segunda-feira, 9 de setembro de 2013

A POBREZA DE UMA VIDA COM RIQUEZAS!

ECLESIASTES 2.1-11
As riquezas têm sido o alvo de muita gente. Vivendo sob um sistema económico capita­lista e em um contexto cultural e social plenamente consumista, a obtenção de riquezas tem-se traduzido no alvo de vida e realização de muitas pessoas. Muitos pensam que ao atingir uma certa independência financeira, ao montar seu “império” económico, a felici­dade, a satisfação e o sentido da vida vão fluir interiormente, trazendo paz ao coração conturbado. É o pensamento de que quanto mais se tem (bens e riquezas) mais se é algo na vida. Assim sendo, não importa a maneira como se chega a possuir; o importante é possuir.
Vemos o aumento da violência, dos assaltos, sequestros, roubos, extorsões, golpes, ne­gociatas, trapaças, sonegações etc., tudo isso, geralmente, em busca de riquezas. O pior de tudo é que estas pessoas nunca se satisfazem com o que conseguem acumular. É a pobreza de uma vida com riquezas.
1 AMBIENTE HISTÓRICO
O rei Salomão era filho do rei Davi com a ex-mulher de Urias – Bate-Seba. Seu nome significa “pacífico”. O profeta Natã o chamou de Jedidias, que quer dizer “amável do Senhor” (II Sm 12.25). Salomão começou a reinar com a idade de 20 anos. Obediente às orientações de seu pai, seguiu inicialmente os caminhos do Senhor, e por isso recebeu de Deus o presente da sabedoria (I Rs 3.3-28). Assim, Salomão começou seu reinado julgando seu povo com a luz divina. Salomão construiu um império económico invejável (I Rs 10).
Contudo, as suas diver­sas alianças com os povos vizinhos o levaram a inúmeros casamentos, o que acabou prejudi­cando o seu reinado. Ele começou a importar os costumes religiosos destas suas mil mulheres (I Rs 11.1-8), e seu coração se deixou seduzir pelos cultos pagãos. Apesar de toda pompa e riqueza, Salomão viveu dias de profunda pobreza. Seu coração apartou-se do Senhor, ele passou a explorar terrivelmente o povo e a vida se tomou uma enorme vaidade, algo sem sentido, como se lê em Eclesiastes: “correr atrás do vento” (v. 11). Salomão: a pobreza de uma vida cheia de riquezas. Tal condição de vida pode ser assim caracterizada:
2 VIDA CENTRADA NA AUTO-PROMOÇÃO
Salomão, quando começou a reinar, pediu a Deus sabedoria para servir ao povo que liderava, com justiça e verdade. Contudo, sua atuação política e seus conchavos sociais o levaram a um afastamento de Deus e dos ideais que antes sustentava.
Em Eclesiastes 2.1-11 encontramos um ideal alterado. Vemos um homem a serviço de si mesmo. Alguém somente preocupado com seu nome, com seus feitos, com suas obras. Perde-se a conta de quantas vezes aparecem no texto as expressões: “meu”, “minha”, e os verbos na primeira pessoa do singular, em alusão ao “eu”.
A pobreza de uma vida cheia de riquezas é marcada por uma visão absolutizada de si mesmo, onde descarta-se o semelhante e ignora-se Deus, onde a expressão “serviço” deixa de existir no dicionário da vida, a não ser se for para ostentar e evidenciar seu próprio nome.
Hoje, essa postura de Salomão tem tomado conta da vida de muita gente. É a vida ego centralizada, onde “não se move uma palha” pelas necessidades do semelhante e do necessitado. Temos em nosso país pessoas que fazem de tudo para ter seus nomes em desta­que. Pessoas que só se preocupam com seus próprios interesses. A vida de nossa nação tem-se tornado cada vez mais pobre, por causa da vida que está centralizada em si mesma.
3 VIDA PREOCUPADA COM FUTILIDADES
