“Porquanto há um só
Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1 Tm 2.5).
Numa reunião missionária alguns jovens discutiam o texto:
“Vós sois o sal da terra” (Mat. 5:13). Uma sugestão após outra foi feita quanto
ao significado da palavra “sal”
neste versículo. “O sal dá sabor”, disse alguém.
“O sal impede a deterioração”, sugeriu outro.
Finalmente, uma jovem chinesa falou com base na experiência
que nenhum dos outros possuía. “O sal dá sede”, disse ela, e houve um silêncio
repentino na sala. Todos durante alguns instantes se interpelavam será que: “Já
deixei alguém com sede do Senhor Jesus Cristo?”
As aflições de Job fizeram com que tivesse sede de um Mediador
que pudesse ser o árbitro imparcial entre ele e Deus. O que é que satisfaria
por completo a sede de Job? Quem seria capaz de desempenhar os deveres do
árbitro de Job?
1.
Job necessitava de um Árbitro (Job 9.30-33; 16.20,21;
33.23-28)
O discurso de Bildade em Job 8:1-22 tinha realçado o caráter
reto de Deus e a justiça por Ele dispensada. Job reagiu, respondendo: “Na
verdade sei que assim é: porque, como pode o homem ser justo para com Deus?” (Job
9:2). Observemos que não se trata de como o homem pode ser justificado, mas
como poderia ele ter um caráter justo. Job desejava um árbitro, porque não
passava de um pecador aos olhos de um Deus santo. A santidade de Deus exigiria
imediata e completa justiça. (Ver Rom 6:23.)
Mesmo que Job se lavasse com salitre ou uma lixivia potente,
a perfeita santidade de Deus demonstraria ainda a condição de pecado de Job, a
tal ponto que até mesmo as suas roupas rejeitariam a imundície de seu corpo (w.
30,31). A ilustração de Job retratou a sua condição. Para que pudesse ter
alguma esperança de remediar a situação, ele teria de conseguir comunicar-se de
algum modo com Deus a esse respeito. Um árbitro poderia representar Job diante
de Deus.
A figura mostrada por Job no versículo 33 é a de um homem
que se interpõe entre dois contendores e os reconcilia. Este árbitro teria de
“pôr a mão” sobre os dois contestantes. Na situação particular de Job, o
árbitro precisaria tocar Deus com uma das mãos e com a outra o homem. Gosto
muito de um desenho que representa Jesus estendido na cruz segurando com uma
mão a “invisível mão do Pai” e com a outra segurando o homem.
Os conselheiros de Job, que não foram capazes de o confortar,
também demonstraram a sua necessidade de um árbitro. Esses homens foram
incapazes de compreender perfeitamente a situação de Job. Como resultado,
passaram a zombar dele e Job voltou-se para Deus com lágrimas nos olhos (Job
16.20). Nenhuma súplica das Escrituras é mais pungente do que a sua: “Ah! Se
alguém pudesse contender com Deus pelo homem, como o filho do homem pelo seu
amigo!” (v. 21). O conceito que Job apresenta é de que alguém deve suplicar a
Deus da mesma forma que um ser humano suplica a outro que é seu igual
(“amigo”).
Eliú, o quarto amigo de Job, foi o último a entrar na
conversa (Job 32:1-37.24). Este, que era o mais moço dos amigos, passou a
considerar a atitude errada de Job em relação aos seus sofrimentos.
Já ficou evidente o fato de que um árbitro entre o homem e
Deus deve corresponder às necessidades do homem e às exigências de Deus. Este
árbitro deve ter capacidade para compreender por inteiro à posição do homem e
satisfazer plenamente o caráter de um Deus santo (Job 9:32,33). Para ser
“amigo” de Deus seria preciso que o árbitro fosse também Deus (Job 16:21).
Eliú fez um acréscimo à descrição do árbitro feita por Job, ao
afirmar que ele deve ser um “mensageiro”, “um intérprete”, e “um entre
milhares” (Job 33:23). Acima de tudo, este árbitro deve ser especial — único.
Uma outra característica do mediador de Job (ou árbitro) é
encontrada na descrição do libertador-redentor (w. 24,28). O mediador deve ter
um “resgate” pela vida de Job (v. 24). Job perderá a vida se o resgate não for
pago. Uma vez que Deus já tinha proibido Satanás de tirar a vida de Job (Jó 2:6),
Ele com certeza sabia do árbitro desejado por Job assim como do resgate a ser
pago. A situação era a mesma de quando Abraão ofereceu Isaque a Deus no monte
Moriá (Gén 22:1-14). Deus proveria.
