sexta-feira, 3 de outubro de 2014

PRODUZIR BONS FRUTOS

João 15,1-8

Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos: “Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que em mim não dá fruto ele o corta; e todo ramo que dá fruto, ele o limpa, para que dê mais frutos ainda. Vós já estais limpos por causa da palavra que eu vos falei. Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós não podereis dar fruto, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que permanece em mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Quem não permanecer em mim, será lançado fora como um ramo e secará. Tais ramos são recolhidos, lançados no fogo e queimados. Se permanecerdes em mim e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes e vos será dado. 8Nisto meu Pai é glorificado: que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos.

O texto se encontra no complexo literário de João 13-17 que fala da despedida de Jesus de seus discípulos. A última mensagem de Jesus para os seus discípulos se precede com a cena da última ceia com o lava-pés que culmina com o anúncio da traição (João 13,1-20). Na presença dos seus amigos íntimos, Jesus começa a transmitir sua mensagem final (João 13,31-17,26). Como qualquer grande líder que reúne seus seguidores na véspera de sua morte para dar-lhes instruções quando ele partir, também Jesus, antes de sua morte, faz a mesma coisa. Mas ele lhes garante que sua morte não é um fim, pois ele vai para seu Pai. Aqui, nestes capítulos, Jesus repetidamente promete que ele vai voltar para os discípulos através de sua ressurreição e do dom do Espírito Santo. Esta volta vai trazer-lhes paz e alegria, e que os discípulos vão entrar também na comunhão de sua vida através do Espírito, que é o dom de Jesus ressuscitado.

1. Jesus é a Verdadeira Videira
“Eu sou a verdadeira videira e vós, os ramos”, diz Jesus. Quando Jesus se autoproclama como a “verdadeira videira”, é porque existe outra videira falsa. Quem é que representa essa videira falsa?

A vinha é uma imagem do povo de Israel em relação com o Deus da Aliança. O profeta Oseias descreve Israel como uma vinha viçosa, ou florescente (Os 10,1), mas tem um coração infiel. Assim essa vinha, que tem muitas folhas, se torna uma vinha inútil, pois não se encontra nenhum fruto. O profeta Isaías faz um poema ou um cântico sobre Israel onde ele o descreve como uma vinha ingrata (Is 5,1-7). O cântico se transforma, assim, em uma queixa e um julgamento. O profeta Jeremias fala da degeneração da vinha de qualidade: torna-se em vinha bastarda (Jr. 2,21; cf. também Jr 5,10;12,10-11; Sl 80,9-12;Ez 17,5ss). A conduta de Israel se mostra decepcionante seja por seus próprios pecados, seja por causa de seus maus pastores.

O que Israel não foi capaz de dar a Deus, Jesus lho dá. Jesus é a videira fiel, porque correspondeu aos cuidados e à expectativa de Deus e produziu o vinho bom da fidelidade à aliança.  Por si mesmo, a imagem de “verdadeira videira” evoca vida, seiva, fruto.

“Eu sou a verdadeira videira e vós, os ramos”, diz Jesus. Esta imagem serve para sublinhar a comunicação e circulação de vida divina que existe entre Jesus e aqueles que nele crêem. Meditar
estas palavras sobre a videira e os ramos significa encontrar a relação que nos liga, na sua dimensão mais profunda, a Ele. É uma relação mais profunda até do que aquela que existe entre pastor e o rebanho, sobre a qual meditamos no domingo anterior. No evangelho deste domingo descobrimos onde é que reside a força interior de nossa fé: em Jesus na vivencia do amor fraterno (2Tm 3,17).

2. Nós Somos os Ramos da Videira Verdadeira: É Preciso Permanecermos no Tronco.
Jesus nos diz: “Eu sou a verdadeira videira e vós, os ramos”. O ramo é uma extensão e um prolongamento do tronco (da videira). Do tronco é que vem a seiva (linfa) para o ramo que o nutre, a humidade do solo e tudo aquilo que ele transforma depois em uva sob os raios do sol. Se não é alimentado pela videira, nada pode ele produzir.

