Génesis 12:1-3
Pr. José Carlos Costa
O livro de Génesis ocupa-se, na
sua maior parte, com a história de sete homens:
Abel
Enoc
Noé
Abraão
Isaac
Jacob
José.
Estou convencido que o autor
deste magnífico livro da Bíblia: Moisés. Teve em mente o traço que ligava a
vida destes 7 homens.
Dou alguns exemplos:
1. Abel
apresenta a grande verdade da aproximação de Deus por meio da expiação –
expiação de fé -.
2. A
vida de Enoque é representada como o homem de Deus, numa atitude sincera e
amorosa de se ligar à grande família celestial.
3. Enquanto
o Noé, é apresentado como o homem que tem a visão e a fé de quem caminha para
uma terra restaurada.
4. Abraão
o homem que responde ao chamado de Deus.
5. Isaque
o homem contemplativo, o filho que exprime o amor filial submisso. O homem
sensível e obediente.
6. Jacob
o encontro com Deus transforma-o progressivamente.
7. José,
o fiel.
Voltando à nossa passagem
inicial: Génesis 12:1-3.
I-
Sai da tua
Terra!
“Sai da tua terra, e da tua parentela e da casa do teu
pai, para a terra que eu te mostrarei.”
Esta foi a comunicação, a ordem de Deus a Abraão.
É uma ordem que vai cair sobre Abrão e que o atinge em
todos os aspectos da vida: social, familiar, económico e espiritual. Corte com
todo o passado.
Em Atos 7:2-4. Encontramos alguns pormenores que nos
ajudarão a compreender a reacção deste homem.
Em Génesis 11:31 (ler)
Lendo todas estas passagens concluímos que os laços de
natureza familiar impediram a Abrão uma resposta plena, total a Deus.
Foi chamado por Deus para Canaã, mas sai de Hur e
demora-se em Harã. Hur e Harã situavam-se perto dos dois rios Tigres e Eufrates
na Mesopotâmia.
Abrão vivia em Hur, mas o seu pai vivia em Harã. E
aqui fica até que o seu pai morra. Os laços de natureza familiar estavam muito
fortes. Custava-lhe deixar o seu pai. Podemos compreender os sentimentos de
Abrão. O pai era demasiado idoso para o acompanhar na viagem. Custa-lhe por
isso partir sem ver o pai descer ao pó da terra. Só depois com passo decidido
toma o caminho para o lugar que “o Deus da glória” o tinha chamado.
Tudo isto tem um significado muito importante. As
influências familiares, o ambiente em que vivemos, os bens materiais podem ser
hostis à plena realização do chamado de Deus.
Somos propensos a tomar caminho mais baixo do que
aquele que o chamado divino põe diante de nós. Por isso Deus insta (Isaías
55:8).
É necessária muito simplicidade e integridade de fé
para permitir que os nossos pensamentos se elevem à altura que Deus se quer
revelar e receber-mos as bênçãos que Deus quer que desfrutemos com Ele.
A família é importante – tudo devemos fazer para que
ela entre connosco nos portais da cidade celeste. Penso na oração do apóstolo
Paulo: Efésios 1:15-19.
E isto porque se não compreendemos o alto e sublime
significado do chamado que nos foi feito dificilmente, poderemos “andar como é
digno”.
Precisamos constantemente ter os nosso olhos
“iluminados do entendimento para que saibais qual seja a esperança da sua
vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos.” (v.18)
Abrão foi chamado para ir a um lugar determinado.
Devemos saber para onde somos chamados, antes de poder ir para lá.
Talvez Abraão não tenha compreendido bem o destino do
chamado (Canaã), talvez tenha pensado em Harã.
É assim conosco. Necessitamos dia após dia procurar
ouvir a voz de Deus para que ele nos indique o caminho, Ele tem a direcção
certe e o roteiro. Se deixamos de olhar para Ele (Heb. 11:1,2), corremos o
risco do desvio, perder a direcção e o destino.
Filipenses 3:14, faz-nos pensar no jovem violinista
que se apresento o seu primeiro recital. O auditório estava à cunha. Cada
número era aplaudido freneticamente. A multidão delirava. O jovem músico
agradeceu os aplausos, mas não deu demonstração de sentir-se lisonjeado. Quase
todo o tempo tinha os olhos fitos na galeria.
Quando o som dos derradeiros acordes morreram, um
ancião na galeria fez com a cabeça um sinal de aprovação. Imediatamente, o
jovem mostrou-se satisfeito, e a sua fisionomia iluminada de felicidade. Os
aplausos da multidão pouco lhe importavam, enquanto não tivesse recebido a
aprovação do seu mestre.
