baptizontes e didaskontes) particularizam os dois objetivos do discipulado: o batismo, objetivo do evangelismo; o ensino, meio de educar. O discipulado atinge seu primeiro objetivo no "ato definitivo do batismo e é continuado através da contínua atividade do ensino". Assim a Grande Comissão diz aos cristãos tanto o meio de iniciação (batismo) quanto o meio de continuação (os ensinamentos de Jesus). De acordo com essas evidências, parece que fazer discípulos é tanto uma obra inicial quanto uma obra contínua, na vida de quem é levado ao discipulado.
A pergunta que nos preocupa agora é: Qual é a obra inicial de fazer discípulos que precisa ser feita antes que uma pessoa seja batizada? De acordo com a Grande Comissão, as pessoas são feitas discípulos, então são batizadas, e depois instruídas. Há pouca discórdia entre cristãos sobre o fato de que elas prescisam de ensinamento contínuo após o batismo. A área de discórdia é quanto ao que deve ser ensinado antes do batismo.

Como se tornar um discípulo
O ponto principal da Grande Comissão é o objetivo de Jesus: fazer discípulos. Existe o discipulado inicial, necessário para o batismo, e o discipulado contínuo, que é necessário para o ensino. As pessoas devem ser batizadas quando atingirem a fase inicial do discipulado. Nessa altura, elas são discípulos; porém não completamente maduros. Por isso Jesus sugere que nós os batizemos - esses discípulos iniciais - e que continuemos ensinando-lhes num modelo contínuo de discipulado.
Tendo esse pensamento em mente passaremos a examinar as afirmações que Jesus mencionou como sendo necessárias para alguém se tornar discípulo. Ele trata com o discipulado inicial, necessário antes do batismo, em vez do discipulado contínuo, recebido depois do balismo.
A primeira passagem detalhando o que significa ser um discípulo, de Jesus encontra-se em Mateus 10:24, 25:
"O discípulo (mathetaí) não está acima de seu mestre, nem o servo, acima de seu senhor. Basta ao discípulo ser como o seu mestre, e ao servo, como o seu senhor. Se chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto mais aos seus domésticos?"
Essa passagem indica que aquele que se torna discípulo entra num relacionamento de aprendizagem com o Mestre. O discípulo tem disposição para aprender, requisito indispensável para quem deseja ser batizado como discípulo de Jesus. Essa passagem também sugere que quem se tornar discípulo de Jesus pode, esperar ser tratado como Ele o foi - incompreendido e perseguido. No início de sua conversão a Cristo, é difícil para as pessoas suportarem provas por causa da sua fé.
Porém, se o discípulo é capaz de suportar ataques, como sugere o texto, então ele deve ter alcançado um mínimo de maturidade de fé em Cristo. Portanto, parte do processo evangelístico de se fazer discípulos é ajudar o crente a desenvolver uma fé madura o suficiente para suportar perseguição ou ridículo. Isso foi especialmente verdadeiro no que se refere aos cristãos primitivos que, em muitos casos, perderam a vida logo após sua entrega a Cristo.
A segunda passagem principal sobre a compreensão de Jesus sobre o que é um discípulo encontra-se em Lucas 14:26, 27, 33:
"Se alguém vem a Mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser Meu discípulo. E qualquer que não tomar sua cruz e vier após Mim não pode ser Meu discípulo.... Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser Meu discípulo."
Grandes multidões seguiam a Jesus (verso 25). Se Ele acreditava em conversões em massa a Seus ensinos, então deu uma resposta muito imprópria e desanimadora para as multidões com essa declaração. Há um custo em se seguir a Jesus. Ele não quer seguidores de meio coração - deseja indivíduos totalmente comprometidos. Os que decidirem se tornar Seus discípulos devem estar dispostos a abandonar tudo, incluindo o lar, a família, parentes, riquezas, e posição, para O seguirem. Para Ele, o pré-requisito para o discipulado sempre foi completa entrega e disposição de abrir mão de tudo para segui-Lo.
A religião que Cristo oferece quando Ele convida as pessoas a se tornarem discípulos não é de sossego e comodismo, mas de suportar a cruz. Isso não significa que o cristão vive mal - humorado e sem alegria. Significa que aquele que se tornou Seu discípulo encontra alegria em meio ao sofrimento e tribulações decorrentes de sua fidelidade a Cristo, considerando um privilégio poder sofrer com Ele. Cristo não promete comodismo e prazeres neste mundo, mas promete paz interior e felicidade. Para obter isso, o discípulo de Jesus resignadamente leva "Sua cruz".
Essa declaração de Jesus sobre o discipulado inicial enfatiza comprometimento mais do que "conhecimento intelectual". Discipulado envolve compromisso total e absoluto com Cristo mais do que simplesmente concordância com um conjunto de doutrinas. Isso não desconsidera a compreensão de doutrinas básicas, essencial para o batismo. Mas essa compreensão doutrinária deve ter o propósito de ajudar pessoas a se entregarem totalmente a Cristo. Ninguém se compromete com quem não conhece. A compreensão da doutrina no contexto dessa passagem deveria ajudar novos cristãos a conhecer Jesus, para que possam se sentir à vontade em fazer um compromisso radical e sem reservas com Ele.
A terceira passagem que trata do assunto de ser um discípulo de Jesus se encontra em João 8:31,32:

"Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido nEle: Se vós permanecerdes na Minha palavra, sois verdadeiramente Meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará."
Nessa passagem, Jesus está falando com pessoas que já crêem nEle. Se Jesus fosse aceitar a compreensão de que apenas crer é ser discípulo, essas pessoas já teriam sido consideradas discípulos. Contudo, Ele declara que simplesmente crer nEle não é suficiente. Ser um discípulo significa continuamente se firmar em Seus ensinamentos. Isso sugere, que ser um discípulo envolve um processo mais demorado do que simplesmente a aproximação inicial a Cristo.
O resultado da contínua solidificação em Seus ensinamentos, Jesus prometeu, seria conhecer a verdade. Ele mesmo Se declara a verdade (João 14:6). Alguém que deve ser Seu discípulo, então, é uma pessoa que realmente O conhece como a , verdade máxima da vida. Para que isso aconteça, o iniciante deve receber os ensinamentos básicos sobre Jesus, antes do discipulado. Na verdade, uma Versão Amplificada sugere que um discípulo é alguém que se firma nos ensinamentos de Jesus e vive de acordo com eles; é alguém que é obediente ao que Jesus diz, ou seja, guarda os mandamentos. Obviamente, ele guarda os mandamentos motivado por seu amor a Jesus, e não por obrigação ou dever. Isso implica um sólido relacionamento com Jesus como base do discipulado, e a obediência aos Seus ensinamentos, como um fruto desse relacionamento. Se esse fruto externo não for visto, o discipulado não ocorreu.
A próxima passagem sobre discipulado é encontrada em João 13: 34:
"Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como Eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois Meus discípulos: se tiverdes amor uns pelos outros."
O amor deve ser o teste infalível e absoluto de discipulado. Você pode dizer se uma pessoa é um discípulo quando ela ama como Jesus o faz - incondicionalmente. Não quer dizer que esse amor seja absolutamente perfeito, mas o amor ágape de Jesus deve ser encontrado, pelo menos como embrião, na vida do discípulo. Mais uma vez, Jesus nos dá testes de discipulado. Se a Grande Comissão nos ordena fazer discípulos, então, produzir crentes a quem chamamos de cristãos, mas que não têm o amor de Cristo no coração é distorcer o Seu evangelho.
O sucesso fantástico da igreja primitiva não se devia tanto à sua metodologia correta, mas ao seu testemunho consistente em exemplificar as claras marcas do discipulado que Jesus modelou para os primeiros cristãos. É uma tragédia quando as "massas" são levadas à condição de membros, na igreja, sem as claras evidências de discipulado. Isso destrói o testemunho natural da igreja e enfraquece o cristianismo. As instruções de Jesus sobre fazer discípulos como o trabalho da igreja parece ser desenhado para prevenir o desenvolvimento de uma igreja que comprometeria seu testemunho. Ele está preocupado em alcançar as massas, mas quer alcançá-las com o "verdadeiro cristianismo", não com um Cristianismo artificial.
A última passagem em que Jesus se refere a fazer discípulos é João 15:8:
"Nisto é glorificado Meu Pai, em que deis muito fruto; e assim vos tornareis Meus discípulos."
Ligação com Jesus pressupõe frutificar. É o resultado inevitável de tal união. Pelo fato de ser inevitável, se o fruto não aparecer, podemos saber que o discipulado ainda não ocorreu. Aqui está outro dos testes de Jesus, pelo qual a igreja pode medir se uma pessoa se tornou, ou não, um discípulo. Ela precisa produzir fruto. Que fruto é esse? Alguns podem sugerir que Jesus tem em mente os frutos do espírito citados pelo apóstolo Paulo no livro de Gálatas. Contudo, Jesus está falando antes de Paulo. Nesse capítulo, Ele Se refere a Si mesmo como a videira; e a Seus seguidores como os ramos. O trabalho dos ramos é produzir frutos por acusa da conexão com a videira. Senão, são cortados como ramos que não produzem.
Todo o contexto dessa passagem parece centralizar numa compreensão de missão. O cristão que não está reproduzindo, gerando outros discípulos, ainda não é um discípulo. Portanto, é impossível ser um seguidor de Jesus se não compartilhá-Lo. Discípulos não só devem compartilhar, mas devem também fazer discípulos, do contrário, não podem ser considerados discípulos. O discipulado proposto por Jesus é vitalício. Ele quer que produzamos muito fruto; não um converso casual, uma vez na vida e outra na morte.

