quinta-feira, 11 de abril de 2013

A Jutificação do Pecador - justiça imputada e comunicada


Se alguém é justificado e, no seu registo no Céu, se lê “justo, como se nunca tivesse pecado”, poderia parecer estranho querer acrescentar alguma coisa a esta espécie de registo. Expressar este tipo de pensamento é revelar o facto de que ainda continua a pensar em termos legais. Ainda há um desejo de fazer alguma coisa para sentirmos que isto é real. O maior objectivo para alguém que foi justificado é, pela fé, conservar essa imerecida posição que Deus, no Seu amor, nos deu como um dom gratuito. Contudo, no momento em que somos justificados somos também santificados. Estas duas condições são alcançadas somente pela fé. A justificação lida com os nossos registos no Céu. Ela muda o conteúdo desses registos, de um criminoso condenado para os de um homem livre, com registos perfeitos, incluindo a sua vida passada.
A santificação é o plano celestial através do qual um criminoso liberto (agora um membro da família de Deus) pode agradecer continuamente a Deus pelo dom indescritível da justificação feito a um indigno miserável. Como é que ele pode fazer isso? Permitindo, diariamente, que Deus opere nele segundo o Seu querer e boa vontade. Filipenses 2:13.
O nosso papel é permitir que Deus trabalhe na nossa vida, reabituando-nos a dizer continuamente sim, cada vez que Jesus disser: “Este é o caminho, andai por ele”. O que o Céu requer dos que lá hão-de entrar é total confiança em Jesus, sem duvidar, sem adiamentos, ou mesmo sem perguntar porquê ou como. A nossa resposta à orientação de Deus deve ser tão natural como o movimento de uma flor que se vira para o sol.
Obviamente, não devem subsistir dúvidas ao longo do caminho acerca da nossa justificação (justiça imputada) ou da nossa santificação (justiça comunicada). É através da justificação que a obediência nos é creditada, agora e para o futuro.
“Através da Sua justiça imputada, são aceites por Deus como os que estão a manifestar ao mundo que reconhecem a aliança com Deus, guardando todos os Seus mandamentos.” (CNJ, pág. 133.)
“Deveríamos estudar a vida do nosso Redentor, pois Ele é o único exemplo perfeito para os homens. Deveríamos contemplar o infinito sacrifício do Calvário, e ver a tremenda malignidade do pecado e a justiça da lei. Sairão, de um cuidadoso estudo do tema da redenção, fortalecidos e enobrecidos. A vossa compreensão do carácter de Deus será aprofundada; e com o plano da salvação claramente definido na vossa mente, estareis melhor habilitados para cumprir a vossa comissão divina. Com um sentimento de plena convicção poderão, então, testificar aos homens do imutável carácter da lei, manifestado pela morte de Cristo sobre a cruz, da maligna natureza do pecado e da justiça de Deus ao justificar o crente em Jesus sob a condição da sua futura obediência aos estatutos do governo de Deus, no Céu e na Terra.” (Idem, pág. 46.)
“A religião pessoal entre nós, como um povo, está em declínio. Há muita forma, muita maquinaria, muita religião de língua; mas algo de mais profundo e mais sólido deve ser introduzido na nossa experiência religiosa… Temos necessidade de conhecer Deus e o poder do Seu amor, revelado em Cristo, através de conhecimento experimental… Por meio dos méritos de Cristo, através da Sua justiça que, pela fé, nos é imputada, cumpre-nos atingir a perfeição do carácter cristão.” (Idem, pág. 107, 108.)
A perfeição também vem através da justificação. É através da santificação que essa posição é mantida. Essa será a nossa condição, não só até à volta de Cristo, mas por toda a eternidade. Será a nossa feliz tarefa expressar a todo o Universo o nosso apreço pelo inexprimível dom de Cristo em nosso favor.
