Introdução - Atos 2:1-12
O reavivamento na vida do povo de Deus é uma necessidade.
Quando o reavivamento chega ou chegar às nossas vidas, temos mais fé, ânimo e
poder de Deus para realizarmos a Sua obra. Quando o reavivamento atinge a
Igreja, ela muda. Quando a Igreja de Atos foi reavivada, a sua história mudou.
As pessoas ficavam maravilhas e queriam entender o que se estava a passar.
O reavivamento tem tudo a ver com conhecer-se Jesus. É um
novo despertar das faculdades da alma. É uma experiência pessoal e vital com o
Salvador. Conhecer Jesus – realmente conhecê-l´O como um amigo – é a essência
de todo o reavivamento. Das profundezas da sua experiência pessoal com Jesus, o
apóstolo Paulo revelou que estava a orar pelos Efésios, para que estes pudessem
“conhecer o amor de Criso, que excede todo o entendimento, e (fossem) cheios de
toda a plenitude de Deus (Efésios 3:19).
Mas logicamente, precisamos saber que tipo de experiência queremos.
Ao conversarmos com alguns membros sobre este assunto traz à superfície um
grande número de ideias contrastantes acerca da natureza de um reavivamento.
Para muitos, são decisões por Cristo; para outros, dons espirituais. Para
outros entusiasmo, e uns pensam que é puramente santidade.
Em At 2 encontramos o exemplo perfeito de um genuíno reavivamento
ou derramamento do Espírito Santo. Não penso que todo o reavivamento seria
exatamente igual a esse, o que não é bíblico nem corresponde à realidade. Mas
há princípios ou sinais que realmente são comuns a todo o reavivamentos. Deste
texto extraímos cinco sinais que vamos examinar.
1. Do céu – ou da terra?
O primeiro fato importante que podemos identificar quanto ao
derramamento do Espírito no Pentecostes é que não foi provocado pelo homem. Nas
palavras de Lucas, “…de repente, veio do céu…” v.2
Amados, este é realmente o ponto fundamental e nós
precisamos entender corretamente o que significa. Muitas vezes encontramos
irmãos preocupados com a Igreja, com o evangelismo, com o estado de mornidão e
o pequeno número de conversões. E ficamos ansiosos por descobrir o que impede a
edificação da Igreja, o que é muito bom, por um lado e querem fazer algo para
que aconteça: jejum, semanas de oração, etc.
Mas, o grande problema é, será por aí que se deve começar? Em
geral os crentes e dirigentes pensam que se certos métodos ou estratégias forem
aplicados, então acontecerá o reavivamento. Uns pensam que precisamos orar em
casa a certas horas do dia; outros que devemos chamar certos pregadores para determinada
igreja; outros que devemos iniciar um culto de exortação e chamar ao “pecado
pelo seu próprio nome”, ou fazer a reunião de oração de uma outra maneira; há
os que crêem que se tivermos certos dons espirituais, a Igreja será reavivada,
e os que pensam que uma série de estudos sobre reavivamento é a chave correta!
Ora, não há dúvida de que cada uma dessas coisas pode ser
usada por Deus para despertar a igreja. A grande falha está em não perceber que
Deus não está preso a nenhum método. Deus não é um génio dentro de uma lâmpada,
que sairá se esfregarmos da maneira correta. Deus não é um poder mágico que
pode ser manipulado com encantamentos e estratégias. Deus não depende da
aplicação, por nossa parte, de certas técnicas espirituais.
Por causa dessa visão errada, as pessoas são muitas vezes
tentadas a produzir um reavivamento. Se virem uma igreja entusiasmada e com
cultos excitantes dirão apressadamente: “essa igreja está a viver um reavivamento”.
Se virem numa Igreja pessoas com dons especiais, e líderes carismáticos, e
muitas decisões no apelo, tem a certeza que acharam “o fogo já está a arder”. E
então, erradamente, raciocinam que basta copiar os métodos daquelas Igrejas, e
teremos um reavivamento! “Precisamos de cultos especiais!” ou “Precisamos mudar
de liderança”, ou então “Precisamos fazer cultos evangelísticos”, ou
“Precisamos fazer apelo no final do culto e fazer jejum”. É o que vemos muitas
vezes acontecer por aí. De tempos a tempos surge um novo método e as Igrejas
agarram-se a eles.
Imitar certas técnicas não provoca o reavivamento. Porque
ele vem diretamente do céus. O verdadeiro reavivamento é algo que está nas mãos
de Deus e não pode ser produzido pelos nossos métodos. Novos métodos podem até
encher templos e deixar os crentes empolgados, mas isso não significa reavivamento.
A incredulidade faz com que busquemos novos métodos. Não
cremos que Deus pode fender os céus e descer, não cremos que o próprio Deus
pode pelo Seu braço lançar “fogo do céu” sobre a Igreja como no Monte Carmelo.