Para produzirmos frutos necessitamos permanecer no tronco que é Cristo: “Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que permanece em mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer”.           

Neste Evangelho o verbo “permanecer” aparece sete vezes para exprimir a união entre o tronco e os ramos, ou seja, entre Jesus e os fiéis. A expressão “permanecer” tem em Jo uma conotação do definitivo, do perene no relacionamento com Jesus fundado na fé, um relacionamento de confiança e fidelidade recíproca que existe entre Jesus e seus seguidores. Com esta permanência, os seguidores terão condições de produzir frutos. O sentido é o da mútua união de Deus nos seus e deles em Deus. Não se trata de uma mera “união moral” entre os fiéis e Jesus/Deus. Da parte de Deus (em Jesus) trata-se da presença salvífica; e, na medida em que abrimos espaço para a presença de Deus no meio de nós e em nós, também nós “permanecemos” no âmbito dele. E da parte dos fiéis (nós), esse permanecer significa concretamente o continuar na profissão de fé em Jesus e a comunhão do amor fraterno. Somente em contato com Jesus temos vida e força interior, capacidade e constância para transformar a dura realidade e vencer o mal dentro e fora de nós.

Permanecer em Cristo significa também não abandonar os compromissos assumidos (no batismo, no matrimónio etc.), não se afastar da fonte que é Cristo, como o filho pródigo, entregando-se a uma vida de pecado consciente e intencionado.

Permanecer em Cristo significa também permanecer no seu amor (João 15,9): no amor que ele tem por nós, mais que no amor que nós temos por Ele; significa, pois, permitir-Lhe que nos ame, que nos faça passar a sua “seiva” que é o Seu Espírito, evitando pôr entre Ele e nós a insuperável barreira da auto-suficiência e da indiferença.

A separação de Jesus significa esterilidade absoluta. Um cristão que não permanece unido a Cristo, resseca, não dá fruto. Ele pode até ter uma vida brilhante, cheia de saúde, de ideias, exibir energia, negócios, filhos e ser, aos olhos de Deus, lenha seca, sem vida, um coração vazio. Quem pertence aparentemente ao grupo cristão, mas não mantém ligação com Jesus, é um membro morto. Só atrapalha mais do que ajuda. Tudo, quando se afasta do tronco que é Jesus Cristo, tende a morrer. Pessoas afastadas dos outros e de Deus murcha, seca e morre.

3. Para Podermos Produzir Frutos Precisamos Ser Podados.

A videira é uma planta que precisa de muitos cuidados. Todos os anos ela deve ser podada para que a seiva se concentre em poucos ramos, fortes e vivos. Qualquer agricultor bom não tem medo de podar uma videira, porque ele sabe que com isso, a videira vai produzir muito mais frutos. Ele não fica acariciando as folhas verdes da videira. Uma videira, embora viçosa, se não for podada no tempo certo com muito desvelo, depois de alguns anos, não produz mais nada que preste. Além disso, os ramos secos são tirados.

Jesus diz: “Todo ramo que dá fruto, o Pai o limpa, para que dê mais fruto ainda” (v. 2). Ao falar em “dar fruto”, Jesus usa a expressão que nos recorda inevitavelmente o grão de trigo que ao morrer ser enterrado, dará muito fruto (Jo 12,24). Mas não é a morte ou a poda o que se assemelha à videira, mas a vida e o fruto abundante que por elas se alcançam.


A poda é uma limpeza profunda. E limpo é aquele que encontra a sua identidade no seu vínculo com o Senhor e no serviço aos demais e aquele que fala de acordo com seu agir e agir como fala. Precisamos fazer várias podas na nossa vida e de nossa vida se quisermos crescer como bons cristãos: poda das riquezas armazenadas, dos comentários desnecessários, da soberba, do poder temporal e influências mundanas, da ganância, da preguiça, do egoísmo, da mentira, da hipocrisia, assim por diante. Sem estas podas sobra-nos lenha seca e falta-nos seiva jovem e vida nova do Espírito.

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