Os olhos do cristão devem estar fitos em Cristo. A Sua
pureza, a Sua santidade, a Sua perfeição, unicamente, podem ser nosso alvo.
Logo que algum outro ser se torne nosso exemplo, nosso herói na fé, ficamos
sujeitos à decepção. Conheci um homem a quem
eu tinha em alta estima. Era homem, cuja simples aparência impunha
respeito e admiração. Quem suporia que o maligno tivesse semeado joio em seu
coração? Quando ele caiu – pois foi o que aconteceu – muitos ficaram enfraquecidos
na fé.
Ser guiado pelo Espírito Santo à compreensão da
verdade que somos chamados a caminhar para o nosso lar, para a nossa porção,
que a nossa esperança e herança são de cima, “onde Cristo está à dextra de
Deus.”
Se alguma coisa se interpõe a visão é turbada. Se
perdemos o contato com a voz de Deus, a religião torna-se um conjunto de
dogmas, uma teoria ineficaz, uma esperança que não passa de uma especulação
tosca.
Então é bem normal que nos fixemos em Harã, que
representa a estabilidade, um nome, uma posição, um futuro bem seguro e
estável.
Abrão não fora chamado para Harã, mas para Canaã. E
esta era uma verdade divina, prática e poderosa.
Foi chamado para Canaã e Deus não podia aprovar a sua
demora em qualquer outro lugar.
Foi assim com Abraão e assim é connosco! Muitos dizem
“não preciso ir à igreja para adorar a Jesus. Posso no conforto do meu lar ver
uma pregação pela TV Novo Tempo ou outra. Abrão, pensou estou com Deus, é uma
boa acção, estou com o meu velho pai. Mas não era lá o encontro.
Atos 2:41,42,44; Apoc. 14:12.
Se quisermos ter a aprovação divina, e a Sua presença,
devemos procurar, pela fé, agir segundo o chamado divino.
Quer dizer devemos procurar atingir em experiência, na
prática, no carácter moral, o ponto para o qual Deus nos chamou, e esse ponto é
a plena comunhão com o Seu Filho.
A comunhão com Jesus pode passar por sermos rejeitados
por amigos, família. Certos no Espírito da aprovação do céu.
No caso de Abraão foi a morte – do pai – que quebrou
os laços que o prendiam a Harã. É também, frequentemente, através do
sofrimento, e às vezes de pessoas queridas, da perda de coisas que
considerávamos muito importantes que se quebram laços que nos prendem ao mundo
e impedem caminhar determinados para Canaã.
II-
O Chamado que separa.
Ao olhar para a Cruz e ouvir a voz de Deus que nos
perdoa, nos ama, nos atrai e nos dá paz. É ela – a cruz - que rompe os laços
que nos mantém cativos. Nos separa do mundo. Nos leva a sair do arraial onde
Satanás reina e escraviza os homens com vícios, a imoralidades, à violência e à
intolerância.
E une, faz-nos cidadãos do céu, faz-nos testemunhas
pacientes e humildes da graça eterna, preciosa e insondável de Cristo.
Estes dois aspectos: separar e unir, devem ser bem
compreendidos por nós. Não se deve pretender gozar de um, enquanto não se
recusar o outro.
Por isso o apóstolo Paulo declarou: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz
de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu
para o mundo.” Gálatas 6:14
Voltemos a Abraão. Não sabemos quanto
tempo se demorou em Harã; todavia Deus esperou graciosamente pelo seu servo,
até que livre do obstáculo dos laços carnais, ou familiares, pôde enfim,
obedecer absolutamente à ordem divina.
Deus ama Abraão, mas enquanto ele
permanece no lugar, na situação da qual Deus o tinha chamado para sair:
. Abraão não recebe nova luz. Não
recebe chamado.
. Deus chama mas respeita a decisão
individual
. devemos agir segundo a luz
comunicada, e então Deus dará mais lua: “Àquele que tem, se dará.” (Mat.
13:12). Este é o princípio de Deus.
Deus não arrasta ninguém ao longo do
caminho discipulado, do serviço.
Isto não estaria de acordo com o Seu
carácter moral.
Deus não nos arrasta, mas atrai-nos.
Deus atrai-nos e espera que corramos
com verdadeira alegria de coração contando as Suas misericórdias e não como se
fossemos contando ao longo do caminho os sacrifícios, dificuldades que temos
que fazer para O seguir.
