João 15,1-8
Naquele tempo, Jesus disse aos
seus discípulos: “Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. Todo
ramo que em mim não dá fruto ele o corta; e todo ramo que dá fruto, ele o
limpa, para que dê mais frutos ainda. Vós já estais limpos por causa da palavra
que eu vos falei. Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. Como o ramo não
pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós não
podereis dar fruto, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira e vós os
ramos. Aquele que permanece em mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque
sem mim nada podeis fazer. Quem não permanecer em mim, será lançado fora como
um ramo e secará. Tais ramos são recolhidos, lançados no fogo e queimados. Se
permanecerdes em mim e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que
quiserdes e vos será dado. 8Nisto meu Pai é glorificado: que deis muito fruto e
vos torneis meus discípulos.
O texto se encontra no complexo
literário de João 13-17 que fala da despedida de Jesus de seus discípulos. A
última mensagem de Jesus para os seus discípulos se precede com a cena da última
ceia com o lava-pés que culmina com o anúncio da traição (João 13,1-20). Na
presença dos seus amigos íntimos, Jesus começa a transmitir sua mensagem final
(João 13,31-17,26). Como qualquer grande líder que reúne seus seguidores na
véspera de sua morte para dar-lhes instruções quando ele partir, também Jesus,
antes de sua morte, faz a mesma coisa. Mas ele lhes garante que sua morte não é
um fim, pois ele vai para seu Pai. Aqui, nestes capítulos, Jesus repetidamente
promete que ele vai voltar para os discípulos através de sua ressurreição e do
dom do Espírito Santo. Esta volta vai trazer-lhes paz e alegria, e que os
discípulos vão entrar também na comunhão de sua vida através do Espírito, que é
o dom de Jesus ressuscitado.
1. Jesus é a Verdadeira Videira
“Eu sou a verdadeira videira e
vós, os ramos”, diz Jesus. Quando Jesus se autoproclama como a “verdadeira
videira”, é porque existe outra videira falsa. Quem é que representa essa
videira falsa?
A vinha é uma imagem do povo de
Israel em relação com o Deus da Aliança. O profeta Oseias descreve Israel como
uma vinha viçosa, ou florescente (Os 10,1), mas tem um coração infiel. Assim
essa vinha, que tem muitas folhas, se torna uma vinha inútil, pois não se
encontra nenhum fruto. O profeta Isaías faz um poema ou um cântico sobre Israel
onde ele o descreve como uma vinha ingrata (Is 5,1-7). O cântico se transforma,
assim, em uma queixa e um julgamento. O profeta Jeremias fala da degeneração da
vinha de qualidade: torna-se em vinha bastarda (Jr. 2,21; cf. também Jr
5,10;12,10-11; Sl 80,9-12;Ez 17,5ss). A conduta de Israel se mostra
decepcionante seja por seus próprios pecados, seja por causa de seus maus
pastores.
O que Israel não foi capaz de dar
a Deus, Jesus lho dá. Jesus é a videira fiel, porque correspondeu aos cuidados
e à expectativa de Deus e produziu o vinho bom da fidelidade à aliança. Por si mesmo, a imagem de “verdadeira
videira” evoca vida, seiva, fruto.
“Eu sou a verdadeira videira e
vós, os ramos”, diz Jesus. Esta imagem serve para sublinhar a comunicação e
circulação de vida divina que existe entre Jesus e aqueles que nele crêem.
Meditar
estas palavras sobre a videira e os ramos significa encontrar a relação
que nos liga, na sua dimensão mais profunda, a Ele. É uma relação mais profunda
até do que aquela que existe entre pastor e o rebanho, sobre a qual meditamos
no domingo anterior. No evangelho deste domingo descobrimos onde é que reside a
força interior de nossa fé: em Jesus na vivencia do amor fraterno (2Tm 3,17).
2. Nós Somos os Ramos da Videira Verdadeira: É Preciso Permanecermos no
Tronco.
Jesus nos diz: “Eu sou a
verdadeira videira e vós, os ramos”. O ramo é uma extensão e um prolongamento
do tronco (da videira). Do tronco é que vem a seiva (linfa) para o ramo que o
nutre, a humidade do solo e tudo aquilo que ele transforma depois em uva sob os
raios do sol. Se não é alimentado pela videira, nada pode ele produzir.
Para produzirmos frutos
necessitamos permanecer no tronco que é Cristo: “Eu sou a videira e vós os
ramos. Aquele que permanece em mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque
sem mim nada podeis fazer”.
Neste Evangelho o verbo
“permanecer” aparece sete vezes para exprimir a união entre o tronco e os
ramos, ou seja, entre Jesus e os fiéis. A expressão “permanecer” tem em Jo uma
conotação do definitivo, do perene no relacionamento com Jesus fundado na fé,
um relacionamento de confiança e fidelidade recíproca que existe entre Jesus e
seus seguidores. Com esta permanência, os seguidores terão condições de
produzir frutos. O sentido é o da mútua união de Deus nos seus e deles em Deus.
Não se trata de uma mera “união moral” entre os fiéis e Jesus/Deus. Da parte de
Deus (em Jesus) trata-se da presença salvífica; e, na medida em que abrimos
espaço para a presença de Deus no meio de nós e em nós, também nós
“permanecemos” no âmbito dele. E da parte dos fiéis (nós), esse permanecer
significa concretamente o continuar na profissão de fé em Jesus e a comunhão do
amor fraterno. Somente em contato com Jesus temos vida e força interior,
capacidade e constância para transformar a dura realidade e vencer o mal dentro
e fora de nós.
Permanecer em Cristo significa
também não abandonar os compromissos assumidos (no batismo, no matrimónio
etc.), não se afastar da fonte que é Cristo, como o filho pródigo,
entregando-se a uma vida de pecado consciente e intencionado.
Permanecer em Cristo significa
também permanecer no seu amor (João 15,9): no amor que ele tem por nós, mais
que no amor que nós temos por Ele; significa, pois, permitir-Lhe que nos ame,
que nos faça passar a sua “seiva” que é o Seu Espírito, evitando pôr entre Ele
e nós a insuperável barreira da auto-suficiência e da indiferença.
A separação de Jesus significa
esterilidade absoluta. Um cristão que não permanece unido a Cristo, resseca,
não dá fruto. Ele pode até ter uma vida brilhante, cheia de saúde, de ideias,
exibir energia, negócios, filhos e ser, aos olhos de Deus, lenha seca, sem
vida, um coração vazio. Quem pertence aparentemente ao grupo cristão, mas não
mantém ligação com Jesus, é um membro morto. Só atrapalha mais do que ajuda.
Tudo, quando se afasta do tronco que é Jesus Cristo, tende a morrer. Pessoas
afastadas dos outros e de Deus murcha, seca e morre.
3. Para Podermos Produzir Frutos Precisamos Ser Podados.
A videira é uma planta que
precisa de muitos cuidados. Todos os anos ela deve ser podada para que a seiva
se concentre em poucos ramos, fortes e vivos. Qualquer agricultor bom não tem
medo de podar uma videira, porque ele sabe que com isso, a videira vai produzir
muito mais frutos. Ele não fica acariciando as folhas verdes da videira. Uma
videira, embora viçosa, se não for podada no tempo certo com muito desvelo,
depois de alguns anos, não produz mais nada que preste. Além disso, os ramos
secos são tirados.
Jesus diz: “Todo ramo que dá
fruto, o Pai o limpa, para que dê mais fruto ainda” (v. 2). Ao falar em “dar
fruto”, Jesus usa a expressão que nos recorda inevitavelmente o grão de trigo
que ao morrer ser enterrado, dará muito fruto (Jo 12,24). Mas não é a morte ou
a poda o que se assemelha à videira, mas a vida e o fruto abundante que por
elas se alcançam.
A poda é uma limpeza profunda. E
limpo é aquele que encontra a sua identidade no seu vínculo com o Senhor e no
serviço aos demais e aquele que fala de acordo com seu agir e agir como fala.
Precisamos fazer várias podas na nossa vida e de nossa vida se quisermos
crescer como bons cristãos: poda das riquezas armazenadas, dos comentários
desnecessários, da soberba, do poder temporal e influências mundanas, da ganância,
da preguiça, do egoísmo, da mentira, da hipocrisia, assim por diante. Sem estas
podas sobra-nos lenha seca e falta-nos seiva jovem e vida nova do Espírito.
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