A salvação depende da justificação como um dom gratuito de Deus. A nossa atitude em relação a essa dádiva é expressa pela forma como nos relacionamos com a santificação, e pela nossa disponibilidade para permitirmos que Jesus remodele os nossos caracteres, de maneira a que reflictam o Seu. Esse é o trabalho de Jesus, não importa os métodos que Ele utilize para alcançar o Seu objectivo. A nossa parte consiste em submetermo-nos a Ele.
Será a santificação a prova da justificação? Em João 15:5, Jesus diz: “…quem está em mim e eu nele, esse dá muito fruto.” O fruto do Espírito deve ser visto em todos aqueles que estão verdadeiramente justificados. Gálatas 5:22, 23. O crente apenas tem de se manter nessa relação (posição) com Cristo e Ele produzirá o fruto. Cristo é a Videira; o crente é o ramo. A nossa posição como membros da família de Deus é o motivo da nossa alegria. Devemos recusar demorar-nos numa forma condicional de pensar. Quando somos enxertados na Videira, tornamo-nos parte d’Ele. A justificação será sempre necessária. O carácter de Cristo é a única cobertura que pode satisfazer completamente todos os requisitos da perfeita lei de Deus; por isso, deve ser conservado.
“O inimigo de Deus e do homem não deseja que esta verdade [justificação pela fé] seja exposta de forma clara; pois sabe que se o povo a aceitar na sua totalidade, o seu poder será quebrado. Se ele conseguir controlar as mentes a ponto de a dúvida, a descrença e a escuridão fazerem parte da experiência daqueles que se intitulam filhos de Deus, poderá vencê-los com a tentação.” (Idem, pág. 69.)
“Eu vos dou poder para pisar serpentes e escorpiões, e toda a força do inimigo …” Lucas 10:19.
Obviamente, os cristãos, em geral, não têm um conhecimento experimental de que podem viver livres do poder de Satanás. Isto não implica viver livre das suas tentações. As tentações, juntamente com o pecado, perderam o seu poder. E estas são boas novas para todos nós.
O pecado tem uma influência poderosa sobre a família humana. É atractivo para a natureza pecadora. Ele oferece prazer por um momento. Sendo proibido, é excitante. Fomenta o espírito de independência. É um mau uso da capacidade de escolha ou do poder da vontade. Tudo isto será resolvido no cristão verdadeiramente nascido de novo, à medida que ele caminha com o seu Senhor em justiça.
Há outro aspecto, muito mais subtil, do poder do pecado que devemos considerar: “…a força do pecado é a lei.” I Coríntios 15:56. A palavra grega dunamis (capacidade) é aqui traduzida como força. É mais frequentemente traduzida como poder. A nossa palavra “dinamite” tem a mesma raiz. A capacidade da dinamite está no seu poder explosivo. Se a “força do pecado” é a lei, devemos saber como é que isso é verdade. Deus não revelou a Sua lei como uma transcrição do Seu carácter e ao mesmo tempo como a “força do pecado”. A lei divina de amor levou-O a criar o homem com capacidade de pecar. Deu-lhe o poder de escolha. Será aqui que reside o poder do pecado? “O homem resiste à tentação quando, poderosamente influenciado para fazer o mal, e sabendo que o pode fazer, resiste, pela fé, firmemente apoiado no poder divino.” (SDABC, vol. 5, pág. 1082; YI, 20 de Julho de 1899.)
É interessante saber que o poder que Jesus deu aos Seus discípulos, referido em Lucas 10:19, foi exousia (autoridade), e não “capacidade”. Mas o poder do inimigo no mesmo verso é dunamis (capacidade). Podemos dizer, então, que Deus deu ao homem autoridade sobre todas as capacidades de Satanás, mas que retém a capacidade e a autoridade sobre Satanás sob o Seu próprio controlo. Através de Cristo, todo o poder de Satanás é quebrado, porque ele é um inimigo derrotado.