Então, o que fazemos? Corremos atrás de imitações baratas de reavivamento. Oh,
tal Igreja tem um culto especial e ou um pastor dinâmico ou muito consagrado! Tal
Igreja usa grupos familiares! A prova de que essa motivação é incrédula, é que
conseguimos reclamar da Igreja sem gastar horas intercedendo. Porque não
esperamos em Deus, mas nos homens. Para nós, o problema é o estilo de trabalho
da Igreja, ou dos pastores, que está errado. “Não falta Deus: faltam boas
estratégias”.
Somos como Abraão que recebeu a promessa de ter um Filho com
Sara, de maneira milagrosa, mas foi vencido pela incredulidade, gerando um
filho com a concubina. Ao invés de esperar em Deus, tomou a frente e agiu na
carne.
Irmãos, se queremos um genuíno avivamento, temos de
esperá-lo vindo dos céus. Não nos cabe a nós produzir tal acontecimento! Não
adianta imitar reavivamentos de segunda classe. Temos de ter fé e perseverança
para buscar a Deus e crer que ele descerá dos céus.
Importante ainda, é notar que essa descida deu-se “de
repente”. Não está no nosso controlo. Está no controlo de Deus. Não podemos
“usar” o Espírito Santo. Ele vem como vento, e “o vento sopra aonde quer”. Se
ele quiser, ele sopra. Se ele não soprar, é porque não quis. Não podemos
“programar” um reavivamento; não podemos marcar a data, colocar no programa da
igreja, ele é um ato soberano de Deus.
“Mas pastor, do modo que fala não podemos fazer nada!” Não é
verdade! Podemos sim. Podemos interceder, podemos nos arrepender de nossos
pecados, podemos ter vida de oração, podemos ser fiéis na obra de Deus, podemos
parar de acusar os líderes e tirar a trave que está nos nossos olhos, podemos amar
e servir os nossos irmãos em vez de só limpar os bancos com o traseiro, e
podemos humilhar-nos até ao pó diante da soberania absoluta de Deus na questão
do reavivamento, pois diz a palavra: “Deus resiste aos soberbos, porém dá graça
aos humildes”.
2. Experiência com Deus.
O segundo fato, muito importante, e relacionado com o primeiro, é que o reavivamento bíblico é uma
experiência com Deus. A palavra diz, “Todos ficaram cheios do Espírito”. V.4
Esse é o problema com os reavivamentos que encontramos por
aí. Os crentes não estão em busca de uma experiência pessoal e profunda com o
próprio Deus. Não, eles querem ver coisas. Querem ver estudos Bíblicos
excelentes; querem ver milagres; querem ver um grupo de louvor ungido; querem
ver um pregador que chora, grita e levita diante o púlpito. Querem Igrejas a
viverem experiências semelhantes ao que se passa nos campos de futebol. As
pessoas não vão para jogar, vão para ver.
Ver é diferente de experimentar. Não estamos no reavivamento
se podemos ver milagres. Judas viu milagres. Estamos num reavivamento se
estamos se estamos cheios do Espírito Santo! Estamos num reavivamento se nos temos
encontrado com o próprio Deus vivo, se experimentamos uma relação viva e atual
com ele.
É por isso que muitos “reavivamentos” são questionáveis. Grupos
de pessoas são muitas vezes mobilizadas. Até acontece um certo fervor e acção
missionária. Mas eu pergunto: as pessoas estão a ser levadas a Deus, e
realmente cheias do Espírito?
As pessoas estão entrando num relacionamento vivo e pessoal
com o Pai? As pessoas estão sendo controladas pelo Espírito? Se não, então não
temos avivamento. Temos um movimento religioso. Pode ser um importante esforço
evangelístico, mas não é um derramamento do Espírito! Não adianta simplesmente
imitar essas coisas. Se quisermos um avivamento genuíno, devemos esperá-lo vir
diretamente dos céus!
A Palavra diz em Atos 1:8: “…mas recebereis poder, ao descer
sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como
em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.
3. Uma Experiência comunitária
A terceira característica do reavivamento genuíno é que ele
é uma experiência do Corpo, ou comunitária. As línguas de fogo pousaram “sobre
cada um deles” v.3
Essas expressões, “cada um” e “todos” dizem muita coisa
sobre a vontade de Deus. Deus não quer expressar-Se através de apenas alguns
indivíduos; Deus quer o corpo. Ele quer usar toda a Igreja. Todos são
sacerdotes. Não há lugar para estrelas na nova aliança.
Essa é, no entanto, a tentação de muita gente. O que os
crentes esperam, não raramente, é um derramamento do Espírito no modelo do AT.
O que eles esperam é que Deus de repente irá levantar um “Moisés” ou um
“Josué”, um profeta que será cheio do Espírito para conduzi-los à terra prometida.
Nesse modelo, não são todos cheios do Espírito. Só os
líderes. Eles devem ser ungidos e santos. Nós não. Nós somos os seguidores.
Vamos atrás e recebemos as bênçãos. E ai desse Moisés se ele não abrir o mar
vermelho! Vamos apedrejá-lo.