2. Deus Providencia Um Árbitro (Job 16:19)
A paciência de Job com os três amigos se desgastara e afirma:
“Tenho ouvido muitas coisas como estas; todos vós sois consoladores molestos”
(Job 16:2). A paciência de Job (ou a falta de paciência) com respeito aos
amigos, foi um meio de o levar novamente para Deus. Não tendo achado consolo
nos conselheiros, Job apresentou o seu caso a Deus com lágrimas (v. 20).
Deixando de lado os seus conselheiros, Job afirmou com
convicção: “Já agora sabei que a minha testemunha está no céu, e nas alturas
quem advoga a minha causa” (v. 19). Job queria dirigir a atenção dos amigos para
um fato da vida espiritual que estava ao alcance deles, bastando que tivessem
fé.
A posição da testemunha ou advogado é da maior importância.
Esta testemunha está “no céu” e “nas alturas”. Este advogado teria acesso
contínuo ao Deus de Job, a fim de fazer a sua defesa contra o adversário. (Job
1:6,7; 2.1,2.
Depois de tantas coisas serem reveladas a respeito da
necessidade de um árbitro, da natureza do árbitro e da posição do árbitro, a
identidade do mesmo deveria ter ficado perfeitamente clara. Evidentemente, o
Filho de Deus preencheria o papel de mediador de Job. 1 Timóteo 2.5 diz
simplesmente: “Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens,
Cristo Jesus, homem”.
O Mediador de Job é também a sua Testemunha e Advogado (Job
16:19). Jesus é também descrito como a “fiel testemunha” (Ap 1:5). O Advogado
seria alguém que tudo sabe e tudo vê. Ele poderia responsabilizar-Se por Job,
porque conhecia o coração dele. (1 João 3:19,20; Heb 9:16.)
As descrições de Paulo, estão todas de acordo com o que Job
declara. Jesus Cristo preencheu de todas as formas as qualificações para ser o Árbitro
de Job.
Em Gálatas 3:8-22, Paulo explica como Abraão, um gentio, foi
justificado pela fé no Redentor prometido. Nem mesmo a lei ceromonial poderia
prejudicar as promessas de Deus feitas a Abraão. Todos os gentios receberiam as
bênçãos emanadas da semente final de Abraão, Jesus Cristo este é o cumprimento
cabal dessa lei. A razão pela qual a promessa foi mantida deve-se ao resgate pago
pelo Mediador (G1 3.17-22).
Ao escrever ao jovem Timóteo, Paulo associou o Mediador com
a vida de oração do crente (1 Tm 2.1,2). O Mediador era a um só tempo Deus (v.
3) e homem (v. 5). O resgate é mencionado na instrução de Paulo a Timóteo (v.
6). A descrição de Jesus como “único mediador” corresponde ao conceito de
singularidade.
João associou o sangue purificador de Jesus Cristo com o
Advogado celestial (1 João 1:7). A confissão de pecados faz parte da obra do
Mediador (v. 9). A posição do Advogado de João é semelhante à do Arbitro de Job:
no céu, na presença de Deus Pai (1 João 2:1; Job 16:19). (Job 16:17; 9:32,33;
33:24,28; 33:23; 9:30,31).
Paulo na epístola aos Hebreus também menciona a posição
celestial do Mediador- Redentor (Heb. 9:23-25). A descrição da função de
Mediador de Cristo juntamente como único Sumo Sacerdote, apresenta a satisfação
da necessidade de um Deus-Homem como Arbitro entre o homem pecador e um Deus
santo (Heb. 8:1-13). A satisfação no tocante a Cristo como Sumo Sacerdote é
“porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas
fraquezas, antes foi ele tentado em todas as cousas, à nossa semelhança, mas
sem pecado. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a
fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião
oportuna” (Hb 4:15,16). (Hb 9:11-22.)
Como o Filho de Deus pôde ter simpatia por Jó antes de Sua
encarnação? O Arbitro de Jó tratou com ele à luz do cumprimento da profecia do
Velho Testamento. Deus operou no Velho Testamento sobre o fundamento de que a
obra de Cristo fora completada antes da criação do mundo (Ef 1:4; Hb 4:3; 1 Pe
1:20; Ap 13:8). A fé possuída por Job, aplicada a ele mesmo, estava ainda para
vir, da mesma forma que nós agora aplicamos, pela fé, aquilo que já passou.
Essa a razão pela qual Job pôde proclamar: “Porque eu sei que o meu Redentor
vive, e por fim se levantará sobre a terra” (Jó 19.25).
Apelo:
As aflições de Job aproximaram-no de Deus. E as suas? Você
tem Cristo como Mediador diante de Deus? Nosso Mediador conhece todas as nossas
fraquezas e dificuldades. Você sente que Ele simpatiza com as suas provações.
Já deixou alguém com sede do Senhor Jesus Cristo?
José Carlos Costa,
pastor
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