Deus ama a vivacidade da alma
daqueles que ouviram no íntimo do coração o chamado de Deus e consideram grande
privilégio responder: “Eis-me aqui Senhor envia-me a mim”.
Então existe verdadeira bênção para o
crente em cada ato de obediência, pois a obediência é fruto da fé; e a fé
liga-nos a Deus e leva-nos a uma comunhão viva com Ele.
Como diz o livro de Cantares de
Salomão “Ele é meu e eu sou dele.”
O que obedece ao chamado de Deus
arrastando-se ao longo do caminho a Lei de Deus torna-se um fardo, uma tortura,
um ato legalista.
Mas se a pessoa ouve a voz de Deus
“Sai da tua terra…”
. Sai dos teus desejos pessoais.
. Sai das tuas opções.
. Sai dos teus preconceitos.
. Sai da tua orientação de vida.
. Sai da tua rotina.
. Sai da tua bagagem cultural e
intelectual.
. Sai das tuas explicações e
justificações.
“Sai para terra que eu te mostrarei…
e abençoar-te-ei tu serás uma grande bênçãos.”
Isto não se tratava de coacção mas
atração.
Se calhar a terra de Canaã, não era a
terra da promessa, era a terra da fé.
Mas era a terra de Deus, era a terra
da promessa, era a terra da fé.
III. A terra da nova natureza.
Em Hebreus 11:8, diz: “Pela fé
Abraão, sendo chamado, obedeceu, indo para um lugar que havia de receber por
herança; e saiu sem saber para onde ia.”
Embora não tivesse visto com os
seus olhos, creu com o coração, e a fé tornou-se a grande mola real da sua
alma.
A fé descansa num terreno muito
mais sólido do que a evidência dos nossos sentidos, repousa na Palavra de Deus.
Os nossos sentidos podem
enganar-nos, mas a Palavra de Deus nunca nos engana.
Eu admiro Abraão, eu amo este
homem. Porque ele tinha 75 anos, e aos 75 anos não é fácil tomar decisões.
Um jovem pode sair do seu país
natal, mas para um homem idoso é difícil. Há muitas coisas a liga-lo à terra
onde nasceu, a família, a fortuna, os amigos e tantas outras coisas.
Abraão tem consciência e o texto
de Hebreus diz claramente, que Abraão caminhava para um lugar desconhecido,
tinha que habitar entre tribos hostis, desconhecidas.
Mas ele deixou-se guiar pela voz
de Deus. ele sabia que com Deus sempre haveria uma solução, a melhor solução.
Ele contemplou uma glória muito
mais refulgente que a terra possa proporcionar.
Ele contemplou a mesma glória que
anos mais tarde Saulo de Tarso contemplou.
Ao contemplar esta glória Abraão
– passou a chamar-se Abraão – o amigo de Deus. o abençoado do Pai.
Saulo de Tarso – passou a
chamar-se Paulo o “vaso escolhido”.
Eles fecharam os olhos e viram
glória tão brilhante que vinha directamente do trono de Deus.
Eles consideraram nessa
contemplação as coisas da terra “como esterco”, para poderem ganhar aquele
maravilho Senhor que lhe tinha aparecido e cuja voz lhes tinha falado no mais
íntimo da alma.
Eles viram Cristo celestial e
durante o resto das suas carreiras Cristo foi a Terra Prometida.
Queridos, incluo-me no apelo:
vigiemos as nossa tendências em nos afastarmos do chamado de Deus.
Do caminho estreito, todavia
seguro. Quando tentados a sair dele e a seguir o curso deste mundo que nos
desvia do percurso que conduz à Canaã Celestial.
Lembremo-nos d´Aquele “que se deu
a si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau, segundo
a vontade de Deus, nosso Pai.” Gal. 1:4
“Enquanto eu estava oração junto
ao altar da família, o Espírito Santo me sobreveio, e pareceu-me estar subindo
mais e mais alto da escura Terra. Voltei-me para ver o povo do advento no
mundo, mas não o pude achar, quando uma voz me disse: Olha novamente, e olha um
pouco mais para cima. Com isto olhei mais para o alto e vi um caminho reto e
estreito, levantado em lugar elevado do mundo o povo do advento estava nesse caminho,
a viajar para a cidade que se achava na sua extremidade mais afastada. …Se
conservam o olhar fixo em Jesus, que Se achava precisamente diante deles,
guando-os para a cidade, estavam seguros. Mas alguns ficavam cansados, … outros
ficavam temerariamente negavam que fora Deus que os guiara … e resvalavam do
caminho.” Primeiros Escritos, ps. 14,15.
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