Sem dúvida, Deus pode levantar um líder assim, mas isso não
é reavivamento. Isso não cumpre o propósito de Deus; porque o propósito de Deus
é a Igreja, o corpo. O reavivamento pessoal, individual é possível e desejável,
mas não é o que aconteceu em Atos capítulo 2! O reavivamento da Igreja não é um
punhado de líderes ungidos e um monte de seguidores. Não! O reavivamento
Bíblico da Igreja é um corpo de pessoas cheias do Espírito Santo. Não poucos,
mas cada um. Cada crente cheio, fortalecido e ungido com o Espírito. Não um
profeta Moisés que anda com Deus enquanto os outros assistem, mas uma companhia
de discípulos cheios do Espírito, tanto líderes como liderados.
4. Vossos Filhos Profetizarão!
A Quarta característica do reavivamento Bíblico é a
experiência carismática, ou seja, a manifestação de dons espirituais. Como se
pode verificar nos Vs. 3 e 4, no momento do derramamento do Espírito, ocorreu
uma distribuição de graça. Sobre cada um repousou uma língua de fogo, e depois
eles foram capacitados a falar em línguas.
Mais à frente, Pedro cita o profeta Joel “Vs. 17-19″.
No antigo testamento, a capacitação para a obra de Deus, e a
concessão de dons espirituais limitava-se a alguns homens escolhidos, profetas,
reis, sacerdotes e juízes. O povo em geral não experimentava o derramamento do
Espírito. Mas a promessa de Deus, para a nova aliança, é que o Espírito seria
dispensado a todos, e os dons espirituais também.
Uma característica fundamental do derramamento do Espírito é
a distribuição de dons espirituais a todos os crentes. Cada um é capacitado por
Deus para servir com um ou mais carismas, que podem ser tanto dons especiais (1
Co 12) como ordinários (Rm 12).
Entretanto, é preciso novamente adoptar o modelo correto
quanto à distribuição de dons espirituais. O modelo de ser só alguns líderes
com dons espirituais e uma massa de espectadores não está profecizada. O que
Joel diz, é que todos devem Ter dons. É o que Paulo nos ensina em 1 Co 12:7-11
e 14:26. Os dons estão distribuídos entre todos, e não para algumas estrelas. A
distribuição livre de dons, e a manifestação do Espírito é um sinal de reavivamento
genuíno.
5.
Marcados pelo
Ardor Missionário
A Quinta e última característica de um genuíno avivamento,
conforme o que lemos em At 2 é sua natureza missionária. Raramente nos damos
conta disso, mas a distribuição de línguas em At 2 foi um milagre
transcultural.
O Dom de línguas não é, em geral, compreensível. O próprio
Paulo ensina que só deve ser usado na Igreja com interpretação. Mas o que se
observa em At 2 é que as línguas faladas eram a dos estrangeiros que estavam em
Jerusalém (Vs. 5-12). Isso mostra o desejo de Deus de alcançar essas pessoas de
outras nações.
Jesus já tinha dito que a finalidade do poder do Espírito
desce sobre nós, somos transformados em testemunhas, capacitadas para falar a
Palavra. É o que aconteceu em At 2; depois da pregação de Pedro, converteram-se
3.000. Mais à frente, vemos os crentes a orar e foram cheios do espírito, e
assim capacitados a pregar (4:31), e por todo o livro de Atos, o Espírito move
a Igreja a evangelizar e fazer missões. O coração do Espírito Santo é
missionário, e a igreja dos primeiros tempos era marcada pelo ardor
missionário. Se ele se derramar sobre nós, então nos tornaremos missionários!
Uma Igreja reavivada é uma Igreja que tem sede de evangelizar e tem compaixão
pelos que se perdem. Uma Igreja reavivada não está preocupada com banalidades,
mas com a missão. Muitos crentes querem o poder do Espírito para ver milagres,
não para salvar almas. Querem receber bênçãos, mas não ser uma bênção. Tudo
isso apaga o Espírito, porque o seu propósito é salvar e edificar almas.
Evangelismo e missões são uma marca indispensável do reavivamento genuíno.
CONCLUSÃO
Diante de tudo o que foi dito, o que fazer? Em primeiro
lugar, e antes de tudo, deixar a incredulidade. A nossa oração será inútil se
não podemos crer que Deus realmente pode fender os céus e descer. É preciso
renunciar à tentação de tentar fabricar um reavivamento, de tentar copiar reavivamentos
artificiais que não tem cruz, não tem santidade, não tem convicção de pecado
profundo; reavivamentos que tem muitas decisões e mãos levantadas, mas poucas
conversões, que tem cultos de crentes a assistir ao espectáculo, mas logo de
seguida reuniões de oração vazias. Temos que buscar algo que venha do alto!
Conhecer Deus leva sempre à obediência. A Lei de Deus revela
o Seu amor. Um relacionamento mais profundo com Cristo leva a um maior desejo
de Lhe agradar. A obediência é o fruto do amor. Quanto mais O amamos, mais
desejamos obedecer-Lhe. Qualquer coisa a que se chame reavivamento e que não
realce o arrependimento pelas vezes em que, voluntariamente, violámos a Sua
Lei, é suspeita. O fervor religioso pode levar temporariamente a um elevado
momento religioso, mas faltará uma transformação espiritual duradoura.
José Carlos Costa,
pastor
Sem comentários:
Enviar um comentário