quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

A TENTAÇÃO DE CRISTO - Mateus 4


A causa ou as causas que me movem a tratar desta passagem das Escrituras, é para que aqueles que, pela inescrutável providência de Deus, caem em diversas tentações, não se julguem, por causa disso, menos aceitáveis na presença de Deus; mas, pelo contrário, tendo o caminho preparado para a vitória através de Cristo Jesus, não temam, acima da medida, as astutas investidas da ardilosa serpente, Satanás; mas, com alegria e coragem, tendo tal Guia, tal Campeão e tais armas, como as encontradas nesta passagem (se com obediência ouvirmos e crermos verdadeiramente), possam assegurar-se do presente favor de Deus e da vitória final, por meio de Cristo, que, para nossa segurança e livramento, entrou na batalha e triunfou sobre o seu adversário e sobre toda a sua fúria, e também, para que as subsequências, sendo ouvidas e entendidas, possam ser melhor guardadas na memória.

Pela graça de Deus, nos proporemos a observar, no trato deste assunto:

1) Primeiro, o significado da palavra tentação e como ela é usada nas Escrituras;

2) Em segundo lugar, quem é tentado aqui e quando esta tentação aconteceu;

3) Em terceiro lugar, como e por quais meios Ele foi tentado;

4) E por último, porque Ele deveria experimentar aquela tentação e qual o proveito decorrente deste episódio, para nós (a parte aqui traduzida).

"Se és o Filho de Deus manda que estas pedras se transformem em pães. Jesus, porém, respondeu: Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus" (Mt.4:3-4)

Desde o Seu nascimento, Jesus foi guiado e instruído pelo Espírito Santo, na ocasião do Seu baptismo, o Espírito Santo desceu sobre Ele na plenitude para Lhe dar sabedoria e capacidade a fim de cumprir a missão que Lhe foi confiada (Atos 10:35; 1:8). Jesus foi guiado “passo a passo, pela vontade do Pai”, de harmonia com “o plano”   que” que esatva diante d´Ele, perfeito em todos os detalhes” antes mesmo que viesse à Terra (DTN 121; Luc. 2:49). Marcos emprega uma expressão ainda mais expressiva “…o Espirito o impeliu ao deserto” (Marcos 1:12).

Uma outra razão a relevar seria o Espírito Santo conduz Jesus ao deserto para que Jesus fosse tentado, é a de nos fazer entender, através deste fato, que Satanás nunca cessa de se opor aos filhos de Deus, mas continuamente, por um meio ou outro intenta provocar a algum juízo pecaminoso sobre Deus e a acusá-los como fez com Jób.

Desejar que pedras se transformem em pães ou que a fome seja satisfeita, nunca foi pecado, nem tão pouco uma opinião pecaminosa sobre Deus, mas, creio que esta tentação era mais espiritual, mais subtil e mais perigosa. Satanás estava a referir-se à voz de Deus que disse ser Cristo Seu Filho Amado (Mat. 3:17).

Contra esta declaração ele luta, como lhe é intrínseco fazer, contra a indubitável e imutável palavra de Deus; pois a sua malícia contra Deus e seus filhos é tal, que para quem Deus declara amor e misericórdia, a estes ele ameaça com infortúnios e maldições; e onde Deus ameaça morte, lá ele é audacioso em declarar vida. Por causa disto Satanás é chamado “mentiroso” desde o princípio (João. 8:44).

Assim sendo, o objetivo de Satanás é o de levar Cristo a fazer algo em Seu próprio benefício e para tanto usando a capacidade de ser Filho de Deus no sentido de divino.

Ou então, provocar dúvida para que Ele não creia na voz de Deus seu Pai; e estes parecem ser ataques de mestre, “cheque mate” desta tentação: "Tu ouviste", Satanás diria, "uma voz dos céus dizer que Tu eras o amado Filho de Deus, no qual Ele se compraz (Mt.3:17), mas não te julgarão louco ou um tolo sem juízo, se creres em tal promessa?

Onde estão os sinais deste amor?

Tu não estás sem o conforto de todas as criaturas?

Tu estás pior do que as brutas feras, pois todo dia elas caçam para se alimentar e a terra produz ervas para o seu sustento, de forma que nenhuma delas definha ou é consumida pela fome. Mas tu jejuas há quarenta dias e quarenta noites, esperando sempre algum alívio e conforto dos céus, mas a tua melhor provisão são pedras duras!