Uma outra realidade da vida de Salomão, no início de seu reinado, era a preocupação com a justiça social, com a verdade dos fatos, com uma política voltada para o bem-estar do povo, com a decência. Ideais nobres, porém frágeis em sua vida que, ao desviar-se de Deus modifica-os terrivelmente.
Em Eclesiastes vemos a tremenda preocupação de Salomão em fazer alguma coisa. Ele procurava satisfação e paz de consciência em suas obras. Mas estas obras não lhe conferiram nada. Diz o texto: “Empreendi grandes obras, edifiquei para mim casas, plantei vinhas, fiz jardins, pomares. Fiz para mim açudes…”(vv.4-6). Mas nada disso preencheu os seus anseios.
A preocupação de uma vida marcada pela pobreza, ainda que cheia de riquezas materi­ais é evidenciada pela consolidação das futilidades. Para muitas pessoas a vida se resume apenas em férias no exterior, gastos astronómicos com carros caríssimos, mansões, praias particulares, banquetes em restaurantes requintadíssimos, grifes… Para muita gente, isto é vida. Que pobreza interior!
Enquanto isso, milhares de pessoas trabalham para amenizar a fome no país. Outras acordam nas madrugadas para enfrentar as filas e as greves nos transportes urbanos das cidades. Moram em barracos nas encostas dos morros que, em épocas de chuva, desabam matando muitos.
As reais necessidades humanas são desprezadas, enquanto se dá grande valor às maio­res futilidades.
4 BUSCA DO PRAZER NA VIDA VAZIA
Outra realidade descrita no reinado iniciante de Salomão, era o prazer que tinha em ser instrumento de Deus para o governo do povo. Uma vez que se perde isto na vida, o homem anda desesperadamente à procura de algo que possa substituir esta realidade.
Eclesiastes apresenta um Salomão boémio, desvairado, inveterado, ébrio, alguém que forja inúmeras alternativas de prazer, para trazer gozo à sua alma. Veja a descrição do texto: “Amontoei para mim prata e outro… provi-me de cantores e cantoras, e das delícias dos filhos dos homens: mulheres e mulheres”(v.8); e ainda: “Disse comigo: Vamos! eu te provarei com a alegria; goza, pois, a felicidade…” (v. 1); “resolvi no meu coração dar-me ao vinho…” (V.3).
Veja a luta deste homem para tentar superar a pobreza de sua alma. A tristeza de uma vida sem ideal divino é desfalecida. Uma vida sem Deus torna-se um deserto árido, seco e sem verdor. Não pode haver prazer, nem gozo contínuo. E o homem se torna cativo, escravo de paliativos do prazer.
E desta forma que se explicam os inúmeros casos de depressão, suicídio por “overdose” (no meio elitizado principalmente), os pais de família caídos nas sarjetas, embriagados, o crescimento da prostituição, dos bordéis e motéis que incentivam a promiscuidade sexual como alternativa de prazer. As jovens que se entregam sem pudor às relações sexuais ilícitas e buscam em seguida o aborto para solucionar um problema criado pelo prazer desenfreado. É a Síndrome de Lúcifer, bem descrita na biografia de Judas. O homem totalizando o prazer na vida vazia e sendo escravizado pela sua necessidade de prazer sem Deus.
Entretanto, em meio às desilusões da pobreza de uma vida com riquezas, Salomão chega à mais surpreendente, feliz e sábia conclusão capaz de revestir de sentido a existência humana, tornando-a uma experiência profundamente rica. Ele conclui: “De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos, porque isto é dever de todo homem. Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más”(Ec 12.13-14).
5 DISCUSSÃO
Por que Salomão chegou à conclusão de que tudo é vaidade e correr atrás do vento?
No meio evangélico há preocupação com as futilidades como acontece no meio secu­lar?

O que você acha do sistema económico que incentiva a acumulação cada vez maior de riquezas?

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