Discipulado e evangelismo

Essa qualificação de discipulado tem fortes implicações nos procedimentos evangelísticos. Ela sugere que como parte do treinamento inicial das pessoas para o discipulado, elas são treinadas para ser ganhadoras de almas. Se ganhar pessoas para Jesus é uma parte tão inerente do discipulado, como pode o processo evangelístico deixar de lado esse treinamento? Senão as pessoas entram na igreja com seu próprio comprometimento a Cristo e então passam o resto da vida cristã servindo a si mesmas, e não aos outros. Implementar plenamente esse conceito significa que devemos colocar os novos conversos num programa de treinamento para que possam ser colocados em algum ministério de acordo com seus dons espirituais.
Colocar isso em prática na igreja local significa que as pessoas que se uniram à igreja descobriram seus dons e encontraram seu ministério no corpo da igreja. O problema do adventismo contemporâneo é que desenvolvemos uma igreja cheia de membros que não foram discipulados. Portanto, poucos estão envolvidos em algum tipo de ministério. Reeducá-los pode ser difícil. Talvez seja mais fácil começar com novos conversos, mudando o processo evangelístico, para que todos os que entrarem na igreja o façam com a compreensão de que devem encontrar seu ministério.
Inerente ao chamado para ser um discípulo de Jesus está o chamado para ser um cristão que produz frutos. Desse modo, Jesus está declarando que o discipulado cristão não pode existir, a não ser que a pessoa esteja envolvida em fazer discípulos. Isso está ligado com a própria Grande Comissão. Todo cristão deve crescer à maturidade do discipulado e então produzir outros discípulos. Todo discípulo deve ser um pai espiritual para outros discípulos que estão em fase de crescimento, e então deve ser um avô, e então um bisavô. “Todo verdadeiro discípulo nasce no reino de Deus como um missionário”. E.G. White, O desejado de Todas as Nações, pág. 195.
Desse modo a conversão é a mudança daqueles que não eram "um povo" para se tornarem o povo ministrador de Deus, o corpo de Cristo que é ativo, comprometido, e que serve aos outros.
Na verdade, poderia se dizer que conversão completa e total, no sentido bíblico, é um processo de três partes, que envolvem (1) conversão a Deus em Jesus Cristo; (2) conversão à igreja, o corpo de Cristo; e (3) conversão ao ministério no mundo por quem Cristo morreu. Isso sugeriria que em nossa metodologia evangelística e no preparo para se tornar membro da igreja, o novo discípulo deveria receber suficiente informação e ter desenvolvido suficiente experiência para que possa iniciar o processo de reprodução de discípulos. Esse processo precisa se tornar inerente ao chamado inicial para ser um cristão. Ninguém deve experimentar o chamado ao discipulado sem experimentar o chamado para fazer discípulos. Isso sugere um processo que leva à conversão em vez de uma rápida resposta para aceitar a Cristo e ser batizado.
Um exame das passagens que tratam de discipulado revelou o seguinte sobre a compreensão de Jesus a respeito do que significa ser um discípulo:
1. Um discípulo é alguém que está disposto a suportar perseguição e ridículo pelo nome de Cristo. Tal discípulo mantém atitude de aprendiz, facilitando o ensino.
2. Um discípulo é alguém que vive em completa submissão ao senhorio de Cristo, estando disposto a deixar tudo - bens, família, amigos - pela causa de Cristo.
3. Um discípulo é alguém que entende e guarda os ensinamentos básicos de Jesus.
4. Um discípulo é alguém que deu evidências que o amor ágape foi encontrado em sua vida por causa de sua ligação com Cristo.
5. Um discípulo é alguém que está produzindo frutos ao criar outros discípulos para Jesus.
Se os cinco pontos acima são o que Jesus queria dizer quando disse discípulo, então Sua ordem na Grande Comissão significaria que o método evangelístico empregado pelos discípulos produzirá pessoas que exemplifiquem esses cinco pontos em sua vida. Deve haver um sólido desenvolvimento de fé nas pessoas que são feitas discípulos. Tal desenvolvimento de fé não ocorre da noite para o dia. Requer um processo de tempo, que é a ideia sugerida pelo próprio uso do termo discípulo para descrever o que Jesus desejava que Sua igreja realizasse.
A ordem do Mestre para a igreja cristã está claramente descrita em Mateus 28:19. Essa ordem exige um processo de desenvolvimento de fé que traz a pessoa para onde possam claramente exemplificar os sinais de discipulado enumerados acima. Qualquer metodologia evangelística que falha em fazer isso é defeituosa.

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