Se Te glorias em teu Deus, e crês verdadeiramente na promessa que foi feita, ordena que estas pedras se transformem em pães. Mas, é evidente que Tu não o podes fazer, pois se pudesses, ou se Deus Te tivesse concedido tal privilégio, há muito terias saciado a tua fome e não necessitarias suportar este abatimento por falta de comida. Mas vendo que ainda continuas assim e que nenhum mantimento foi preparado para Ti, é presunção acreditar em tal promessa, e por isso, perde a esperança de qualquer socorro das mãos de Deus se proveja para Ti, por qualquer outro meio!"

Eu usei muitas palavras, mas eu não posso expressar o grande despeito que se esconde nesta tentação de Satanás. Foi uma zombaria a Cristo e da sua obediência. Foi uma clara rejeição da promessa de Deus. Foi a voz triunfante dele que aparentava ter conseguido a vitória. Oh quão amargo este tipo de tentação deve ter sido! Nenhuma criatura pode entender, a não ser os que sentem a dor de tais dardos lançados por Satanás na consciência sensível dos que alegremente descansam e repousam em Deus e nas suas promessas de misericórdia.

Mas aqui devemos notar a base e o fundamento desta tentação. A conclusão de Satanás é esta: "Tu não és O eleito de Deus, muito menos seu Filho amado". A sua razão é esta: "Tu estás em dificuldades e não achas alívio". Logo, o fundamento da tentação era a pobreza de Cristo e a falta de comida, sem esperança de receber, da parte de Deus, o remédio e ao mesmo tempo o desafio à divindade de Cristo. Esta tem sido ao longo dos séculos o desafio de Satanás; Cristo não é divino.

É a mesma tentação com a qual o diabo objetou a Cristo por meio dos principais sacerdotes, quando em tormento atroz na cruz; eles gritavam: "Se Ele é Filho de Deus, deixe que desça da cruz e creremos nele. Confiou em Deus; pois venha livrá-lO agora, se de fato Lhe quer bem" (Mt. 27:40,43). Como se dissessem: "Deus liberta os seus servos dos problemas. Ele nunca permite que os que O temem sejam envergonhados. Mas vemos este homem em angústia extrema. Se Ele é o Filho de Deus, ou ainda um verdadeiro adorador do Seu nome, Deus o livrará desta calamidade. Se não O livra, mas permite que pereça nesta angústia, então é um sinal seguro de que Deus O rejeitou, como hipócrita, que não terá porção de sua glória". Assim, Satanás tem oportunidade para tentar e também para mover outros a julgar e condenar os filhos, os guerreiros de Deus, em função de que lhes sobrevêm muitas angústias.

Aprendamos, agora, com quais armas devemos lutar contra tais inimigos e assaltos, na resposta de Jesus: "Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus".

A resposta de Cristo prova aquilo que estivemos a mencionar antes, pois a menos que o propósito de Satanás tenha sido demover Cristo de toda esperança na providência misericordiosa de Deus concernente a Ele, naquela sua necessidade, Cristo não respondeu diretamente às palavras de Satanás: "ordena que estas pedras se transformem em pães" (Mt.4:3). Mas Jesus Cristo, percebendo a sua astúcia e malícia subtis, respondeu diretamente ao significado delas, não dando crédito às suas palavras. Nesta resposta Satanás foi tão frustrado, que teve vergonha de replicar além, sobre este assunto.

Mas para que entendamos melhor o significado da resposta de Cristo, a expressaremos por outras palavras: "tu insistes", Cristo diria, "em trazer ao meu coração dúvida e suspeita com relação à promessa de meu Pai, que foi publicamente proclamada no meu batismo, por causa da minha fome e da carência de toda provisão carnal. Tu és audacioso em afirmar que Deus não cuida de mim. Mas és um enganador e sofista corrupto, e teu argumento é vão e repleto de blasfémias; pois vinculas o amor, misericórdia e providência de Deus, a ter ou carecer da provisão carnal, o que não nos é ensinado em nenhuma parte das Escrituras de Deus, mas antes, elas expressam o contrário.

Como está escrito "Nem só de pão...", ou seja, a vida e a felicidade do homem não consistem na abundância de coisas concretas, pois a possessão delas não abençoa ou torna feliz o homem, nem a falta delas é a causa da sua miséria final; mas a vida do homem consiste em Deus e nas suas promessas, e os que nelas se apegam sinceramente, viverão a vida eterna. Pois Deus tem meios para alimentar, preservar e manter, ignorados pela razão humana e contrários ao curso comum da natureza. Ele alimentou o seu povo Israel no deserto quarenta anos sem provisão humana. Ele preservou Jonas no estomago do grande peixe e manteve e guardou os corpos dos seus três filhos (Sadraque, Mesaque e Abede-Nego) no fogo da fornalha.