Colossense 1:13 diz: “Livrou-nos do poder (autoridade) da escuridão, e fez-nos passar para o reino de seu Filho querido” Libertação da autoridade de Satanás e sermos membros do reino de Deus é exactamente a mesma coisa. “Quando abandonarem a vossa própria vontade, a vossa própria sabedoria, e aprenderem de Cristo, acharão entrada no reino de Deus.” (ME, livro 1, pág. 110.)
Uma vez que a lei de Deus é uma transcrição do Seu carácter, e Satanás está sempre a deturpar o Seu carácter, devemos encontrar aqui a chave para a afirmação de que a lei é a “força do pecado”.
Devido a uma má compreensão e mau uso da lei de Deus, o antigo Israel permaneceu sob o poder de Satanás durante séculos. O plano de Deus era que a Sua lei, conforme escrita e revelada no Sinai, fosse um mestre que levasse o Seu povo a Cristo. Gálatas 3:24. Satanás tinha outros planos. Ele usaria essa mesma lei da liberdade para escravizar. Como? Concentrando todos os seus esforços numa das funções da lei – a sua capacidade para condenar. Paulo escreve: “Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens, para condenação…” Romanos 5:18. Está aqui o ponto central de Satanás e o seu poder sobre os homens. Ele tenta cegar-nos para o resto do mesmo versículo: “...assim também por um só acto de justiça veio a graça sobre todos os homens, para justificação de vida.”
Satanás sempre ampliou a condenação, e depois apresentou a estrita obediência à lei como a única solução aceitável para o problema. Isso levou o homem à derrota sob um miserável desencorajamento, tentando guardar aquilo que não pode guardar na sua própria força – dunamis, ou autoridade, exousia. Condenação e culpa estão associadas e constituem o ponto forte do trabalho de Satanás ao enganar os cristãos.
A condenação e a culpa foram planeadas para levar o homem a aperceber-se da sua própria insignificância e, na sua miséria, ele voltar-se-ia para Deus, que enviou o Seu filho para resolver todo o problema do pecado. Um pai amoroso, quando lida com um filho desobediente, com frequência manifesta autoridade e capacidade, mesmo que seja mal compreendido. O pecado tornou necessária a revelação da lei que existia desde a eternidade, mas que era mal compreendida e erradamente aplicada. A principal função da lei como ensinadora foi escondida aos olhos do homem pela condenação.
A condenação é uma força rude e opressora, tanto para as religiões pagãs como cristãs. Muitos dos reformadores sofreram sob o seu poder. De um modo geral, o Cristianismo tem lutado com este problema e só tem encontrado respostas humanas, que não geram amor a Deus nem produzem uma atitude correcta para com a Sua lei. David tinha os seus olhos abertos e viu a lei como o mestre, ou vereda, que leva a Cristo. A sua resposta foi: “Oh! Quanto amo a tua lei! É a minha meditação em todo o dia.” Salmo 119:97.
Desde o início da sua apostasia, Satanás odeia a lei de Deus, trabalhando continuamente para a mudar ou modificar. Qualquer tentativa para usar a justificação, a imputação do carácter de Cristo para benefício do homem, como um meio de mudança ou para pôr de lado a lei de Deus, é concordar com Satanás e cooperar com ele na sua rebelião contra Deus.
O antinomianismo, o pôr de lado a lei de Deus, é uma resposta humana para o problema do pecado, que concorda com a acusação original de Satanás contra Deus.
O homem moderno pode pensar que a lei é incapaz de satisfazer as suas necessidades. No entanto, continua a precisar do Salvador a quem a lei o conduz. A verdade é que o homem precisa de ser mudado completamente, não a lei. Esta mudança dá-se através de dois processos relacionados, mas distintos e diferentes. Primeiro, foi concretizado por Cristo um processo legal, a favor do homem, na cruz do Calvário, quando tomou o lugar que nos pertencia e pagou a dívida que não podíamos pagar e continuar a viver. Assim, o registo do homem é alterado no momento em que aceita Cristo como seu Salvador e submete a vida ao Seu controlo. “Quando os homens vêem a sua própria inutilidade, estão preparados para ser revestidos com a justiça de Cristo.” (CNJ, pág. 139.) O Calvário permanece como uma prova irrefutável da imutabilidade da lei de Deus. Se tivesse sido possível mudar ou anular a lei, o Calvário não teria sido necessário. Graças a Deus pela Sua dádiva no Calvário, onde Jesus obteve o direito de resgatar os cativos das mãos do grande enganador. (DTN, pág. 744.)
“Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito” Romanos 8:1. A justificação anula a condenação para aquele que se entrega a Cristo. O Salvador disse: “Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.” João 3:17. A lei ainda condena, mas apenas Satanás está interessado na condenação. O cristão recém-nascido (justificado) aprende que, mesmo que Satanás trabalhe através dos seus sentidos, para condenar, Cristo não está ocupado em condenar. “Sabendo que, se o nosso coração nos condena, maior é Deus do que os nossos corações, e conhece todas as coisas. Amados, se o coração não nos condena, temos confiança para com Deus.” I João 3:20, 21.
Conseguimos ver que é apenas compreendendo Deus na Sua verdadeira relação com o homem – que é de amor e não de condenação – que podemos ter confiança n’Ele? Isto também é verdade na relação pai-filho. Somente numa relação sincera é que há verdadeira confiança. “Porque a lei do espírito de vida, em Cristo Jesus, livrou-me da lei do pecado e da morte.” Romanos 8:2. A lei do espírito serve para nos ensinar sobre a vida em Jesus Cristo, que nos liberta da lei do pecado e da morte. Foi disto que Paulo foi liberto em Romanos 7.
A lei do pecado, a qual diz “…o salário do pecado é a morte…” (Romanos 6:23), tem uma terrível força condenatória na nossa vida, quando utilizada contra nós por Satanás. O seu plano é forçar-nos ao arrependimento através desses miseráveis sentimentos. Muito do arrependimento dos cristãos é um desejo de se livrarem desses fortes sentimentos. Se formos honestos, podemos ver que o egoísmo é a raiz deste arrependimento. A Palavra de Deus declara: “…a bondade de Deus que te leva ao arrependimento.” Romanos 2:4. Não é através da condenação, mas por olhar para Jesus na cruz do Calvário, que chegaremos ao verdadeiro arrependimento. Saber que Ele condena o pecado, mas ama o pecador, liberta-nos. “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.” João 8:36.
Quando vemos que somos vítimas de uma doença mortal, chamada pecado, que tem deixado muitas cicatrizes, chamadas hábitos, no nosso corpo – e que tem de ser erradicada – conseguimos compreender quão paciente, contudo persistentemente, Cristo tem de trabalhar para nos livrar desses hábitos. Só então podemos ver porque é que a santificação – o segundo processo – é a forma de Deus alterar esses nossos hábitos, e é o trabalho de toda uma vida. Não se trata de que uma vida inteira nos faça santos, mas ela deve estabelecer em nós um padrão de total entrega e disponibilidade que permita a Deus fazer em nós, “…o querer como o efectuar, segundo a Sua boa vontade.” Filipenses 2:13.
A justificação trata com a nossa natureza. Quando morremos para o eu, entregamos a nossa vontade e convidamos Cristo a tomar conta da nossa vida, uma nova natureza é dada ao cristão nascido de novo. Essa natureza é capaz de se submeter à lei de Deus, ao passo que a velha natureza odiava a lei de Deus. Romanos 8:7. A santificação assume a tarefa de redireccionar o carácter, e de remover os hábitos que foram desenvolvidos através da velha natureza. Esses hábitos e tendências hereditárias são reminiscências da velha vida centrada no eu. Eles são os mais fortes apoios que Satanás tem na vida do cristão nascido de novo. Graças a Deus, mesmo esses apoios podem ser quebrados, através do maravilhoso plano de redenção. 
José Carlos Costa, pastor
 

Sem comentários: