Lucas 12:31
Há umas semanas o meu filho, nora e netos que vivem nos Estados Unidos, vieram passar 3 semanas de férias a Portugal. Alguns dias foram passados numa pequena casa que temos numa aldeia. Sendo tão raro encontrarem os familiares, há a tradicional troca de prendas. Os meus netos ficam ansiosos de poder abrir os presentes, este ano o ritual repetiu-se, a família esteve reunida e eles lá receberam os tão ansiados presentes. Quando a família parte, eles pedem ao pai para os ajudar a abrir e eu procuro um livro sento-me por ali e leio descontraidamente.
A determinada altura percebi que pai e filhos jogavam animadamente e ouço o meu neto de 7 anos dizer: “Já tenho uma estação de caminho-de-ferro e casas na rua mais importante”. Parei de ler e vi que tinha um monte de notas/dinheiro à frente e assumia o papel de rico, parecia o Tio Patinhas.
Perguntei o que era aquilo e responderam que era o monopólio e que estavam todos ricos. Aborrecido, fiz-lhes sentir que eles deveriam ter pensado em mim. O meu neto mais novo, 4 anos, respondeu: “Isto é a fingir.”
Lembrei-me de Lucas 12:16-21.
Também ele estava eufórico com tudo quanto tinha ganho, porque não entendeu que era a “fingir” Jesus chama-lhe “insensato”.
Ele parece um homem decente, este agricultor rico. Suficientemente astuto para conseguir lucros, suficientemente sábio para aproveitar um bónus. Tanto quanto sabemos, fez a sua fortuna honestamente. Não é feita qualquer menção a exploração ou fraude. Pôs o talento que Deus lhe dera em acção para ganhar dinheiro e foi bem-sucedido. Abençoado com sucesso, resolveu aprender uma lição com a fábula da cigarra e da formiga.
A cigarra, como sabemos, perguntava-se porque trabalhava tanto a formiga durante o verão. “Porque é que não vens conversar comigo em vez de labutares assim?” A formiga explicou-lhe o seu labor: “Estou a contribuir para armazenar comida para o Inverno, e recomendo-te que faças o mesmo.” Mas a cigarra preferia saltitar a trabalhar. Por isso, enquanto a formiga se preparava, a cigarra brincava. E quando o Inverno trouxe os seus ventos enquanto a cigarra ficava numa esquina com um cartaz que dizia: “Aceito qualquer trabalho. Começo já.”
O magnata da história de Jesus não queria representar o papel da cigarra. Filas da sopa dos pobres não eram para ele. Nem para nós. Simpatizamos com o agricultor produtivo. Na verdade, queremos aprender algo com o seu sucesso. Será que escreveu um livro (Celeiros Maiores para a Reforma)? Dará seminários (Tornar o Seu Celeiro à Prova de Crise em Doze Passos”)? O armazenador de celeiros não é um modelo de planeamento responsável? E, não obstante, Jesus coroa-o com um chapéu pontiagudo de orelhas de burro.
O que é que ele fez mal? Jesus responde povoando três parágrafos com um enxame de pronomes pessoais. Releiamos o espírito da parábola, reparando no espírito do investidor: Lucas 12:18-19.
Este homem rico habitava numa casa de espelhos apenas com uma divisão. Olhava para norte, sul, este e oeste e via o mesmo indivíduo: ele próprio. Eu. Eu. Meus. Eu. Eu. Eu. Meu. Meu. Eu. Mim. Não há deles. Não há vós. Apenas eu. Mesmo quando dizia tu, falava para si mesmo. “Tu” tens muitos bens em depósito.”
E assim fez. Armazenou o suficiente para poder beber, comer e descansar. Mudou-se para a rua principal da sua cidade. Uma moradia com cinco quartos, perto do clube. Verificou a sua conta bancária, agarrou no fato-de-banho e mergulhou na piscina das traseiras. Infelizmente, esquecera-se de a encher com água. Bateu com o crânio no cimento e acordou na presença de Deus, que estava tudo menos impressionado com o seu currículo. “Insensato! Nesta mesma noite, vai ser reclamada a tua vida; e o que acumulaste será para quem?” v. 20.
O louco rico dirigira-se à pessoa errada (pôs-se a discorrer”) e fizera a pergunta errada (Que hei-de fazer?). o seu erro não foi ter planeado mas, antes, não ter incluído Deus nos seus planos. Jesus criticou não a opulência do homem, mas a sua arrogância; não a presença de objectivos pessoais, mas a ausência de Deus desses objectivos. E se ele tivesse levado o dinheiro à pessoa certa (Deus) com a pergunta certa (“Que queres que faça?”)?
A acumulação de riqueza é uma defesa popular contra o medo. Como receando perder os nossos empregos, a assistência médica, os benefícios na reforma, amontoamos posses, pensando que, quanto mais tivermos, mais seguros estaremos. A mesma insegurança motivou os construtores da Torre de Babel. As nações que se espraiaram depois do Dilúvio decidiram juntar esforços. Génesis 11:4.
Não é difícil de detectar o medo nestas palavras? As pessoas receavam ser espalhadas e separadas. No entanto, em vez de se voltarem para Deus, voltaram-se para as coisas. Acumularam e amontoaram. Coleccionaram e construíram. Notícias dos seus esforços chegariam aos céus e manteriam os inimigos à distância. O lema da cidade de Babel era o seguinte: “Quanto mais amealhardes, mais seguros estarás.” Por isso, amealharam.
Carregaram pedras e cimento e tijolos e fundos de garantia mútua e planos de poupanças reformas e depósitos a prazo. Acumularam pensões, posses e propriedades. A torre de coisas tornou-se tão alta que ficavam com dores no pescoço ao observá-la.
“Estamos seguros!” Anunciaram na cerimónia de inauguração, enquanto cortavam a fita.
“Não, não estão”, corrigiu Deus. e os construtores de Babel começaram a balbuciar. A cidade de uma só língua tornou-se a confusão de linguísticas que são as Nações Unidas sem os intérpretes. Não invoca Deus uma correcção idêntica hoje em dia?
Criamos taxas e fundos de investimento. Confiamos em anuidades e pensões ao ponto de o nosso humor depender dos extractos de conta. Depois, porém, chegam as crises como a que atingiu o Banco de Negócios português, ou o Banco Popular e vemos pessoas a clamar que perderam tudo, a ameaçar tudo e todos, ameaçam e alguns chegam a vias de facto tiram a própria vida.
Vem um colapso económico. Vem um temporal e destrói toda a agricultura. A fruta, os legumes, os proprietários ficam arruinadas. O medo nunca foi conhecido por ser lógico.
Se não houvesse Deus, guardar coisas seria a única resposta apropriada a um futuro incerto. Mas Deus existe. E este Deus não quer os Seus filhos confiem no dinheiro. Respondeu à loucura do homem rico com uma torrente de apelos “Não temais”. “Não vos preocupeis quanto à vossa vida, com o que haveis de comer, nem quanto ao vosso corpo, com o que haveis de vestir (…) Não vos inquieteis com o que haveis de comer, nem quanto ao vosso corpo, com o que haveis de vestir (…) Não vos inquieteis com o que haveis de comer ou beber, nem andeis ansiosos” (Luc. 12:22,29).
Não sigamos o caminho do desajeitado rico que tinha muito em termos financeiros mas era pobre no sentido espiritual. (Lucas 12:32). É a única altura em que Jesus nos chama o seu “pequenino rebanho”. A discussão de provisões impele este cuidado pastoral.
A minha tia mais nova, foi a minha melhor amiga quando eu tinha os meus dez anos. O meu avô materno tinha um grande rebanho de ovelhas. Recordo um dia ter ido com a minha tia ver como estavam as ovelhas, cavalgar ao lado dela era por si só um regalo para mim. Um dia ao longe parecia que havia um tufo de algodão ao aproximarmo-nos uma ovelha estava presa de costas na valeta de uma estrada de terra batida e não conseguia levantar-se.
Quando a minha tia a viu, desmontou, olhou para mim e riu-se. “Não são os animais mais inteligentes que existem.” E endireitou a ovelha, que desatou a correr.
Nós também não somos os animais mais inteligentes que existem. No entanto, temos um pastor que nos voltará a pôr de pé. Como um bom pastor, não nos deixará nus ou com fome. “Nunca vi o justo abandonado nem os seus filhos a mendigar pão” (Sal. 37:25).
Dar deveria caracterizar os filhos de Deus. Desde a primeira página das Escrituras, é apresentado como um Criador filantropo. Produz pluralidades: estrelas, pássaros e animais. Cada presente é plural, múltipla, um conjunto. Deus gera Adão e Eva e, “abençoando-os”, disse-lhes para seguirem o Seu exemplo. “Crescei e multiplicai-vos” (Gén. 1:28).
Não foi o Tio Patinhas quem criou o mundo; foi Deus.
O Salmo 104 celebra a Criação abundante com vinte e três versículos de bênçãos enumeradas: os céus e a terra, as águas e os rios e as árvores e as aves e as cabras e o vinho e o azeite e o pão e os homens e os leões. Deus é a fonte de “inúmeros seres, animais grandes e pequenos. (…) Todos esperam de ti que lhe dês comida a seu tempo” (vv. 25,27).
E Ele dá. Deus é aquele que dá. Aquele que sustenta. A fonte de todas as bênçãos. Absolutamente generoso e completamente confiável. A mensagem que ecoa e é repetida nas Escrituras é clara: Deus tem tudo. Deus partilha tudo. Confiemos n´El, não em coisas!
1ª Timóteo 6:17-19.
Nós, cada um de nós somos um dos “ricos deste mundo”? se tem os recursos e a educação para ler a Bíblia, é um rico. Quase metade do mundo, mais de três mil biliões de pessoas, vive com menos de 2 euros por dia. Se recebemos mais do que isto, então somos ricos, e a nossa prosperidade exige uma maior vigilância.
“A adversidade pode ser dura para um homem”, escreveu Thomas Carlyle, “mas, por cada cem homens capazes de suportar a adversidade, há apenas um capaz de suportar a prosperidade”.
A abundância de posses consegue eclipsar Deus, por mais escassas que sejam essas posses. Há uma progressão previsível da pobreza para o orgulho. O pobre ora e trabalha; Deus escuta e abençoa. O humilde torna-se rico e esquece Deus. o pobre fiel torna-se orgulhoso e rico. Como Deus disse através de Oseias, “chegados às pastagens, e, uma vez fartos, encheram de orgulho o coração e esqueceram-se de mim” (Oseias 13:6). O homem rico e orgulhoso falha perante o julgamento de Deus. Como podemos evitar isto? Como podemos sobreviver à prosperidade?
Que não sejam orgulhosos…Não pensemos, por um instante que seja, que somos de alguma forma responsáveis pelo que acumulámos. As Escrituras são claras quanto a isto. Acções, dinheiro e ouro?
Deut. 10:14
1 Crónicas 29:11
Ageu 2:8
O rico insensato na história de Jesus não compreendeu isto. A sábia que Jesus viu no templo compreendeu. Marcos 12: 42-44.
Sal. 49:16-20
Deus tem tudo e tudo nos dá para que gozemos. É um bom pastor para nós, o seu pequeno rebanho. Confiemos nele, não em coisas. Afastemo-nos do medo da escassez para o conforto da abundância. Menos acumular, mais partilhar. “Fazei o bem …sede ricos em boas obras, prontos a dar, dispostos a partilhar.”
E, sobretudo, substituamos o receio do Inverno que se aproxima com a Fé em Deus. afinal, é apenas dinheiro a “fingir”. E regressa todo à caixa quando o jogo termina.
Pr. José Carlos Costa
Sem comentários:
Enviar um comentário