A razão e o homem natural não viam saída nestes casos, a não ser destruição e morte, e julgariam que Deus havia retirado o Seu cuidado destas suas criaturas; e todavia, sua providência foi mais zelosa em relação a eles no limite dos perigos que enfrentaram, dos quais Ele os libertou de tal forma (e durante os assistiu), que sua glória, que é sua misericórdia e bondade, apareceu e sobressaiu-se mais, depois dos seus problemas, do que se eles tivessem sucumbindo neles. E por esta razão, eu não meço a verdade e favor de Deus pelo fato de ter ou não necessidades físicas, mas pela promessa que Ele Me fez “Sou Seu Filho”.

O Pai diz o mesmo de todo quanto fielmente O serve fielmente. Assim como Ele é imutável, também o são a sua palavra e promessa, as quais, Eu creio, me apego e sou fiel, independentemente do que possa vir externamente ao corpo.

Nesta resposta de Cristo podemos discernir quais armas devem ser usadas contra o nosso adversário, o diabo, e como devemos refutar os seus argumentos, que, com astúcia e malícia, ele faz contra os eleitos de Deus. Cristo poderia ter repelido Satanás com uma palavra ou pensamento, ordenando a calar-se, como Aquele a quem todo poder foi dado no céu e na terra. Mas foi agradável à sua misericórdia, ensinar-nos como usar a espada do Espírito Santo, que é a palavra de Deus, na batalha contra o nosso inimigo espiritual. O texto da Escritura mencionado por Cristo, encontra-se no oitavo capítulo de Deuteronómio. Foi dito por Moisés, um pouco antes da sua morte, para firmar o povo na misericordiosa providência de Deus; pois no mesmo capítulo, e em outros depois deste, ele avalia a grande luta, os diversos perigos e as necessidades extremas que eles tiveram que suportar no deserto, no período de quarenta anos; e quão constante Deus tinha sido em mantê-los e em cumprir a sua promessa, conduzindo-os através de todos os perigos até a terra prometida.

E assim, este texto da Escritura responde, mais diretamente, às tentações de Satanás, pois Satanás raciocina deste modo (como mencionei antes): "Tu estás em pobreza e não tens provisão para sustentar a tua vida. Isto prova que Deus não considera e nem toma conta de Ti, como Ele faz com os seus filhos escolhidos", Jesus Cristo responde: "Teu argumento é falso e vão, pois pobreza ou necessidade não excluem a providência ou cuidado de Deus, os quais são facilmente provados pelo exemplo do povo de Israel, que no deserto, muitas vezes, necessitou de coisas necessárias ao sustento da vida e, por carecerem delas, invejaram e murmuraram.

Apesar disto, o Senhor nunca retirou deles seu cuidado e providência, mas, em conformidade ao que uma vez falou, a saber, que eles eram seu povo peculiar, e em conformidade a promessa feita a Abraão e àqueles que saíram do Egito, Ele continuou sendo seu guia e condutor, até que os colocou na tranquila possessão da terra de Canaã, não obstante a grande debilidade e as diversas transgressões do seu povo".

Assim, nós somos ensinados, por Jesus Cristo, a repulsar Satanás e os seus assaltos pela palavra de Deus e a aplicar os exemplos da sua misericórdia, mostrada a outros antes de nós, para nossa alma nas horas de tentação e nos tempos de nossas tribulações; pois aquilo que Deus faz a alguém em determinada época, cabe a todos que confiam e dependem d´Ele e nas suas promessas. Por esta razão, por mais que sejamos assaltados pelo nosso adversário Satanás, encontramos, na Palavra de Deus, armadura e armas suficientes (Efésios 6:10-13).

A principal astúcia de Satanás é atormentar aqueles que começaram a abandonar o seu domínio e a declarar inimizade contra a iniquidade, com diversos ataques, tendo como objetivo colocar nas suas consciências, divergências entre eles e Deus, para que eles não descansem e repousem nas seguras promessas de Deus. E para conseguir isto, ele usa e inventa vários argumentos.

Algumas vezes ele chama à lembrança, pecados ou comportamentos menos dignos para nos afastar do Pai; "Não tomo prazer na morte do que morre, diz o Senhor Jeová; convertei-vos, pois, e vivei." Ezeq. 18:32. Satanás está pronto para nos subtrair as benditas promessas de Deus. Deseja arrebatar da alma toda centelha de esperança e todo raio de luz; mas não lhe deveis permitir fazê-lo. Não deis ouvido ao tentador, mas dizei: "Jesus morreu para que eu pudesse viver. Ele me ama e não quer que eu pereça. Tenho um compassivo Pai celeste; e, conquanto tenha abusado de Seu amor e dissipado as bênçãos que me concedeu, levantar-me-ei, e irei a meu Pai, e direi: 'Pai, pequei contra o Céu e perante Ti. Já não sou digno de ser chamado Teu filho; faze-me como um dos Teus trabalhadores.'" A parábola vos diz como será recebido o transviado: "Quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão, e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço, e o beijou." Luc. 15:18-20.

