segunda-feira, 7 de maio de 2012

A PERSEVERANÇA NA MISSÃO

"Mas aquele que perseverar até o fim será salvo. E o evangelho do Reino será pregado em todo o mundo como testemunho para todas as nações, então virá o fim" (Mateus 24.13-14 - NVI).

Introdução
Muitos de nós temos grande consciência de que fomos. Fomos salvos do pecado, da morte, da desespero, das angústias, da falta de rumo etc. A pergunta que nem todos sabem é para que fomos salvos?
Lembro-me de uma experiência que tive quando trabalhava em uma empresa multinacional e tinha que viajar para os Estados Unidos. Em uma dessas viagens, estávamos em um momento de lazer com várias pessoas da empresa praticando desportos. Quando alguns souberam que eu era brasileiro, logo trouxeram uma bola, pois esperavam que eu jogasse bem. Em geral, isso é o que se espera de um brasileiro. Nunca tive um ‘grande' futebol, mas foi o suficiente para não passar vergonha. Ainda bem que não se lembraram do samba. Seria uma grande vergonha (rsrs).
O que se espera de uma laranjeira? E de uma padaria? E de uma farmácia? A resposta torna-se óbvia. Mas o que se espera de um cristão? Qual nosso propósito, nosso papel, nossa missão?
Jesus deixa claro nesse trecho lido que aqueles que perseverarem serão salvos. Faz a ligação dessa perseverança com a pregação das boas novas do reino de Deus. Fica evidente que devemos perseverar na pregação das boas novas. Essa é nossa principal missão aqui: pregar o evangelho a toda criatura.
Mas "o que" e "como" podemos e devemos pregar as boas novas do reino de Deus? Como perseverar nessa missão de pregar?
Vamos refletir sobre três dimensões de nossa pregação que devemos perseverar:
1. Perseverar na missão de pregar com a vida
Jesus foi exemplo e modelo perfeito na pregação com sua vida. Sua ética e conduta eram irrepreensíveis. Fazia o que era correto de forma natural. Ele foi tentado por Satanás nas áreas mais sensíveis da vida (Marcos 1.13), mas sustentou-se fiel ao Pai Celestial. "Ele não cometeu pecado algum e nenhum engano foi encontrado em sua boca" (1 Pedro 2.22; Isaías 53.9). Sua integridade poderia ser posta a toda prova. Ele mesmo desafiou seus acusadores perguntando-lhes "qual de vocês pode acusar-me de algum pecado?" (João 8.46).
A pregação de Jesus era lastreada em sua própria vida. Todos o ouviam atónitos, pois ele falava "como quem tem autoridade" (Marcos 1.22). Sua autoridade não vinha de um título, ou de alguém que fala "grosso", ou que tem um excelente desempenho de comunicação. Ele vivia intensamente o que falava. Ele é a expressão visível do reino de Deus. Ele vivia as boas novas. As marcas do reino de Deus que são justiça, paz e alegria (Romanos 14.17) fluíam através de seus atos, decisões, palavras e pensamentos.
Existem inúmeras outras pessoas no relato bíblico que pregaram com suas vidas. Homens e mulheres justos, tementes a Deus, fiéis em seus relacionamentos, em seus negócios, em suas responsabilidades e compromisso com a comunidade. Pessoas que temiam a Deus com tal intensidade que queriam refletir isso em seu viver diário, mesmo que não conhecessem exatamente o plano de Deus através de Jesus. Um exemplo muito interessante está na vida de Cornélio (Atos 10).
Como a Bíblia é um livro sem censuras sobre a vida real, a vida como ela é, encontramos também muitas pessoas que falham, que se desviam, que abandonam a proposta de viver os valores do reino de Deus. Alguns deles arrependem-se e retomam o caminho proposto, como foi o caso de Davi, de Jonas, de Pedro e tantos outros.
Quando faço um rápido retrospecto em minha vida pessoal, percebo quantas pessoas me inspiraram pregando Jesus com a coerência de suas vidas. Destaco meus pais - Elias e Leontina - que sempre pregaram com muita integridade o temor a Deus, o querer acertar, respeitando pessoas, considerando os mandamentos da Palavra, agindo com retidão, revisando seus erros, sempre dependendo da graça de Jesus. Louvo a Deus porque eles tiveram perseverança na missão de pregar vivendo.
O que fazemos fala mais alto que nossas palavras. Vamos, portanto, perseverar na missão de pregar com nosso viver.
Francisco de Assis disse: "pregue o tempo todo; se necessário, use palavras". A pregação com a vida é vital, mas precisamos pregar com palavras também.
2. Perseverar na missão de pregar com palavras
O maior alvo do ministério de Jesus foi, sem dúvida, a morte redentora na cruz. Essa missão era pessoal e intransferível. Somente ele poderia cumpri-la. Mas nos três anos de seu ministério público, ele percorreu toda a região da Galileia, Samaria e Judeia pregando e ensinando com muita intensidade sobre as boas novas do reino de Deus (Mateus 4.23; 9.35; 11.1). Ele sabia mais que ninguém a importância de expressar em palavras a esperança proposta.
Além de pregar, Jesus direcionou claramente seus discípulos que pregassem com palavras (Mateus 10.7; Marcos 6.12; Lucas 9.60). Mesmo depois de sua ascensão, os discípulos continuaram essa missão com toda a determinação e dedicação "ensinando o povo e proclamando em Jesus a ressurreição dos mortos" (Atos 4.2). Faziam isso inspirados no modelo do Mestre, cheios do Espírito Santo (Atos 4.8), cheios de coragem (Atos 4.13), sem temer a própria morte, como no exemplo de Estevão (Atos 6.10 e 7.55-58).
Toda a igreja era instruída a explicar as razões da sua fé. Sabiam como testemunhar, como pregar em contatos e relacionamentos o poder do evangelho que experimentavam nas suas vidas. O apóstolo Paulo sentia-se feliz em ter sido chamado para "apresentar plenamente a palavra de Deus" (Colossensses 1.25-26). Ele entendia que esse trabalho deveria ser feito a todo tempo, com persuasão e insistência, com clareza e inteligência (1 Timóteo 4.2). Entendia também que todos deveriam ser estimulados a divulgar as boas novas (2 Timóteo 2.2). Instruía que era necessária dedicação "à leitura pública da Escritura, à exortação e ao ensino" (1 Timóteo 4.13-16).
A lógica é simples: pessoas são enviadas para pregarem; a pregação traz compreensão; a compreensão desperta a fé; a fé é o que salva e transforma o coração de cada pessoa (Romanos 10.12-15).
Olhando para a minha vida, sou grato a Deus por tantas pessoas que pregaram e me ensinaram através de palavras. Destaco a falecida irmã Maria Augusta Pires que pregou de uma maneira tão doce e oportuna. Eu era um jovem e ouvi-la fazia crescer em mim o desejo de pregar a Jesus Cristo como algo tão relevante. Já passaram mais de 40 anos e, graças a Deus, determinou a minha história. Louvo a Deus pela sua perseverança na missão de pregar.
Estamos aqui somente porque muitas pessoas pregaram com palavras. Falamos naturalmente do que nosso coração está cheio. Então, devemos também perseverar na missão de pregar com o nosso falar.
Devemos, portanto, cumprir a missão de pregar vivendo, pregar falando, mas devemos ir além: pregar servindo.
3. Perseverar na missão de pregar com serviço
Jesus declarou que "não veio para ser servido, mas para servir" e a maneira que Ele o fez foi muito prática, "dando a Sua vida em resgate por muitos" (Mateus 20.28; Marcos 10.45). Mas seu serviço foi muito abrangente. Seu ministério foi itinerante. Ele saía ao encontro das pessoas. Não ficava parado. Visitava, relacionava-se, interagia, curava, alimentava, orava, confortava e festejava também. O Seu primeiro milagre no casamento reflete o quanto se interessava pela vida integral do seu povo. Ele serviu o tempo todo.
A cerimónia do lava-pés foi um dos momentos mais fortes do ensino desse princípio de pregar com serviço. Jesus fez aquilo que era o mais simples, digno de um criado e declarou: "se eu, sendo Senhor e Mestre de vocês, lavei-lhes os pés, vocês também devem lavar os pés uns dos outros. Eu lhes dei o exemplo para que vocês façam como lhes fiz" (João 13.14-15). Ele é muito claro. Não deixa dúvidas.
Dessa maneira os discípulos fizeram. Serviram com suas vidas, seus recursos, seu tempo. Visitavam, oravam, amavam-se. Serviam-se mutuamente. O serviço não era unilateral, mas multidireccional. Serviam-se uns aos outros. Perseveraram no testemunho, na palavra e no serviço (Atos 2.42 ss). Quanta dedicação! Quanto amor ao próximo! Quanta vivência dos principais valores do reino! As boas novas não eram somente observadas, nem só ouvidas: eram sentidas com toda intensidade do serviço do povo missionário de Deus.
Olho para a minha vida com muita gratidão a Deus por tantas pessoas que me abençoaram com múltiplos serviços. Recebi muito consolo em tempos de lutas, orações em momentos críticos. Mas quero destacar uma pessoa que me abençoou de forma especial: o Pr. Morgado. Senti que ele me adotou como um filho espiritual. Tivemos um longo período de discipulado. Aliás, o discipulado nunca acabou. Pacientemente ele estimulou-me a apelar ao coração das almas, amar a palavra de Deus. Quando morei nas Caldas da Rainha, ele visitava-me nos momentos cruciais. Acompanhou meu ministério, depois com ele como presidente da Igreja em Portugal, fui diretor de jovens e de outros departamentos, com ele fui chamado para diretor dos departamentos da Divisão euro-africana. Louvo a Deus pela sua perseverança na missão de pregar servindo.
Eu e você estamos aqui somente porque muitas pessoas nos mostraram Jesus com o seu servir. Quanto mais conhecemos Jesus, mais respondemos ao seu amor servindo outros! Façamos do serviço nosso estilo de vida. É importante perseverar na missão de pregar com o serviço.
Para finalizar, vamos resumir e concluir a nossa reflexão sobre PERSEVERANÇA NA MISSÃO.

Conclusão
Agora entendemos melhor para que fomos e somos salvos: para perseverarmos na missão de pregar vivendo, pregar falando e pregar servindo. Esse é o desejo do coração de Deus.
Jesus disse: "agora que vocês sabem dessas coisas, felizes serão se as praticarem" (João 13.17).
Vamos, portanto, perseverar, insistir, estimular, estar atentos para essas coisas simples e práticas do evangelho. Através das células, somos confrontados a pregar com a nossa vida, andando com ética e integridade, somos estimulados a pregar com palavras, evangelizando o nosso próximo e desafiados a pregar com o serviço uns aos outros nas várias áreas da vida, principalmente através do discipulado.
Vivendo assim, as boas novas se espalham naturalmente por todo o mundo, a palavra de Cristo cumpre-se e então virá o fim, ou será um novo começo?

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