Mas mesmo esta parábola, terna e comovedora como é, não consegue exprimir a infinita compaixão do Pai celestial. O Senhor declara por Seu profeta: "Com amor eterno te amei; também com amorável benignidade te atraí." Jer. 31:3. Enquanto o pecador está ainda distante da casa paterna, esbanjando os seus bens em terra estranha, o coração do Pai anela por ele; e cada desejo de voltar a Deus despertado na alma, não é senão o terno instar de Seu Espírito, solicitando, suplicando, atraindo o extraviado para o amante coração paterno.” Caminho a Cristo pp. 53,54.

Frequentemente Satanás traz ao nosso pensamento a ingratidão em relação a Deus e nossas presentes imperfeições. Através de doença, pobreza, ou pela perseguição, ele pode alegar que Deus está zangado e não temos a importância aos Seus olhos.

Ou pela cruz espiritual, que poucos sentem e menos ainda entendem a sua utilidade e proveito, ele poderia levar os filhos de Deus ao desespero e, através de infinitos meios mais, ele anda ao redor como um leão que ruge, para minar e destruir a nossa fé.

Mas é impossível para ele prevalecer contra nós, a menos que nós, obstinadamente, nos recusemos a usar a proteção e a arma que Deus tem oferecido.

Os que estão apaixonados por Deus não podem deixar de amar, a menos que nunca O tenham amado. Buscar pelo nosso Defensor quando a batalha estiver mais acirrada, pois os soluços, gemidos e lamentações de tal luta (vencer o medo, as súplicas por persistência), são a busca incontestável e certa de Cristo nosso campeão. Não recusamos a arma, embora algumas vezes, por debilidade, não a usemos como devêssemos. É suficiente que os nossos corações sinceramente clamem por força maior, por persistência e pelo livramento final de Cristo Jesus.

A casa queimada
Um certo homem saiu em uma viagem de avião. Era um homem temente a Deus, e sabia que Deus o protegeria. Durante a viagem, quando sobrevoavam o mar um dos motores falhou e o piloto teve que fazer um pouso forçado no oceano. Quase todos morreram, mas o homem conseguiu agarrar-se a alguma coisa que o conservasse em cima da água. Ficou boiando à deriva durante muito tempo até que chegou a uma ilha não habitada. Ao chegar à praia, cansado, porém vivo, agradeceu a Deus por este livramento maravilhoso da morte. Ele conseguiu se alimentar de peixes e ervas. Conseguiu derrubar algumas árvores e com muito esforço construiu uma casinha para ele. Não era bem uma casa, mas um abrigo tosco, com paus e folhas. Porém significava protecção. Ele ficou todo satisfeito e mais uma vez agradeceu a Deus, porque agora podia dormir sem medo dos animais selvagens que talvez pudessem existir na ilha. Um dia, ele estava pescando e quando terminou, havia apanhado muitos peixes. Assim, com comida abundante, estava satisfeito com o resultado da pesca. Porém, ao voltar-se na direção de sua casa, qual tamanha não foi sua decepção, ao ver sua casa toda incendiada. Ele se sentou em uma pedra chorando e dizendo em prantos:- Deus! Como é que o Senhor podia deixar isto acontecer comigo? O Senhor sabe que eu preciso muito desta casa para poder me abrigar, e o Senhor deixou minha casa se queimar por completo. Deus, o Senhor não tem compaixão de mim?

Neste mesmo momento uma mão pousou no seu ombro e ele ouviu uma voz dizendo:- Vamos rapaz? Ele se virou para ver quem estava falando com ele, e qual não foi sua surpresa quando viu em sua frente um marinheiro todo fardado e dizendo:- Vamos rapaz, nós viemos te buscar...- Mas como é possível? Como vocês souberam que eu estava aqui?- Ora, amigo! Vimos os seus sinais de fumaça pedindo socorro. O capitão ordenou que o navio parasse e me mandou vir lhe buscar naquele barco ali adiante. Os dois entraram no barco e assim o homem foi para o navio que o levaria em segurança de volta para os seus queridos.

MORAL DA HISTÓRIA - Nem sempre vamos entender o modo como nosso Criador, Jeová, age em nosso favor, mas podemos confiar que Ele está sempre visando nossos melhores interesses, não só nesse sistema, mas pra eternidade!

Aquilo que carecemos, a Sua suficiência supre; pois é Ele que luta e triunfa por nós.

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